CAPÍTULO 2

651 56 68
                                    

Consigo ficar até o fim da aula de História sem ter um chilique, e então vou para a aula de Trigonometria e me sento ao lado da carteira vazia da Lauren. Por algum ato de Deus - ou talvez do diabo, ainda não decidi -, a professora escolheu os lugares aleatoriamente e acabei ficando perto dela.

Há três meses e quatro dias - dia 19 de junho, para ser mais exata -, eu teria morrido de alegria se me sentasse ao lado da Lauren. Quero dizer, finalmente eu teria a oportunidade de falar com ela.

Mas é claro que ela ter se tornado a namorada da minha melhor amiga meio que mudou isso.

Eu nunca contei a Verô sobre essa minha paixonite. Se eu tivesse dito alguma coisa meses atrás, antes de ela sair com Lauren, talvez não estivesse metida nesta confusão. Mas não falei nada.

É claro que eu já tinha falado para Verô como achava Lauren bonita, como ela ficava linda de jeans, como seus olhos verdes eram maravilhosos. Mas nem em sonho eu poderia estar apaixonada mesmo por uma garota com quem mal tinha trocado seis palavras, né? O que mais eu poderia ter dito a Verô? Que eu e Lauren tínhamos uma ligação muito forte há bastante tempo, mas ela ainda não sabia?

Que eu tinha certeza, sem dúvida nenhuma, de que ela era a minha alma gêmea?

Falou. É mais fácil um pônei criar asas e voar. E é claro que a gente sempre falava como a Lauren era gostosa, mas eu nunca contei como me sentia de verdade, e foi assim.

Até o dia 19 de junho.

Talvez 19 de junho tenha sido o dia em que a Verô decidiu que não queria mais ser tímida, o momento da mudança. É mais fácil enxergar tudo agora, olhando para trás, que existe a Verônica de antigamente e a nova Verônica, e 19 de junho é o divisor de águas entre as duas.

Eu conheço a Verô melhor que qualquer pessoa no mundo, e então eu sei que, apesar de parecer tímida, depois que ela se acostuma com alguém, fica bem mais divertida. E alguém a colocou para ser parceira da Lauren no pingue-pongue, e elas passaram duas semanas jogando juntas.

Ainda acho estranho imaginar isso, mas, de alguma maneira, ela tomou coragem e convidou a Lauren para sair. Ela provavelmente vomitou as palavras com tudo e ficou vermelha, mas a convidou.

E ela aceitou.

Verô estava sorrindo de orelha a orelha quando me contou, pulando de alegria, como se tivesse ganhado na loteria.

Eu não consegui contar para ela que tinha quase certeza de que estava apaixonada por Lauren havia anos. E agora que a conheço melhor - pela Verô -, agora que eu e Lauren conversamos e brincamos na aula e ela me conta tudo sobre seus encontros com Vero, eu tenho mais certeza ainda.

Tenho mais certeza de que a gente combina muito.

Lauren é "a garota" para mim. Meu par perfeito.

O problema é que ela já tem outro par, e agora elas estão comemorando três meses de namoro. Três meses são, tipo, uma década quando a gente está no ensino médio. Eu passei a maior parte do verão naquela lanchonete imbecil, então não fui forçada a aguentar momentos lindos das duas juntas.

Graças a Deus.

Pelos próximos quarenta e cinco minutos, vou segurar a respiração, meu coração baterá descompassado, e os pelos do meu braço ficarão arrepiados. Essa é a minha vida na órbita da Lauren, e é o ponto alto de todos os dias da minha existência sem sentido.

Minha paixonite pela Lauren começou há alguns anos; no verão, depois do sexto ano. Verô e eu estávamos no Flaming Geyser, um parque estadual que fica perto da nossa cidade natal, Enumclaw, uma cidadezinha a uma hora ao sudoeste de Seattle. O parque fica ao norte do Vale de Green River, e é preciso pegar umas estradas compridas e cheias de ventania para chegar lá. O parque é cercado por pinheiros mega-altos, em que o rio é largo e corre devagarzinho, perfeito para nadar ou esquiar na água com uma boia de câmara de pneu de caminhão. Num dia quente, as margens do rio ficam cheias de carros estacionados até onde a vista alcança. Naquele dia, eu estava usando o último biquíni que comprei na vida, a parte de cima era uma cortininha minúscula cor-de-rosa com bolinhas brancas, o tipo de coisa que eu preferiria morrer a usar hoje em dia. Verô usava um maiô de velha - azul-marinho liso, o tipo de coisa que a equipe de natação da escola usaria. Naquela época, ela já vestia sutiã tamanho P, e andava com uma canga branca amarrada sobre o maiô. Eu não falei que aquilo só a deixava mais peituda ainda porque não queria que ela ficasse paranoica. Naquela época, ela era ainda mais tímida, e tinha medo de falar com qualquer outra pessoa além de mim.

Make Your Wish - CamrenWhere stories live. Discover now