CAPÍTULO 23

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Quando chegamos ao shopping South Hill, meu cabelo está um ninho de mafagafos e meu estômago já deu uns noventa e nove nós bem doloridos.

Ken veio de Jeep hoje — que provavelmente combina com o meu Jeep imaginário — e ele baixou a capota.

Ken deveria mesmo voltar para a Califórnia, onde faz sentido ter um carro assim. É quase outubro, estamos no meio do outono e não está nem um pouco calor para esse tipo de carro, e eu acho que há algumas folhas alaranjadas no assoalho, vindas das árvores pelas quais passamos.

A única coisa que me faz sentir melhor é que o cabelo do Ken não está mais aquele capacete de antes, está bagunçado como o de gente de verdade.

Se ele usasse uma camiseta comum e parasse de sorrir tanto, poderia até parecer normal.

A coitada da Hanna está muito pior.

O cabelo dela está totalmente maluco. Talvez eu devesse arrumar uns produtos para cabelo para ela, sei lá.

Tiro um elástico do meu pulso, enquanto andamos em direção à praça de alimentação, tentando alisar os fios soltos ao passo que amarro meu cabelo em um rabo de cavalo.

Com minhas mãos ocupadas, Ken aproveita a oportunidade para me pegar pela cintura e me apertar contra seu corpo duro como pedra.

Fala sério, parece que estou espremida contra uma parede.

Forço um sorrisinho e então me desvencilho dele.

— Aonde vocês querem ir? — pergunto para os dois.

Ao ver que Hanna não responde, viro-me para a esquerda, e para a direita, e então por cima do meu ombro. Mas cadê...

Eu paro e dou uma voltinha.

O shopping não está muito cheio, é noite de segunda-feira. Mas não a vejo.

Volto alguns metros, e então finalmente a encontro.

Ela está em frente a uma loja de roupas, com o nariz amassado na vitrine.

— Que lindo! — exclama ela ao me ver. Hanna aponta para o vidro. — Adorei!

Ela está apontando para uma blusa rosa-claro com um decotão. Alguém colocou um cinto branco ao redor da cintura e combinou a blusa com calça jeans e sapatos de salto.

Em outras palavras, é o tipo de roupa que uma líder de torcida usaria.

— O rosa não combina com a cor do seu cabelo — opino.

— Mas eles também têm essa blusa em azul! — Ela avista o manequim ao lado e bate no vidro.

Eu suspiro e estudo a cena. Essa é uma das lojas menos caras do shopping. A blusinha deve custar uns dez dólares.

— Se eu lhe comprar essa blusa, você vai ter de vigiar o pônei amanhã o dia inteiro. E sem reclamar.

Ela faz que sim com a cabeça e depois bate palmas.

— Combinado!

Não consigo resistir. Sorrio de leve, enquanto ela invade a loja.

Quero dizer... até ela arrancar a blusa do manequim.

***

Meia hora depois, estou afogando as mágoas em um bolo de canela, tomando uma Coca Zero que não acaba nunca.

Peguei uma mesinha bem discreta, num canto da praça de alimentação super bem iluminada.

Posso ouvir os gritinhos e as risadas dos compradores ao meu redor, e meu lugar é perfeito para observar as pessoas. Tem um monte de guardanapos grudentos perto de mim, e meu bolinho já está pela metade.

Make Your Wish - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora