CAPÍTULO 19

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Hanna e eu pegamos xícaras e colheres de medida e algumas tigelas gigantes.

Eu ligo a TV na MTV onde, para a minha grande surpresa, está passando videoclipes.

Katy Perry acabou de aparecer na tela com mais uma música animadinha. Provavelmente, ela mostrará uma coreografia acompanhada de uma tigela de frutas no fim do clipe.

Hanna está superempolgada com a nossa experiência gastronômica.

— Eu nunca fiz bolo antes! — diz ela, levantando os braços.

Suas mãos derrubam uma das caixas de mistura para bolo, que voa do balcão de granito e aterrissa no chão de travertino com um barulhão. Ainda bem que estava fechada.

— Menos — digo eu, pegando a caixa e abrindo a tampa.

Ela sorri e fica meio murcha, como uma criancinha que acabou de levar uma bronca.

— Mas é tão legal! Eu vi seu bolo de aniversário quando você fez onze anos, sabe?Você me colocou no balcão, bem ao lado dele. Era um bolo caseiro gigante. Acho que era uma tartaruga.

Eu levanto as sobrancelhas.

— Eu ganhei um bolo que parecia uma tartaruga?

Ela faz que sim com a cabeça, toda animada.

— Com cobertura verde e um monte de granulados. Parecia bem gostoso.

— Ah. Hum, tá. — Não sei muito bem o que responder. Hanna tem uma memória incrível. Eu mudo de assunto. — Ahn, beleza, a gente precisa colocar a mistura para o bolo branco nessa tigela, e a do amarelo, naquela tigela, e misturar bem até dissolver todos os pedacinhos, porque não sei onde a minha mãe colocou a peneira.

Minha mãe tem essa cozinha gourmet superequipada com utensílios modernos, pois já gostou de cozinhar em um passado longínquo. Eu gostava também. Passávamos horas preparando pratos chiques e em seguida fazíamos meu irmão e meu pai se sentarem à mesa com os olhos vendados, para fazer um teste.

Eles fingiam odiar tudo, resmungando e xingando, mas faziam questão de se sentarem com as vendas nos olhos e comer tudo até não conseguirem se mexer, e tínhamos de rolar os dois para a sala de estar.

Minha mãe e eu não contávamos para eles o que estavam comendo. Só mandávamos os dois abrirem a boca e engolirem uma colherada do que tínhamos preparado naquele dia.

Nós duas morríamos de rir quando eles faziam cara feia, e aí contávamos quais eram os ingredientes.

Era demais o brilho da minha família quando todo mundo estava feliz. Como se fôssemos uma família de comercial de margarina.

Mas depois ele foi embora e não é a mesma coisa só com o meu irmão, e minha mãe ficou ocupada demais com o trabalho e começou a deixar dinheiro pra gente comprar comida chinesa ou pizza, e as festas de degustação gourmet viraram só uma lembrança.

Dou um garfo e a caixa de mistura para bolo amarelo para a Hanna, e ela começa a colocar tudo na tigela, amassando as partes empelotadas com o garfo.

E então ela come uma garfada daquele pó. Fica tudo grudado nos lábios dela.

— Ecaaaa! Não faça isso!

— Ai, desculpe! — E ela coloca o garfo lambido de volta na mistura.

— Ai, que nojo. — Pego o garfo e o jogo na pia. — Não quero pegar “bonecatrapinhoíase” de você.

Ela só dá um olharzinho blasé. Ela nunca entende minhas piadas bobas.

Eu quebro os ovos porque não sou idiota a ponto de achar que Hanna faria isso direito, e a gente coloca o óleo e começa a mexer.

Make Your Wish - CamrenWhere stories live. Discover now