CAPÍTULO 13

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Como ir à aula de Trigonometria envolvia me sentar ao lado da Lauren, decidi pular essa também. Tenho certeza de que só um desejo por dia se torna realidade. Mas não estou a fim de testar essa teoria. De qualquer maneira, ainda não.

Na aula de Educação Física, tomei uma bolada na cabeça no jogo de vôlei e a professora me
deixou ficar quietinha o restante da aula.

Como se eu estivesse fazendo algo além de encarar a rede.

Prefiro achar que é o poder de fazer várias coisas ao mesmo tempo, já que estava perdida
nos meus pensamentos, tentando lembrar alguns dos desejos da minha infância e jogar vôlei, mesmo que não estivesse batendo na bola com nada além da cabeça.

Na hora do almoço, eu estava morrendo de vontade de conversar com a Verô. Essa coisa toda dos desejos parece ridiculamente inacreditável e, se tem alguém que pode me ajudar, esse alguém é ela. Se ela não me levar a sério, levo-a para casa e mostro a Hanna para ela. Além disso, há anos somos melhores amigas, e então ela deve ter algumas ideias para a minha lista de desejos.

Quando chego ao refeitório, ela já está na fila da salada, falando com Alexa Ferrer, uma das
líderes de torcida. Hum. Eu sempre achei que a Verô odiasse a Alexa, mas elas estão rindo de
alguma coisa juntas, e está na cara que ela não está prestes a arrancar o olho da menina.

Pelo jeito, se eu posso ter uma Boneca Trapinho de tamanho natural, qualquer coisa pode acontecer.

Ela me vê olhando para ela e me pede para esperar um minutinho. Eu só faço que sim com a cabeça e me sento à mesma mesa de sempre.

Ela paga o almoço, faz um tchauzinho para a
Alexa e vem em minha direção. Ela está mais empolgada que o normal, ou talvez seja apenas o cabelo dela. Acho que ela fez babyliss hoje e acho também que ela nunca tinha usado esse negócio antes. O cabelo da Verô é tão liso que os cachos não sobrevivem por muito tempo.

Mas hoje parece que o cabelo dela é o cabelo da foto da caixa do babyliss, mostrando como o seu cabelo pode ficar incrível se você comprar esse produto. Cachos espirais perfeitos. Hummm.

— O seu cabelo está... uma graça — elogio. Mas é verdade. Porém está tão diferente que não
consigo parar de olhar para a cabeça dela, como se fosse assustador (o que não deve ser o resultado que ela está esperando).

— Obrigada! Eu tive de levantar, tipo, às cinco da manhã para enrolar tudo. Eu comprei um spray fixador novo. Ele é ótimo.

Faço que sim com a cabeça e continuo encarando-a. Não é só o cabelo dela. A pele está...

Perfeita.

— Nossa. Você está...

Verô abre um sorrisão.

— A gente finalmente encontrou um remédio que funciona. Não é o máximo?

Faço que sim. Ela está radiante, quase brilhando de tanta felicidade.

— É, total... nossa, você está incrível.

Seu sorriso fica ainda mais largo e ela dá uma voltinha, os cachos pulando sobre seus ombros.

Sinto que está rolando algo mais, porque a Verô não se senta depois da viradinha. Ela só fica ali, segurando a salada, sorrindo com sua beleza recém-descoberta.

E então finalmente solta a bomba.

— A Alexa falou que a gente pode almoçar na mesa dela.

Meu queixo cai e só consigo encará-la. Não acredito que ela quer almoçar na mesa da Alexa Ferrer, tampouco que a gente foi convidada para se sentar lá.

Olho de lado para a mesa-alfa, que está lotada de atletas valentões e líderes de torcida.

— Não tem lugar sobrando — respondo, dizendo o óbvio. Eu não me sentaria àquela mesa nem se houvesse vários lugares vazios, ou se eles fossem banhados a ouro e viesse uma garçonete que limpasse meus lábios entre uma bocada e outra.

A expressão da Verô não muda quando ela olha para a mesa e vê que eu tenho razão. Ela
coloca a salada sobre a mesa e se senta à minha frente. Ela abre a latinha de Coca Zero.

— Ela não é tão ruim assim, sabia? Ela é bem engraçada.

Eu me seguro para não dizer “engraçada como uma pedrada”, porque até eu sei que essa brincadeira perdeu a graça no quarto ano. Em vez disso, falo:

— A não ser que você seja a vítima das piadas dela. E, só para lembrar: geralmente, é isso o que acontece.

A Verô simplesmente dá de ombros, mas obviamente entende o que quero dizer, porque faz que sim com a cabeça e então olha de canto de olho para a outra mesa de novo. Não é preciso ser gênio para saber de quem eles estão falando. Possivelmente planejando uma invasão à la Stalin de todo o refeitório.

— Eu tenho uma história muito, muito louca mesmo para contar — comento, quando ela finalmente desiste de ser a melhor amiguinha de uma ditadora.

— É? — Verô mastiga a salada e olha com cara de paisagem pela janela.

— É. Parece que a gente nem conversou direito desde o meu aniversário, então você nem imagina o que está rolando.

— Ai, desculpe, eu ando tão ocupada... — Sua voz meio que se perde e ela para de mastigar
para continuar olhando pela janela, que dá para o pátio onde os alunos do último ano geralmente almoçam.

— Você está vendo isso?

Ela aponta para uma das janelas com o garfo. Eu sigo o seu olhar e, quando vejo o que ela está apontando, minha boca seca.

“Ah, não. Perigo!”

A Boneca Trapinho saiu do meu guarda-roupa.

Toquem o alarme!

Abandonar navio!

Ela está lá fora, brincando de amarelinha. Ela ainda está com aquele vestido azul, o avental
branco e a meia-calça superbrilhante. Para piorar, ela resolveu combinar tudo com os meus coturnos pretos, e agora parece a Boneca Trapinho brincando de G.I. Joe.

Fico paralisada por um segundo, enquanto alguns dos meus colegas de classe param para
conversar com ela. Ela para de brincar de amarelinha e coloca as mãos na cintura, começando a dialogar com eles.

Ai, meu Deus! Provavelmente ela está contando para todo mundo que mora comigo! Minha vida acabou.

— Hum, eu acho que comi um burrito estragado, sei lá — invento, saindo da mesa. — A gente se fala mais tarde?

Antes que Verô possa responder, jogo meu almoço quase intocado no lixo e saio correndo lá para fora.

A Boneca Trapinho não está nem perto da minha lista de coisas felizes.

Make Your Wish - CamrenWhere stories live. Discover now