"Capítulo V" Ensinamentos Para Hannah

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Haras, dava os ensinamentos para a filha. Hannah tinha uma pele branca e de uma maciez de uma deusa, cabelos parecidos com o da mãe, encaracolados ruivos, mas o dela era num tom de vermelho fogo, até as sobrancelhas eram ruivas. O pai dela era ruivo, o que deu uma forte puxada na tonalidade, devido aos genes dos dois. Os olhos negros como a noite sem lua, tinham a suavidade no olhar e a imensidão de sentimentos para serem desfrutados... Os dias se passavam na cabana numa imensidão de ensinamentos, esses mesmos que um dia Tenjia ensinou para Haras e agora chegara a vez da sua filha aprender. Hannah ia entrar para a sociedade das damas da noite no próximo ano, sua filha amada seguiria para o castelo no meio das montanhas geladas que ficavam na divisa da gelada Espanha. A menina tinha curiosidade e não deixava nenhuma palavra sem anotação, tinha sabedoria nas perguntas:

— Como as mulheres se tornam deusas? Ou elas já nascem assim mamãe?

— Raríssimas nascem com essa característica. A maioria demora para conquistar essa condição... Umas mais, outras menos.

— E como é esse processo? Existe uma receita?

— Vou lhe contar como vejo a maioria se formar - declarou. Por serem mais emotivas, as mulheres passam a juventude procurando pelo príncipe encantado. Casam-se empurradas pelos pais. Mas, em pouco tempo, descobrem que o casamento foi um feitiço que transformou seu príncipe encantado num sapo - concluiu.

— Ah! Mas as mulheres, se desencantam no físico durante o casamento, deixam de apreciar-se durante o casamento. Ela riu da atitude da menina, ela admirava o tanto de conhecimento que ela trazia...

— É impossível não se estragar estando casada com um sapo, não acha?

— Apesar da decepção com a vida conjugal, as mulheres tentam manter a situação, pois sabem que existe uma pressão ainda maior sobre as separadas, ainda mais se tiverem filhos pequenos. Assim, muitas se conformam e passam a se dedicar totalmente às 59crianças. Anulam seus desejos, deixam de se cuidar, sufocam seus sonhos e se atrofiam. Nosso tempo difere dos demais, mas chegará uma época que tudo mudará.

— Ser mãe é padecer no paraíso... você e tia Tengia falar. Sinceramente, não quero estar vivendo na terra nessa época.

— Filha, o progresso é inevitável, mas também temos que ver que muitas influências de homens ricos, são extremamente marcadas na sociedade, fazendo se a favor ou contra todos. O dinheiro sempre foi e será perdição dos homens, uns escravizam, enquanto outros são escravizados. — Mas voltando para o casamento... Quando se chega a este ponto, os maridos procuram em outras mulheres o brilho que suas esposas já não exibem mais. O relacionamento torna-se falso, leviano e doloroso. Os sentimentos afetivos do início são substituídos por medo, culpa, cobrança e insegurança. Transformam-se em inimigos declarados, obrigados a conviverem na mesma casa.

— É horrível isso mamãe.

— O mais inacreditável é que muitos casais conseguem sustentar esta situação até o fim de suas vidas. É uma prova da fantástica adaptação dos seres humanos aos ambientes hostis. Em alguns casos, o relacionamento torna-se tão insustentável que não resta outra alternativa senão a separação dos corpos, ou 60fingem morar na mesma casa, vivem de aparência. Daí, a mulher sofre muito, principalmente porque desconhece sua força. Esse é o ponto crucial. É nessa fase que ocorre o despertar de muitas mulheres - concluiu.

— Como? Perguntou.

— Após a separação, algumas mulheres se desesperam e deixam suas vidas murcharem. Outras, entretanto, passada a fase da tristeza, descobrimento do seu potencial, desabrocham, tornam-se independentes e seguras. Percebem como eram frágeis as correntes sociais que as restringiam... Evoluem, como borboletas que emergem de seus casulos. As mulheres que se considera como deusa e percebe que a maioria tem percorrido exatamente o caminho descrito.

— Então não existem deusas casadas? - perguntou.

— Claro que existem, e tem muitas que mesmo dentro casamento, se tornam mulheres maravilhosas e fortes, não é casamento que estraga a vida, é a forma que vivem. Um querendo outra mudança, já não querem mais aquele ou aquela que foi antes do casamento, tentam moldar ao seu bel-prazer. Tem maridos que querem a felicidade na íntegra e sabe que para ter isso, precisa que cada um seja verdadeiramente como é, e posso afirmar, que não é ruim. Um casamento assim é durável, devido ao respeito individual para com o outro... —Ótimo. Quanto mais deuses e deusas, melhor.

— Mas posso garantir, que o dia em qualquer âmbito da vida, todos se respeitassem, a felicidade viria naturalmente, o fato de querer ser o que não é, inicia aí uma tremenda dor, e fim inicia a cada dia.

— Preciso pensar melhor sobre isso — admitiu.

— Não sabia que você era contra o casamento, mamãe - comentou.

— Não sou contra o casamento. Quis me casar. Aliás, se não fosse a vontade de casar, você não estaria aqui, mas não deu certo, o casamento e eu não daria certo para eu ser a bruxa que sou - disse, piscando para ela.

— Mas você acabou fazer eu entender que o casamento é asfixiante e em seguida diz que não é contra... Não entendo - resmungou.

— É porque você insiste em ver as coisas por um único ponto de vista. Não existem coisas boas nem ruins. É tudo uma questão de perspectiva.

— Só gostaria de saber sua opinião sobre o casamento - insistiu.

— A vida do casal geralmente não funciona porque acaba com uma negociação saudável que precisa existir entre homens e mulheres.

— Como assim? - perguntou.

— Os homens oferecem carinho, mas desejam sexo. As mulheres oferecem sexo, mas desejam carinho. Só o namoro consegue manter essa negociação equilibrada. Repare como os namorados agradam-se, trocam presentes, carinhos e aproveitam todos os momentos 62juntos. Fazem isso porque estão juntos por opção, não por obrigação. Fez uma pausa e olhou o bolo que fazia.

— Esquece que a libido é estimulada pela ação de conquistar, é um instinto primitivo como uma caçada... A convivência na mentira obrigatória sufoca o casal, a verdade da face se extingue, e ambos se tornam infelizes, sem entender qual foi o grande erro cometido -concluiu.

— E onde está o erro? - perguntou.

— No controle do outro - disparou.

— Então o controle é o culpado? - perguntou.

— Na verdade, o problema surge quando somos obrigados a nos enganar a nós mesmos do que não somos, diariamente com a mesma pessoa.

— Como só se veem periodicamente, os namorados estão sempre alegres, arrumados e perfumados. Os passeios são sempre incríveis. Qualquer oportunidade é motivo para trocar um beijo ou um carinho, e o sexo é uma delícia. Tudo é maravilhoso. Então, ficam gananciosos e querem tudo de uma vez. Mas dentro do seu conceito, começa a manipulação com elogios e vem embutido as palavras do tipo, ah você ficar mais bonita(o) assim ou daquele jeito, se fizer isso vou gostar mais... — Não sou contra o casamento. Sou contra as coisas que sufocam a aventura de estar viva(o). Infelizmente, o casamento está nessa condição. Hannah tinha seis anos, mas seu espirito trazia conhecimento milenar, viveu várias vidas na terra e os conhecimentos ficaram no subconsciente guardado como uma "maletinha" que guarda o que aprendeu nas vidas passadas. Haras sabia ser mãe dela, mas se fosse comparar vidas veria que Hannah era bem mais velha que ela em espírito. Hannah já fora Dama da Noite e todo conhecimento, a maturidade espiritual trazia consigo. Sabia que seria fácil transformá-la no próximo ano na iniciante da sociedade secreta. 

Dama da NoiteWhere stories live. Discover now