CAPÍTULO 3

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Quando meu irmão bate à porta do meu quarto pela terceira vez naquela noite, já
estou sem desculpas para enrolar mais. Não tenho escolha a não ser descer a escada e encarar a multidão de pessoas que se juntaram para o meu aniversário de dezesseis anos. Eu já estava ouvindo o burburinho e rezando para a minha mãe ter ficado tão ocupada planejando a festa que nem se lembrasse da minha presença como um elemento obrigatório.

Não estou usando a roupa que ela escolheu para mim. Era "menininha" demais. Ela sabia muito bem que não adiantava nada comprar um vestido cor-de-rosa, mas a saia azul tinha umas flores brancas meio havaianas e uns babados assimétricos. E ela comprou sapatos de salto para mim.

Vou com o vestido ou com o sapato de salto, mas usar os dois, nem pensar. Não estou a fim de encarar uma discussão gigante, então espero que ela se conforme com o fato de que pelo menos eu não estou usando meia-arrastão e que aqueles sapatos de salto brancos e ridículos combinam com meu vestido de verão de marinheira.

Eu morro um pouco por dentro enquanto afivelo as tiras ao redor dos meus tornozelos.

Faço uma análise do resultado no espelho. O sapato de salto acaba com o lado irônico e rebelde do meu vestido de marinheira e faz parecer que eu realmente me levo a sério.

Parece que estou incorporando um catálogo da Ralph Lauren. Daqueles que têm cavalos de jogo de polo e iates.

Desfaço o rabo de cavalo e penteio o cabelo, para tentar tirar a marca do elástico, e agora meu cabelo cai pelos meus ombros como se fossem moitas gigantes e horrorosas. Eu quase nunca uso o cabelo solto porque eu odeio meu cabelo. Não tem formato.

Pisco para mim mesma no espelho. Falo com um sotaque bem ridículo, do interior:

- Ô, minina, mas que vistido horroroso, né!

E então, em um estilo digno de mano:

- Meu, que salto ridículo, mina!

Apesar de geralmente preferir tirar sarro de outras pessoas, não é que essas vozes me fizeram sentir melhor de verdade?!

Suspiro e mostro o dedo médio para mim mesma pelo espelho, e então decido que é agora ou nunca. E como "nunca" me deixará de castigo, agora é hora de ceder.

Abro a porta para ver meu irmão me esperando no corredor, o celular grudado à orelha. Acho que ele está falando com sua namorada-de-longa-distância. Não sei por que ela ainda não deu um pé na bunda dele, já que ele desistiu da faculdade e mora a algumas centenas de quilômetros dela.

Além disso, meu irmão não é muito bonito, se você quer saber. Ele tem o mesmo cabelo castanho que eu, ou seja, nada de especial. Minha mãe tem um cabelo mais claro, e a gente acabou ganhando um tom entre o dela e castanho, bem escuro, que é totalmente sem graça. Ele agora está com esse corte de falso moicano. O nariz dele era retinho, como o meu, mas agora tem uma bolinha na ponta, à la Owen Wilson, porque ele tomou uma bolada na cara em um jogo de futebol, ou pelo menos é isso o que ele diz. Eu ainda acho que é uma desculpinha por ter levado um soco ao tentar roubar a namorada de outro cara.

Nós dois temos lábios meio finos (droga!) e, mesmo se eu passar um quilo de gloss, os meus ainda não parecerão nem um pouco beijáveis.

Nós dois também temos o peito reto. Acho que ganho dele com uns três centímetro e meio a mais nesse departamento. Totalmente patético!

- A mãe falou que se eu conseguir fazer com que você desça agora, poderei usar a caminhonete amanhã.

- Você diz isso para me servir de estímulo?

Ele deixa a cabeça cair de lado e me lança aquele olhar de "bem que eu queria ser filho único".

- Ela não vai deixar você ignorar a festa inteira, então vá lá para baixo e poupe todo mundo de mais uma dor de cabeça, tá?

Make Your Wish - CamrenWhere stories live. Discover now