"Capítulo XXIX"Massacre cigano

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A vida cigana era de dias de alegria, Sarah lembravade quando tinham festas, tudo era alegria, sentia umaimensa paz vivendo entre eles, nunca soubera que alinão era sua casa. Amava os pais que a criaram, elembrava com dor no peito o dia que fugiu do grupo,Os ciganos tinham sido denunciados por alguém, apolícia da santa inquisição entrou no acampamento comcães latindo nas cabanas frágeis de lona, assustandotodos... As carroças eram as mais altas e as duas irmãsTengia e Sarah dormiam em uma delas. De onde elasestavam , elas viam tudo ser devastados. Os mais velhosforam tratados sem o maior respeito pelos soldados,que chutavam as nádegas delas, levando seus corposmais frágeis ao chão.As comidas iam sendo espalhadas ao chão , aospertences sendo amontoados em uma fogueira ao centro  do acampamento. "As crianças menores choravam, osgritos que se escutavam faziam nossos corações tremer,eu temia pelos meus pais, que caídos ao chão, não selevantavam, vi uma crianças de dois aninhos com suachupeta na boca, andando no acampamento quando umcavalo a esmagou na terra vermelha, misturando osangue com a indiferença do soldado, que rindo seafastou dizendo: 

—Menos um imundo! Mais alguns metros mais duascrianças maiores, essas com a idade de 8 anos de mãosdadas gritavam pelos pais que já se achavam na carroçapresas para irem a santa matança da igreja. Os doisestarrecidos, congelados vendo a atrocidade a suafrente, não tinham reação, ali permaneceram até que osoldado os mataram com um tiro em cada um.Sentia meu coração querer pular pela boca, fiquei aliescondida debaixo das roupas, e assistia a tudo com umpalco de guerra. Tengia nem piscava, seus lábiostremiam, seus olhos negros como a noite, se perdiam nador do que via. Ouvimos um grito de um dos homensgritar que era para exterminar com as crianças, nãopoderia ter provas e depois por fogo em tudo, porque osadultos seriam levados e seriam sentenciado à mortepor heresia. De repente, Tengia me puxou pelo braço, eme vi do lado de fora da carroça, que estavaestacionada ao lado de um tronco de carvalho, mejogou atrás dele, e me cobriu com um a coberta escura,e depois de segundos estávamos nós duas embaixo dele. Dali assistimos o desfecho terrível do nossoacampamento. Os mais velhos que sobreviveram aomassacre, dentro de carroças feito gaiolas de ferros,alguns desmaiados.

 Os mais jovens, amarrados uns aosoutros feito uma corrente humana, caminhavam atrás dacarroça, iam sendo puxados, arrastados. os pés semforças, muitos iam sendo açoitados pelos soldados quedo alto dos cavalos tinham visão de tudo. Os gritos aolonge no meio da floresta distante da cidade era caladocom um ou outro tiro.ficamos ali, por muito tempo, a reação dos corposestava sem ação, era como se não tivéssemos pés, nadarespondia, apenas os olhos corriam em todos os cantos,ficando muitas vezes fixados em um ponto deatenção. O dia estava clareando, quando a lucidez nosabateu, a primeira que pronunciou uma palavra foiTengia:

 — Sarah, vamos embora daqui, precisamos nosproteger, aqui nada mais nos resta. Vamos procurar umlugar que conheço, lá teremos proteção. Vamos minhairmã, temos que caminhar muito pela floresta, é o lugarmais protetor que temos. matamos nossa fome com oque encontrar no meio de tanto verde. Foram diasandando por entre árvores, dormindo em cavernasjuntos com os bichos.Nos cobrimos com folhas durante a noite, pois nãotínhamos como pôr fogo, comíamos bichos das árvorescaídas, vomitava tudo e de novo comia novamente até meu estômago aceitar aquele alimento, para nos mantervivas. O frio da madrugada dentro da caverna, eraintenso, ficamos acordadas para nos manter lúcidos.Vários dias se passaram, tínhamos perdido a noçãodo tempo, nossos corpos magros se deslocavamrapidamente entre as frondosas árvores do lugar, foicom imensa alegria que víamos à nossa frente umaimensa porta de madeira escura. Tengia conhecia olugar com o ninguém, foi até um monte de folhagens epegou uma chave e entramos. 

— Chegamos Sarah, agora está segura, vamos, entresem medo, estamos entre amigas, vou te apresentar onosso lar a partir de hoje. Sarah andava puxando paratrás, tinha receio de que algo de ruim pudesse acontecerde novo. O lugar era magnífico, olhei para cima e vitorres, e grandes muralhas. Como aquele prédio eraconstruído com a intenção principal de proteçãodurante uma guerra, outros elementos eram pensados eelaborados para estes momentos. Possuíam passagenssubterrâneas para que, num momento de invasão, seusmoradores pudessem fugir. Entramos no saguão daparte interna e a cena era estonteante, ninguém quepassasse por ali perceberia tal majestosa construção. As meninas começaram a se aglomerar ao nosso redor, atéque entramos em uma sala onde tinham diversascadeiras e bem mais alto, num nível mais elevadovíamos uma senhora, de uns 40 anos, bem vestida, queveio em nossa direção.

— Sejam bem vindas, você conhece tudo aqui, leveela para os aposentos, tomem um banho , vou mandarservir uma refeição substancial para vocês, descansem,e depois me procure para contar o que aconteceu, nãotenha pressa, se refaz primeiro. 

— Obrigada Zenit, precisamos demais de descanso,foram dias até aqui, fora o trauma da situação. VamosSarah, vamos descansar.Eu estava extasiada com tudo aquilo, era tudo muitolimpo e lindo, aquelas mulheres que se acercam de nós,tinham no olhar a imensa bondade dirigida a nós, eupodia sentir nos olhos delas.Dormi por 24 horas, acredito que foi colocado algona nossa refeição, pois parecia que estava refeita detodo processo de traumático, eu lembrava como partedo passado, mas tarde descobrirá que zenit era grandeconhecedora de magia, e que havia colocadoingredientes para que ficasse calma e que o traumavivido no acampamento ficasse longe de nossasvidas. Levantei em movimentos calmos, me vesti comuma roupa que estava ali, em uma cadeira, estavalimpa, cheirava a alfazema. Me sentia bem. Fui até a janela, queria ver o lugar onde eu estava, eo que vi me entusiasmou, o sol brilhava, seus raios datarde entravam pela cortina branca e aquecia meu corpoa sua cor me dava a energia necessária para mais umdia. ao longe eu consegui ver as altas árvores dafloresta que circundava o castelo. O verde parecia um mar abaixo do céu azul.

Dama da NoiteWhere stories live. Discover now