19 - Adam perspectiva: Pega no meu taco

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Ter visto aquela cena mexeu com a minha cabeça, ainda mais depois de ter lido seu diário. Eu estava muito cauteloso no que falava a seguir quando conversávamos sobre isso, já que não queria piorar as coisas ou parecer rude com Micaela. Saber que seu pai a agredia frequentemente não era uma informação fácil de lidar, ainda mais sabendo que não havia muito a se fazer a respeito, e Mica não parecia querer ajuda nisso.

Eu queria ter podido fazer mais do que socar aquela cara imunda do seu pai. Eu penso que por um segundo eu queria que tivesse matado ele, para que Mica nunca mais ficasse em suas mãos. Com certeza se ela tivesse com o diário haveria mais mil palavras e desenhos horrendos sobre o que aconteceu. Será que ela escreveria sobre mim? Eu pensava. Será que ela considerou por um momento a minha ajuda como algo bom? Ou estava amedrontada por eu tê-la visto assim? Ela se encolhia quando eu a olhava, não nos olhos, por que não era capaz, mas para as suas marcas.

As semanas se passaram. Estava atônito para as conversas com meus amigos e eu ignorava tudo que Matheus falava por algum motivo. Talvez fosse por ter lido algumas implicâncias que Matheus tinha com Mica em seu diário, desde jogar bolinha de papel na garota até chamá-la de esquisita em suas conversas nada discretas. E eu sabia que Mat realmente era um babaca com todo mundo, achando que era engraçadão, mas agora eu vejo que não havia graça alguma em zombar das pessoas, e percebo o quão sujo eu fui por fazer o mesmo.

Mat tinha uma mania bizarra de tratar mulheres como prêmios. Era como se ele colecionasse todas as minas que já tinha ficado como um troféu, e se vangloriava por isso, o que antes parecia legal, ele fazia parecer um objetivo em comum dos caras, mas era só Matheus sendo um babaca machista. Mas eu não sabia o que fazer em relação a nossa amizade.

Matheus me ajudava muito quando meus pais começaram a brigar, me deu a maior força para ignorar e superar aquilo. Ao mesmo tempo que me entretia com suas merdas. Hey cara, vamo pichar um muro, vamo numa festa, vamo f1, vamo comer umas mina, vamo matar aula. Era sempre assim. E por ele se fazer de bom amigo a maior parte do tempo eu achava que ele queria meu bem, que fazendo isso eu superaria essa fase ruim que tanto me atormentava. Mas eu continuava me sentindo vazio.

Era confuso pensar que talvez a pessoa que mais me apoiou quando eu precisei fosse a pior pessoa do mundo com o resto das pessoas. O que adiantava Mat ser legal comigo se não tinha caráter nenhum? E a ideia de que talvez eu tivesse ficado igual a ele me causava arrepios.

O que era diferente quando eu, Lucas, Mica e Laura éramos amigos. Quando tínhamos um problema nós conversávamos sobre, e depois comíamos um pote de sorvete com brigadeiro e pipoca. Eu me sentia verdadeiramente bem. Aquilo renovava minhas energias e não as sugava mais. Era disso que eu tinha falta. Foi essa sensação que Mica me trouxe de volta, simplesmente sendo ela e me fazendo enxergar que eu não era mais a mesma pessoa. Quantas mascaras eu estava usando até agora? E quantas vezes eu fui eu mesmo? Quantas vezes eu fiquei com alguma mina que eu realmente gostava e queria ficar? Era difícil responder que nenhuma vez eu fiz algo verdadeiro em tanto tempo.

Pela primeira vez em muito tempo eu estava pensando em admitir que eu precisava de nós quatro juntos de novo, mas não sabia como.

Na quinta depois do fim da aula de química, o Sr Willians pediu para que eu ficasse na sala enquanto todos saiam. Mica fez um sinal positivo com as mãos timidamente, como se me desejasse boa sorte.

- Bom, você conseguiu rapaz. – Ele disse sem rodeios

- Conseguiu o que? – Perguntei já imaginando do que ele falava

- Voltou para o time. Conseguiu um A- no último teste. E falei com os outros professores e suas notas também estão boas nas outras disciplinas.

- Ah meu deus, consegui

- Meus parabéns Sr Lombardi – falou pegando seus livros e saindo da sala

Eu consegui, realmente consegui. Estava de volta no time. Eu nem acreditava.

Mandei uma mensagem para a Mica agradecendo suas aulas e dizendo que havia voltado ao time graças a sua ajuda. E que ainda a pagaria pelas aulas.

O primeiro jogo depois da minha suspensão seria no dia seguinte, depois da aula. A escola inteira estaria lá para nos ver jogar contra a equipe de Oregon. O dia passou rápido e no vestiário todos me davam as boas vindas novamente e parabéns. Todos estávamos empolgados para jogar e acabar com eles.

O jogo começou, estávamos todos eufóricos com a pontuação aumentando tão rápido, o placar não ficava assim desde... bom, desde que eu saíra do time. Depois de 15 minutos de jogo eu acertei a bola lançada para fora do estádio e fizemos um home run. A partida ficou com um placar de 17 a 53 para nós, meus amigos me ergueram para o alto em comemoração, junto com os gritos da torcida. Eu joguei como nunca.

Assim que sai do vestiário ainda feliz com a vitória notei Laura e Mica saindo da arquibancada. Se eu não soubesse o que tinha acontecido nem notaria os roxos no pescoço de mica, que estavam bem fraquinhos quase invisíveis agora. Ela estava sorrindo com laura, com uma aura pura e contagiante. Era bom vê-la feliz.

- Ei, Micaela, espera – gritei sobre a multidão que saia junto – toma, sua grana, passei no banco ontem – falei retirando da mochila a carteira e pegando o dinheiro de suas aulas.

- Ah, valeu – falou simplesmente. Ela ainda parecia tímida e baixou os olhos para o bolinho de dinheiro que colocou na mochila.

- Eu que agradeço, se não fosse por você eu não teria voltado pro time. Bom... eu tenho que ir. – Me despedi e virei para ir embora.

Os dias foram se passando e eu senti falta deter aulas com Mica. Sentir aquela calma de saber que tinha alguém com quempodia ser eu mesmo. As férias de natal estavam cada vez mais próximas,acompanhados cada vez de mais vitorias do time, juntamente com a neve quecomeçava a cair.

Lembranças Perdidas De Uma Garota QualquerDonde viven las historias. Descúbrelo ahora