CAPÍTULO 35

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Depois que o evento acaba e a maioria dos alunos já foi para casa, eu me sento no capô do carro da Verô por um tempo que parece infinito.

E nem sei por quê.

Não sei se quero falar umas verdades para ela ou pedir perdão.

Tudo o que eu sei é que quero respostas.

Os dias de outubro já entraram oficialmente no outono, e rola um friozinho no ar.

Eu deveria ter trazido uma jaqueta. Ou alguma coisa diferente do meu moletom com capuz e da calça jeans de sempre. Até os meus dedos dos pés dentro do All Star vermelho estão latejando de frio.

Mas eu não tinha planejado ficar sentada no capô gelado do Cavalier vermelho da Verô.

As líderes de torcida devem estar em uma reunião super-secreta, a fim de decidirem para qual tintureiro mandarão suas calcinhas de lycra, ou talvez para combinar a cor da fita de seus rabinhos  de cavalo.

Sei lá sobre o que líderes de torcida conversam. Nem sei mais quem a minha melhor amiga é.

Verô finalmente sai do ginásio uniformizada, com uma mochila de ginástica sobre o ombro.

Um grande “E” cor de vinho enfeita o pequeno suéter de manga comprida e gola V.

A sainha plissada e branca dela meio que flutua enquanto ela anda, e as meias brancas, impecáveis, combinam com seus tênis brancos e cor de vinho.

Suas pernas parecem bronzeadas, e pelo jeito ela foi fazer bronzeamento artificial no salão com o restante da equipe.

Ela já está a meio caminho do carro quando me vê, e dá alguns passos incertos.

Então, ela aperta o passo de novo e chega ao carro antes de eu decidir o que deveria dizer.

Aquele tempão todo sentada no capô do carro e ainda não sei.

— Eu vou jantar com as meninas — diz ela, indo direto para a porta do motorista.

Não saio do capô. Só jogo as pernas para o lado para olhar para ela, e meus pés ficam pendurados ao lado do pneu.

Eu me sinto como se fôssemos as representantes oficiais da aluna “popular” e da aluna “nada popular”.

Não poderíamos ser mais diferentes, nem se tentássemos. O rabo de cavalo dela é perfeito, alto, com cachos compridos. O meu é mais baixo, sem graça, meu cabelo castanho e liso sem muita convicção. Eu não passei maquiagem. Ela parece que fez maquiagem profissional.

— Por que você não me contou? — Acho que vou com a raiva, então, porque as palavras saem numa mistura de fúria com mágoa. — Como é que você simplesmente me deixa de lado para ficar com elas e não me fala nada? Deve fazer semanas que todo mundo sabe, menos eu!

Ela olha para as próprias mãos, passa a chave entre os dedos. Ela morde o lábio inferior e me olha por meio dos cílios, e então volta a olhar para baixo.

Ela parece nervosa e tímida, como a Verô que eu conheço. Minha raiva vai se dissipando.

— Eu achava que não conseguiria nunca.

Quando ela olha para mim, é Verô de novo: quieta, magoada, minha melhor amiga.

Isso derrete o gelo que congelava ao meu redor fazendo-me odiá-la ou ao menos odiar a estranha que ela havia se tornado.

Cruzo os braços, tentando preservar um pouco da raiva. Porque raiva é mais fácil que mágoa.

— Mas você podia ter me contado que estava tentando.

Make Your Wish - CamrenWhere stories live. Discover now