CAPÍTULO 27

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Quando chego em casa, de volta da confeitaria, estou com tanta raiva que tudo o que quero fazer é gritar e arrancar meus cabelos.

Falo para a Hanna ir ver o pônei e entro em casa. Ela faz bico, mas estou tão brava que nem ligo.

Subo a escada de dois em dois degraus, tropeçando no último e caindo de joelho com tudo.

Consigo ficar de pé, e então sigo pelo corredor e abro a porta do meu quarto.

Vou direto para o guarda-roupa. Quero achar tudo da minha infância, cada uma daquelas coisas imbecis, e destruir tudo, antes que fiquem vivas também. Fico na ponta dos pés para encontrar as caixas que ocupam esse canto do meu guarda-roupa há anos.

Pego a primeira com tanta força que ela tomba. A tampa sai voando e tudo o que estava na caixa se espalha pelo chão.

Uma dúzia de Meus Queridos Pôneis aterrissa em seguida, as crinas cor-de-rosa, azuis e roxas embaraçadas. Chuto um que caiu perto de mim e pego a próxima caixa, que cai com tudo da prateleira.

Livros infantis. O ratinho e o biscoito, A pequena bailarina, Cinderela. Todos esses livros ridículos para ensinar às crianças que elas podem ser o que quiserem.

Que a vida é um cookie gigante recheado de felicidade.

Ninguém escreve um livro chamado "Logo sua melhor amiga abandonará você", nem "Que pena que você crescerá e se tornará uma idiota". E com certeza não existe um livro chamado "Não faz diferença se você fala italiano, porque seu pai não está nem aí".

Pego mais uma caixa, e uma dúzia de Barbies caem de lá de dentro, tomando o chão do quarto, com suas cinturas perfeitas e pernas compridas e aquele cabelo loiro-luxo, que não tem nada a ver com o meu.

Não me sinto nem um pouco melhor. Na verdade, estou queimando por dentro de tanta raiva.

Eu me viro e arranco um monte de camisetas e vestidos cheios de frufrus dos cabides. Essa parte do guarda-roupa está reservada para as roupas que a minha mãe compra para mim, e que nunca uso, nem em um milhão de anos usaria. Os cabides giram enquanto as roupas se soltam, caindo no chão.

Quando o furacão acaba de passar, meu guarda-roupa está uma bagunça, e tem uma montanha de lixo transbordando e invadindo o meu quarto.

Eu me sento no chão e fico encarando aquela pilha de porcaria, enquanto meu batimento cardíaco diminui, e o ódio começa a desaparecer, substituído por um desânimo triste e amargo.

Acontecerá.

Beijarei a Lauren, e nunca mais serei amiga da Verô.

Pego uma Barbie errante e jogo-a no monte de lixo ao meu lado. Dou uma olhada nas coisas que não mexia havia anos.

Parece que nada daquilo foi meu um dia, como se pertencesse a uma pessoa completamente diferente.

Mas é tudo meu.

Talvez eu seja outra pessoa hoje, mas uma vez na vida essas coisas já foram a minha cara. Eu só decidi não ser mais aquela pessoa.

E talvez seja por isso que não esteja lidando bem com essa situação.

Porque, pela primeira vez, finalmente percebi uma coisa: eu escolhi tudo isso.

Eu escolhi ter só uma amiga e me afastar de todas as outras pessoas.

Eu escolhi me vestir de um jeito estranho e tirar sarro dos outros para garantir meu status de leprosa social.

Eu escolhi largar o balé.

Eu escolhi ficar mais brava com a minha mãe do que com o meu pai, enquanto ela pelo menos está tentando nos criar.

Eu escolhi colocar tudo isso nessas caixas e fingir que nunca fui nada além do que sou hoje.

A escolha foi minha.

Olho para o meu All Star por um minuto e então para o meu guarda-roupa de novo.

É como se uma viagem no tempo estivesse empilhada ao meu lado. Uma representação visual de quem já fui um dia.

Pisco algumas vezes e olho a pilha mais de perto.

De repente, tenho uma ideia. Fico de pé em um pulo e vou até a minha escrivaninha, onde minha câmera 35 milímetros está, e removo a tampinha da lente.

Tiro uma série de fotos: algumas das roupas que minha mãe comprou para mim, mas que nunca usei; umas sapatilhas velhas de balé; alguns boletins; algumas bandeirinhas com o símbolo da escola; e várias fotos dos presentes de aniversário que outras pessoas me deram.

Nem sei se essas fotos sairão ou se só parecerão uma confusão sem inspiração, mas tenho esperança e tiro um monte delas.

Talvez amanhã eu possa revelar alguma coisa.

Tenho de entregar o trabalho logo, e essa é a minha última chance.

Make Your Wish - CamrenWhere stories live. Discover now