CAPÍTULO 20

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Passo a maior parte da noite olhando para o teto do meu quarto, ouvindo a Hanna roncar e tentando pensar em outros desejos para preencher minha lista. Se eu não consigo impedir que eles aconteçam, seria legal pelo menos saber o que vem por aí.

Eu achava que, ao gastar um desejo precioso de aniversário — afinal, a gente só tem um por ano —, eu me lembraria do que tinha pedido. Mas não consigo. Eu tenho algumas ideias, claro.

Eu me lembro de alguns brinquedos pelos quais era obcecada.

Lembro-me de que queria ser uma das dubladoras dos filmes do Shrek.

E depois queria ser piloto de avião.

Mas quem sabe se eu realmente desejei essas coisas?

Então, enquanto mais um dia amanhece, saio de fininho do meu quarto e visto uma blusa de moletom. São nove e pouco, e a Hanna ainda está num sono ferrado.

Eu me sento no último degrau da escada, lá embaixo, e coloco meu par de All Star mais batido e confortável.

Ainda estou amarrando os cadarços quando ouço a madeira da escada chiar, e me viro, esperando ver o cabelão espetado da Hanna.

Mas é a minha mãe. Que surpresa, às nove da manhã. Geralmente, ela já teria saído de casa a essa hora.

Normalmente, domingo é o dia dos eventos mais trabalhosos — na maioria das vezes, rola um casamento ou um brunch de alguma empresa —, portanto ela tende a sair cedinho para acalmar os nervos da noiva ou de um CEO que se acha, ou de várias pessoas ricas e mimadas.

Fala sério, se você não consegue planejar sua própria festa e prefere pagar alguém para fazer isso, então provavelmente tem mais dinheiro do que precisa. E eu já vi algumas contas da minha mãe. Os clientes dela com certeza têm mais grana do que precisam.

— Aonde você vai?

— Para a biblioteca.

— Você não tem parado em casa esses dias — diz ela.

— Eu é que não paro em casa?

Com certeza, não ouvi direito o que ela disse.

Ela faz que sim com a cabeça. Olho para ela, desconfiada.

— Para que isso?

Dou de ombros e vou até a porta pegar minha mochila. Eu deveria ter ficado quieta.

— É que fico mais em casa que você, só isso.

Minha mãe suspira.

— Não seja respondona, Karla.

Meu queixo cai.

— Não estou sendo respondona. Mas não é verdade?

Minha mãe cruza os braços. Ela está usando uma blusa lilás engomada e perfeita, com calça cáqui sem um amassadinho. Seu cabelo castanho está com um penteado digno de salão.

— Por que você precisa ser tão ingrata? Eu dou tudo o que você quer e mesmo assim você insiste em usar as mesmas roupas velhas e vive reclamando.

Eu fecho a boca e ranjo os dentes.

— Tá, mãe. Você me dá tudo o que eu quero. Entendi.

— Karla Camila! Eu acabei de dar um festão para você não faz nem uma semana.

— Deu mesmo, mãe? Você fez uma festa para mim ou para a sua empresa? Porque ficou difícil diferenciar.

Minha mãe olha para o relógio, e tento não virar os olhos. Ela nunca vai ter tempo para mim.

Make Your Wish - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora