CAPÍTULO 8

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Quando a aula acaba, não estou a fim de ir para casa. Ultimamente, aquele lugar está mais para zona de desastre, e se meu irmão ainda não tiver acabado de recolher todos aqueles chicletes, eu é que não vou aparecer a tempo de ajudar.

Evitar as situações sempre foi meu melhor mecanismo para lidar com as coisas. E por que mudar agora?

Então, tomo uma decisão corajosa: vou ao evento de motocross da Lauren hoje à noite.

Não é nada de mais... É pertinho de casa e eu chego lá andando em meia hora. Eu sei que, se for, não vou pensar em nada enquanto ela estiver pilotando, e é exatamente disso que preciso.

Vou fazer o exame para tirar minha carteira de motorista na sexta-feira. Com um pouco de sorte, será a última vez que terei de sair a pé pela cidade. Principalmente se eu puder usar a Ranger velha do meu irmão. Então por que não aproveitar ao máximo meu último dia de pedestre e sair para uma caminhada legal hoje
à noite?

Esse evento vai rolar em uma pista de
motocross de um cara, cheia de rampas e
morros gigantes e outras coisas malucas que gente normal não se atreveria a percorrer, mas que a Lauren domina com um pé nas costas.

Lá tem uma arquibancada com umas dez fileiras, cada uma com uns dez metros de comprimento, então tem lugar para uns cem espectadores; e hoje vai estar pelo menos com metade da lotação. As noites de quarta são abertas para os pilotos praticarem sem ter de pagar uma mensalidade animal, nem se preocupar com competições. Em geral, eles só vão lá para curtir, e o pessoal vai assistir.

Está calor, mesmo sendo outono; paro em um posto de gasolina no caminho e compro um refrigerante. Vai muito bem com o pote cheio dos famosos brownies de chocolate com menta da Verô. Ela cumpriu a promessa e fez umas fornadas só para mim, por ter perdido a minha festa.

Eu ainda estou brava com ela, mas os brownies já ajudaram a curar um pouco da minha raiva.

Ando ao longo do acostamento de terra batida dessa estradinha de interior, meu lanchinho na mão, sentindo-me relaxada pela primeira vez nesta semana. É difícil ficar preocupada ao andar ao lado de moitinhas cheias de rabos-de-gato, cercadas por campos gramados repletos de cavalos e vacas, e com o sol brilhante e quente nessa cena que pode ser a última nesse outono. Eu ando debaixo de uma fileira de árvores de bordo, suas folhas cor de laranja formam uma camada grossa no chão.

Era disso mesmo que eu precisava: uma noite longe de todo mundo e pra largar mão de me preocupar com tudo.

Passo por entre os carros parados no campinho que também serve de estacionamento, meu All Star preto afundando na lama. Tem mais caminhonetes que carros aqui, numa proporção de pelo menos três para um. Eu não deveria achar isso interessante, mas acho. Em Enumclaw, as caminhonetes sempre reinarão supremas.

Vou para a arquibancada de madeira, passando entre um monte de estranhos, e acho um lugar para me sentar onde a tinta branca não está descascando. Os invernos nessa região do Noroeste Pacífico não têm dó de estruturas assim; no entanto, em um dia de outono com sol, como hoje, eu acho que jamais gostaria de morar em outro lugar.

Os pilotos já começaram com suas gracinhas. Um cara numa moto dois tempos laranja bem
“cheguei” decola de um morro de terra gigante e passa por cima de vários pilotos que estão lá embaixo, protegidos por seus capacetes, conversando.

É fácil encontrar a Lauren: ela tem uma moto preta brilhante, usa um capacete azul e uma jaqueta com um desenho preto e azul-royal. O número dela é nove, que tem sido o meu número favorito desde o dia em que fui com a Verô ver uma corrida dela.

A Verô sempre diz que essas noites de quarta-feira, quando a Lauren não está competindo,
demoram horrores e são um saco, barulhentas, sem falar na lama. Lauren não se importa se ela não vai, porque elas não podem conversar mesmo.

Make Your Wish - CamrenWhere stories live. Discover now