"Capítulo XVI"-Filha e mãe

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Sarah, ao amanhecer, procurou Tengia para conversar:

— Querida, precisamos ajudar Haras, ela vai cometer algo ruim, quer vingança da filha, e pode nos pôr em situação de risco, com a bruxa, a feiticeira que envenenou Hannah.

— Sarah, penso nisso, mas não sei como devemos nos intrometer com ela, você sabe quem é mãe dela, deveríamos procurá-la, o que acha?

— Pensei nisso, a sociedade se for atacada por seres do mal, teremos problemas. Ontem segui Haras, ela foi até a casa da bruxa, e vi também que ela vai se encontrar com alguém hoje as 23:00 horas, podíamos descobrir quem é, quem sabe fazer algo.

— Está bem, vamos fazer o seguinte. Hoje de noite, vamos até à casa dela e nós colocaremos de plantão, quem sabe descobrimos algo dela, que podemos usar a nosso favor, vamos nos encontrar às 21:00 horas e seguiremos para lá, ninguém pode saber, se Haras estiver lá despistamos, não podemos deixar que nos veja.

— Certo! Se isso não der em nada, procuraremos a mãe dela. Haras olhava aquela mulher na sua frente, era a chefe das damas da noite, poucas pessoas tinham acesso a ela, vivia reclusa em seus aposentos, ela se deixava ver em palestras, ou quando algo de muito importante aconteceria na sociedade, delega ordens. Por outro lado, Zenit, olhava aquela jovem mulher na sua frente, queria abri-la, era sua filha que muitos anos atrás tiveram que deixar com Tengia, fingir um abandono para o bem dela. Agora ela está na frente dela, tão perto que se esticasse o braço tocaria sua face, mas se conteve, temia por sua reação, sabia o quanto Haras era temível entre todos, impetuosa e justa. Sempre esteve por perto ao longo dos anos, via a filha todos os dias, enquanto ela estudava, enquanto aprendia a ser a mulher que é hoje. Ela gostava da vida, sentiu orgulho dessa mulher, uma guerreira, pronta para vida, pronta para assumir seu lugar.

— Haras vim aqui, as horas não são muito apreciadas, mas vi estar com luz, preciso lhe falar, tem que tomar cuidado, com a velha (Madras).

— Quem é Madras? Ainda estava olhando os detalhes no rosto daquela que estava ali, tão perto, queria lembrar de onde conhecia aqueles olhos, sua mente a enganava...

— Madras, é uma feiticeira centenária, tem o poder da vida, você sabe de quem falo, é a bruxa que matou sua filha. Ela é perigosa e conhecedora de mágicas tenebrosas.

— Onde ela vive, por quê está contando isso para mim, o que quer que eu faça, seja mais objetiva por favor.

— Vou contar uma história, e entenderá muita coisa. Há muitos anos, eu ainda era muito jovem, contava com 17 anos, estava no ensino daqui, um dia fui passear com minha mãe na cidade, mais alguns dias o ensino se completaria e o poder seria transferido para minha tia que era direito dela. Ela era mais velha que eu há dois anos, mas a sucessão como sabe tem que ser originária de damas da noite de famílias que viveram na sociedade. Minha mãe e minha irmã, que vieram da linhagem da mãe e por aí vai. Quando estávamos indo para a cidade, era um dia chuvoso, e com a carruagem parada na estrada avistamos outra carruagem. Como aprendemos aqui, devemos fazer caridade, sem importar quem recebe, mas fazer por amor, sem querer o obrigado, e assim pedi ao cocheiro que se aproximasse, este assim o fez, pedi que fosse ver a necessidade do passageiro. Logo mais, ele voltou dizendo ter uma jovem desmaiada dentro, dando à luz. Não pensei duas vezes, desci e fui ao socorro daquela jovem. Quando entrei na carruagem havia um bebe nascido, ainda ligado ao cordão umbilical, parecia morto, era uma menina, a mãe estava morta. O que pude fazer eu fiz, cuidei da criança, cortei o cordão umbilical com os dentes, e fiz de tudo para que não morresse, até que ela começou a chorar, estava obstruído as vias respiratórias, com uma respiração boa, a boca ela voltou a vida.

— Que história, e, nessa altura me conte de uma só vez por favor, quem é esse bebê, está aqui?

— Calma deixa te contar tudo... Como não podia fazer mais nada, conversei com o cocheiro da jovem mulher, que me disse que ela estava fugindo de alguém, pegou ela na estrebaria da cidade vizinha e pediu que a levasse até a praia, lá teria familiares. Então pedi que fizesse uma cova e enterramos ela ali mesmo na mata, já que não sabíamos quem era. Saímos daquele lugar com uma recém-nascida, sem roupa, sem nada, apenas enrolada em um pedaço da saia da mãe... Cheguei à cidade, procurei o médico da cidade, ele fez o atendimento padrão para um recém-nascido e deu alta logo em seguida. Fomos até uma loja onde vendiam roupas para bebês, compramos leite... fizemos o que era necessário, ela foi criada aqui, como uma filha. Mais tarde, um dia em que eu estava na floresta, fora colher algumas plantas, senti a presença de alguém, mas não via nada. Disse para as minhas companheiras que iria buscar cogumelos na caverna e que logo voltaria, elas ficaram ali, colhendo as folhas de plantas medicinais. Ela falava com os olhos no passado, parecia viver tudo aquilo, continuou...

— Quando me afastei, um vulto de mulher, vestindo preto, envolvida em energias negras, com um véu cobria o rosto, se aproximou uns dois metros, e disse:

— Você, está com o fruto de algo proibido, me deve a morte dela;

— Do que falas, quer ser mais clara?!

— A criança que salvou, era para estar morta, assim como a mãe, você mudou o destino dela, agora me deve algo.

— Não devo nada, salvei uma vida.

— Você me deve ela, senão vai pagar, me traga ela, estava condenada e tirou o feitiço.

— Quem é você? Para falar assim comigo, quem pensa que é?

— Eu sou Madras, deve me temer, pois, sou uma feiticeira destas terras, e nada nem ninguém vai atrapalhar meus planos, essa criança que você salvou, é fruto do adultério do meu marido, ela precisa morrer, matei a mãe com veneno, e agora ela está viva, quero ela, para fazer o que você evitou.

— Não tenho medo de você, estou na luz. Você mata, e envenena, vive nas trevas, não vou entregá-la.

— Se não me entregar, ficará em dívida comigo, e um dia cobrarei pode ter certeza.

— Lembre-se que se fizer mal para alguém da minha tutela, terás o castigo vindo dos céus, se é que entende.

— Do céu, você acredita nisso, aqui na terra somos nós quem mandamos, sou poderosa, e faço o que quero. Me devolva essa maldita criança.

— Não vou devolver, e saiba que a protegerei de todo mal que vir de sua pessoa.

— Está bem, vou embora, mas um dia darei meu jeito e cobrarei isso de você, pode escrever. E assim, fez um gesto de ir embora e se voltou.

— Cuidado quando tiver filhos, pois aí voltarei e tomarei o que é meu, lembre-se sempre você me deverá. A figura escura se afastou tão rápido como chegou. Fiquei ali olhando aquele ser ir embora, e não pensava que o mal estava por vir, ou que ficaria ali, sempre vistoriando nossas vidas, que nascesse?

— E quem é ela?

— Logo você vai saber... Com o passar dos anos, a menina cresceu, se tornou uma dama da noite, de linhagem externa eu diria assim, você entende, é que são iguais as que resgatamos. Ela era boa, uma criança excelente, todas nós a amavam aqui, e cuidavam dela como se fossem mães dela. Ela se tornou a nossa monitora mais apreciada, entre todas.

— Quem é ela, está entre nós?

Dama da NoiteWhere stories live. Discover now