14 - NADA ALÉM DO OBJETIVO, EXCETO... - Daniel

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O que está acontecendo comigo? Eu não podia fraquejar daquele jeito!

Como eu podia me sensibilizar com as pequenas atitudes daquela mulher? Ela não é de confiança e eu não podia me esquecer nunca disso, muito menos do que ela fez!

O meu desconforto devia estar evidente para o Jadir. Mas, isso já não me importava. Forjei minha compostura! Os planos não haviam mudado, nem tinham porque mudarem...

– Você vai testar a ação dos nervos cranianos dela, certo? – Apressei em interrogar, enquanto friccionava os olhos.

– É – respondeu automático, sem deixar de me fitar sisudo e com ar de desconfiança. – E a colocaremos em pé.

Franzi o cenho, em dúvida. Jadir amenizou a expressão e falou, olhando para a Victória:

– Não há nada que lhe impeça os movimentos. Só o que lhe falta é força necessária para a realização das tarefas diárias... Algo que irá adquirir aos poucos.

Olhei para Victória que fechara a expressão e pareceu nem dar ouvidos ao que ele dizia. Ela, por acaso, não estava interessada em se recuperar? Para alguém que passou os quase dois últimos meses praticamente imobilizada, a menção de sair da posição deveria lhe parecer o êxtase. Irritei-me no mesmo instante. Eu não permitiria que ela não se esforçasse para ficar bem. Suas dores não poderiam se sobrepor as minhas!

– Não ouviu o que ele disse, Victória? – Chamei-lhe a atenção de modo firme, que se voltou de imediato para mim. – Se esforce para que logo você consiga sair dessa cama e possa voltar para a sua vida.

A vi abaixar o semblante, parecendo entristecida. Era como uma criança que acabara de levar uma bronca.

O que estava acontecendo com ela, afinal? Teria se lembrado de algo que fez? Ou melhor, será que, realmente, ela se esquecera do que fez? Não me seria estranho descobrir que ela estava atuando por todo esse tempo... Não! Não! O que eu estava pensando? Haviam coisas que ela jamais poderia fingir e a maior prova disso era o seu estado físico frágil e desalinhado. Victória costumava ser a mais dura e fria porcelana, no entanto, por mais cara e bela que fosse, ainda era de vidro. Ela havia sido quebrada como consequência de suas próprias atitudes.

– Ok – despertou-me Jadir. – Não há necessidade de ser tão duro com ela. É claro que Victória é a mais interessada em se recuperar.

Ela assentiu, ainda cabisbaixa, enquanto parecia procurar por mim. Você prometeu, Victória. Você tem que me ajudar a te ajudar!

Jadir procurou pelo monitor, que ainda estava ligado a ela, se certificando dos sinais vitais e, logo, verificou os medicamentos que recebia. Ele nunca anotava nada... Ele não precisava! Jadir tinha memória suficiente para armazenar os dados de tudo o que avaliava e promovia em suas seções de fisioterapia. Eu sei o quanto ele foi exigido na faculdade.

– Victória – chamou-a. – Antes dos exercícios, eu vou fazer rápidos testes simples para saber como andam suas respostas neurais, ok?

Ela levantou a cabeça e concordou.

– Quantos dedos têm aqui? – Perguntou, a 10 centímetros de seu rosto, apontando o indicador apenas.

– Um – murmurou.

– Certo. Agora, não mova a cabeça, apenas tente acompanhar o dedo.

Jadir o movimentou para as laterais, para cima, para baixo e para o nariz. Atento ao que fazia, reparei que ela não conseguiu fazer o último movimento com o olho esquerdo. Ela poderia ter lesionado o nervo troclear, responsável por fazer a adução do globo ocular?

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioWhere stories live. Discover now