"Capítulo XV"A vingança arde no coração

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Os dias se passavam e Haras não esquecia de comosua filha fora morta, queria vingança. Ela lembrava damenina e o coração doía. Lembrou do pai da menina, dequanto o amou, ele demonstrava amor, mas fora tãofraco, não teve forças para romper com aquela que lhefazia mal, ia procura-lo precisava falar com ele. Vestiu seu casaco negro que lhe cobria o corpo todo, e com ocapuz, seu corpo estaria escondido, saiu as escondidas pelos fundos da sociedade. Ela não viu, mas tinha umafigura de mulher que lhe observava entre as folhagensdo corredor.

Haras deslizava sobre o caminho de pedras,ninguém sabia quem era aquela mulher que tarde danoite se fazia sorrateira pela estrada, o vento chicoteavaas árvores se envergavam, parecia com ela, firmes..Percorreu os caminhos mais sombrios, ninguém poderiareconhecê-la, a floresta foi escolhida, o caminho  entrecortados, e a escuridão, a intuição era seu guia, atéque chegou na estreita estradinha e de longe se via asluzes pisando da casa daquela que tirara sua filha e doseu antigo amor.A sombra que seguia Haras era firme como ela,tinha os mesmos ensinamentos, não temia a floresta,tinha respeito, não tinha medo da escuridão, asdominava. Andava entre as árvores, que nem se notavaos pés tocando as folhagens secas, a umidade damadrugada castigava o rosto bem feito. Quando Harasdeu entrada no minúsculo corredor do casarão, sabiaque seria difícil, mas foi firme e decidida, não veio atéali, para temer aquela bruxa do mal, ia ter com ohomem que ela considerava. A porta estava aberta,fechada apenas pelo trinco, abriu e entrou, ia comcuidado, ouviu uma voz e parou, se escondeu nosarbustos junto a cerca que rodeava o corredor. 

— Fez o que mandei? 

— Sim, senhora, ele falou que pode ir ter com ele,amanhã as 23 horas, estará a espera da suapresença. Haras ouvia tudo dali, queria saber que falavam, era ela a maldita mulher, tinha vontade deenfiar um punhal em suas costas. 

— Está certo, me encontre amanhã neste mesmolugar, vai comigo. 

— Está bem, amanhã estarei aqui. A moça comcabeça na luz bruxuleante, parecia bem jovem, ela tinhaos cabelos longos, vestia uma capa simples que lhe cobria parte do corpo. A senhora que ela conversavadeu um aceno e entrou, a moça foi em direção aestrada. Haras então pensou em seguir a moça, queriasaber quem ela era e assim o fez. Não foi muito longe,ela entrou em uma casa que ficava no vilarejo, satisfeitavoltou à casa da medonha mulher. Fez todo o percursonovamente, cautelosamente, entrou, dava para umquarto que estava cheio de quinquilharias, ficou ali,para ouvir se tinha alguém andando pelo lugar, mascomo não ouviu nada, foi até o quarto onde o pai de suafilha dormia, ele e a esposa não eram um casal quedormiam juntos, ele desde o casamento por ajustamentodos pais, viviam separados, mas ele sentia pressão delaem cima dele, e nunca pode se libertar, ela o mantinhapreso a ela...Entrou e ali, e lá estava, dormia, parecia bem maisvelho, tinha se passado 8 anos desde a última vez que oviu, quando ainda estava grávida da filha, iam fugir dali,mas ele fora fraco e não foi no dia combinado e foiquando ela fugiu para a floresta, só saindo quando suafilha morreu, envenenada por sua esposa. Olhavaaquele rosto que um dia ela amou e beijou, agora eleparecia um estranho, não sentia mais nada. Sentiu penadele, foi até a cama e do seu lado, pôs a sua mão naboca dele, precaução para caso ele gritasse. Julius,abriu os olhos e fez menção de gritar, mas calou,reconheceu a mulher que amava, como ele estavaquieto, ela tirou a mão da boca dele, que ficou ali olhando ela, estava mais linda do que nunca. Lembrava dela e sentiu saudades, e viu que foi um idiota terperdido ela, o tempo passou e ele via que sua vida nãovalia nada. 

— Olá Julius, quanto tempo! 

— Olá Haras, saudades. Ela olhou surpresa para ele,mas direcionou um olhar de indiferença para ele, elepercebeu. 

— Como vai, com sua esposa? 

— Sabes que ela não é minha mulher, não sei muitodela, quase nem nos encontramos, resolvi deixar ela nosaposentos dela, faço minhas refeições aqui, se é assimque ela quer, não tem nem minha atenção. Ela olhoucom desprezo aquele homem. 

— Não mudou nada, com tantos anos... 

— Como você está? E nossa filha? Podia me trazerela uma noite dessas para eu conhecer, ela está comsete anos e meio? Aquilo lhe revirou o estômago, elatinha vontade de chorar, ele não sabia de nada, aquelamulher fez o que fez por vingança, nunca quis ele, masnão pode conviver com a minha felicidade de ter umafilha do homem que era seu marido de mentira. 

— Agora quer conhecê-la, de onde partiu essavontade? 

— Sempre quis, só não fui com você, porqueconhece bem a Elvira(Madras), sabe que jamais saireicom vida daqui. Imagina se ela descobre que fomosamantes e tivemos uma filha, ela correria risco de vida. Aquilo fazia abrir a ferida, doer dentro dela, ele sabiade algo... 

— Por quê você está dizendo isso, ela sabe damenina? 

— Sim, sabe, ela veio falar comigo, viu você gravida,e disse que encontrou com você na praia, deduziu quejá teve filho, me perguntou se sabia de algo,respondi que não sabia de nada, nunca jogamos aberto. 

— Julius, você tem que sair daqui, tente ir para asterras dos seus familiares, procurem eles, sempre vaicorrer risco ficando aqui. 

— Não importa mais, estou velho, minha vida seperdeu. Ela sentiu pena dele, viu sua vida definhar aoscaprichos de alguém mesquinho e egoísta. 

— Bem, a vida é sua, é você quem decide se deve ounão sair daqui. Resolveu que não falaria com ele sobreo que houve com sua filha, pelo menos por enquanto. 

— O que veio fazer aqui, depois de tantos anosHaras? 

— Vem ver como estava, vou embora, mas vouvoltar, me espere! E saiu assim que entrou, ele ficouolhando aquela linda mulher, que um dia fora sua, suasentranhas doía de saudades, teve o amor dela e deixouir, agora esperava a morte, quem sabe viria logo. Harassaiu dali feito o vento, voltava pelos mesmos caminhosque veio, e era seguida, mas não via, tinha uma guardiã,que a amava. Quando entrou nos seus aposentos,passou dez minutos, um leve toque na porta a fez voltar-se, disse: 

— Entre. Uma senhora de quarenta e poucos anosdeu entrada no quarto. 

— Boa noite Haras! A jovem mulher não acreditavano que via, tinha a honra de receber em seus aposentosa senhora das damas da noite Zenit. As mulheres seolhavam, se admiravam, havia amor nos olhos de |Zenit, Haras nunca ficara tão perto dela comoagora, e parecia conhecer aqueles olhos, aqueleolhar... Num passado longe, a recordação de alguém sefazia presente, mas não podia ser.

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