CAPÍTULO 26

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Estou a caminho do meu quarto, morrendo de ódio desse dia desastroso, quando vejo algo sobre o balcão.

É a agenda da minha mãe.

Dou uma olhada pela janela, para ver se ela já não está voltando para buscá-la, e então deslizo pelo piso de lajotas e abro o botão.

A agenda é impecável, perfeitamente organizada, sem nada fora do lugar.

O contrário total da minha vida neste momento.

Na frente, vejo umas páginas plásticas cheias de cartões de visita. Ela deve ter uns cem cartões.

Dou uma olhada nas primeiras páginas.

Tem DJs, salões de festas, bufês. Meus dedos passam pela superfície, enquanto checo o nome das empresas. Não tem nenhuma confeitaria nas primeiras páginas.

Um barulho baixinho me chama a atenção. Minha mãe está parando o carro em frente à casa.

Ela percebeu que esqueceu a agenda em casa.

Começo a folhear a agenda mais depressa, o mais rápido que posso. Eu tenho de encontrar esse cartão. Eu preciso encontrá-lo.

Para desfazer os desejos e toda essa confusão.

Mais salões para alugar, uma empresa que fornece pula-pula em forma de castelo, algumas floriculturas. Meu coração vai parar na boca quando ouço a porta se abrir.

Se eu não encontrá-lo, nunca acharei a confeitaria.

Depois de hoje, minha mãe não vai querer me fazer nenhum favor, mesmo que seja me dar o endereço de uma confeitaria. E ela, com certeza, não me deixará sair de casa para comprar um bolo.

E, na última página, lá está ele.

Um bolo azul enorme, decorado com todo o cuidado e impresso no cartão. Parece chique, mas meio Dr. Seuss. Com certeza, é o estilo do meu bolo de dezesseis anos.

Leio: “Confeitaria da Betty”, em relevo cor de vinho e com tipo de letra cheia de frufrus.

Meus dedos sofrem para tentar abrir essa página plástica, para ver de qual lado o cartão sai para arrancá-lo dali.

Ouço os saltos dos sapatos da minha mãe batendo no chão de ardósia. Ela me pegará mexendo em sua agenda.

Meus dedos encontram uma abertura no plástico e eu arranco o cartão de lá.

Então, fecho a agenda com tudo e me escondo atrás da ilha da cozinha assim que a porta se abre.

Conto os passos dela, enquanto ela cruza o hall de entrada e anda até a cozinha.

Seguro a respiração e escuto; em seguida ela fecha a agenda de novo. E, então, silêncio. Não sei o que ela está fazendo. Acho que ela deve estar quieta, tentando me escutar. Pensando se estou no meu quarto ou na garagem.

“Por favor, não vá me procurar.”

Não preciso do Grande Sermão: Parte II.

Fecho os olhos e tento não suspirar alto quando ela se vira e se dirige para a porta.

Não respiro até ouvir a porta do carro dela bater e ela dar marcha a ré.

O cartão de visita está amassado na minha mão, mas ainda inteiro.

***

Se minha vida fosse um desastre natural, o presidente declararia estado de alerta agora e pediria ajuda.

Make Your Wish - CamrenWhere stories live. Discover now