CAPÍTULO 29

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— Isso é loucura. Vamos para casa — falo, pegando a mão da Hanna e tentando arrancá-la da varanda chique da casa da Becky. Quase dou um encontrão em um dos pilares brancos.

— Nem pensar — retruca ela, soltando-se.

Antes que eu consiga impedi-la, ela toca a campainha com tudo e ouço sinos elegantes tocando no corredor além da porta de folha dupla com um vidro chique todo ornamentado e as maçanetas gigantes e brilhando de tão polidas.

Meu coração vai parar na boca e, por um momento, penso em sair correndo por aquele gramado perfeito e mergulhar nos arbustos.

Mas, antes que eu consiga tirar os pés da varanda, a porta se abre.

Becky, usando uma calça jeans skinny e botas de couro preto até o joelho, com uma blusa de gola alta cor de creme, sorri para nós.

— Oi, meninas! Entrem!

Que sorriso estranho. Meio vago, meio forçado. Ela ainda não se ligou que não sou um deles, que não pertenço a este lugar.

E isso não é bom.

Porque joga pela janela minha teoria de que a Lauren poderia escolher não me beijar.

Se a Becky me convida para uma festa e não percebe que eu não deveria estar ali, a Lauren me beijará, com certeza.

Lauren me beijará.

E não há nada que eu possa fazer.

Nem percebo que estou de pé ali, totalmente muda, até a Hanna me dar um empurrãozinho em direção à porta. Olho para ela. Demorou quase uma hora, mas descobrimos como usar o babyliss para deixar os cachos dela mais relaxados. Ela usou bobes para tirar alguns cachos de cima do rosto, e o restante cai em cascatas por suas costas. Ela experimentou seis cores de sombra diferentes, e finalmente escolheu um azul mais gelado que complementa seus olhos verdes e deixa as sardas com um look exótico.

Ela está vestindo aquela blusinha decotada azul que comprei no shopping quando estávamos com o Ken, e uma calça jeans que eu nem sabia que tinha. A calça tem a boca um pouco mais aberta e ficou perfeita nela.

Os sapatos não combinam muito — um tamanco preto que eu tinha no oitavo ano —, mas ela os deixa à porta, e não faz a menor diferença.

Hanna se recusou a me deixar usar minhas roupas normais. Ela insistiu até não poder mais que eu não podia “queimar o filme dela”.

Pelo jeito, ela descobriu que o meu estilo não está, tipo, muito na moda. Ela está tão doida para viver uma experiência típica adolescente que me transformou em uma boneca dessas de trocar a roupinha e me forçou a ficar... bonitinha.

Consigo sobreviver com essa calça jeans, todavia estou tendo um treco com esse suéter cor de vinho com gola V. Porque meu peito está gigante demais para usar uma blusa assim. Hanna jura que eu fiquei linda, mas, agora que não posso me trocar, começo a achar que foi a pior escolha do mundo.

Eu sigo Becky até a parte de trás da casa, em que a batida pesada da música fica cada vez mais intensa e se mistura ao zum-zum-zum do pessoal conversando.

O hall de entrada se abre para um espaço enorme, com teto de seis metros de altura e a maior TV de tela plana que já vi.

A turminha dos vestidinhos Old Navy está empoleirada nos sofás. Cabelos brilhantes, sorrisos perolados, unhas feitas e joias faiscantes são pouco para começar a descrever como elas parecem perfeitas.

Apesar de a música continuar tocando, a conversa para. Talvez Becky ainda não tenha se ligado, mas o restante dessas pessoas sabe que eu não pertenço a este lugar.

Make Your Wish - CamrenWhere stories live. Discover now