22 - Assassinos de aula

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Passaram-se alguns dias desde o ano novo, e estávamos de volta as aulas, que tem sido bem normais. Agora sem as aulas de Adam eu tinha mais tempo para fazer as lições e minhas notas estavam melhores do que já eram, além de ter mais tempo para descansar.

Meu pai apareceu alguns dias, mas por incrível que parecesse ele ficou na dele. Eu evitava fazer qualquer tipo de contato, mas vez eu outra ele me obrigava a buscar mais cervejas. Gritava algumas vezes, mas não se levantava. Não sabia se ele agora tinha medo de tocar em mim depois do que aconteceu, ou se eu só estava com sorte. Mas de todo jeito, era melhor que eu esperava.

Na quinta-feira da semana seguinte eu levantei super atrasada. Troquei de roupa e corri até a escola o mais depressa que pude, sem nem tomar café da manhã. No caminho vi que Adam tinha me mandado várias mensagens dizendo que queria conversar comigo, estávamos sem nos falar desde a minha festa de aniversário, depois de me devolver o diário. Eu imaginava que ele queria novamente se desculpar, mas eu estava o ignorando por ainda estar magoada com a situação. Mandei um áudio dizendo que estava atrasada e depois responderia, mas ao chegar no portão da escola o notei parado em frente a sua moto.

- Finalmente – ele disse

- Não vai entrar? – Perguntei me aproximando e arrumando a alça da mochila em meu braço

- Não, hoje não. E nem você – falou simplesmente me estendendo o capacete

- Como assim eu não vou, seu doido, preciso entrar – protestei

- Vai Mica, a gente precisa conversar. Fiquei sabendo que hoje vai ter um treinamento de alarme de incêndio, vai durar metade da aula. Vamos, vai – estendeu o capacete mais uma vez em direção as minhas mãos.

- Okay – concordei já que ele não desistiria, e prendi meu cabelo em um coque antes de colocar o capacete.

Subi na moto e Adam deu partida. Eu não fazia ideia da onde estávamos indo, passamos por ruas que eu desconhecia. Andávamos a uma maior velocidade na estrada, e eu sentia a paz do vento batendo no meu rosto. Quando chegamos notei ser uma praia deserta longe da estrada. Paramos a moto em uma vaga ao longo da calçada e fomos andando em direção a água. A paisagem era linda, a praia sem ninguém com o clima frio parecia uma pintura de outono. A agua azulada parecia tão fria quanto o vento, a areia clara que entrava no meu tênis incomodando meus pés, e o céu nublado dava um toque de inverno na paisagem. Nos sentamos perto de umas rochas no meio da areia acinzentada e ficamos em silencio por algum tempo.

- O que você queria falar comigo? – Perguntei

- Eu não sei, queria falar com você muita coisa, mas não sei arrumar tudo numa lista entende? Tem muita coisa engasgada aqui. – Ele falou olhando para o mar, e pausadamente continuou – eu sinto falta da nossa amizade, e eu to preocupado com você, com tudo que aconteceu, com a morte da Grace, aquilo foi horrível e desculpa de novo por ter lido seu diário...

- Eu não preciso que se preocupe comigo – eu estava revelando minha raiva e minha tristeza. Não queria falar sobre minha mãe, nem o que aconteceria com meu pai, e saber que Adam sabia de tudo isso doía tanto que só piorava tudo dentro de mim

- Mas eu me preocupo!

– Olha só, Adam, não precisa fingir que se importa comigo pra parecer uma boa pessoa, ok? – Disse com a voz levemente embargada – não preciso da sua caridade

- O que? Qual é, Mica! - Sua voz estava calma, mas parecia querer falhar como se realmente estivesse chateado - Não fala como se eu nunca tivesse me importado com você

- E quando você se importou? Me diz! Enquanto você concordava com tudo que o Matheus dizia de mim? Enquanto você era uma pessoa escrota que zoava todo mundo pra se achar o melhor? Se você ta tentando buscar desculpas pra ser alguém melhor eu até entendo, mas não me use de muleta pra essa sua experiência de personalidade!

Lembranças Perdidas De Uma Garota QualquerWhere stories live. Discover now