16 - NÃO TEM COMO SER PIOR - Emerson

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Comecei a pedalar cada vez mais rápido. Queria sentir o vento, sentir que haveria mais, sentir que conseguiria ultrapassar os limites da realidade e fazer mais... ser mais! Muito mais do que a minha limitada e fraca existência. Abrir os braços e voar, quem sabe, sem momento algum para parar e pensar. No entanto, eu não estava sozinho nessa jornada.

– Hey maluco, saia da frente!

Era óbvio que, por mais que eu corresse com minha bicicleta, ela ainda seria muito menos veloz do que 300 cavalos ou mesmo um fusca com dois pneus furados.

Mudei de direção, mas não parei de pedalar. Pedalei até passar do momento em que eu não conseguia mais discriminar o que estava a minha frente, lados, opostos... Tudo ficava para trás, como um borrão, mas nada novo começava!

Era tarde quando cheguei ao apartamento. Estava tão exausto que poderia ter caído na porta de entrada mesmo. Mas, algo estava errado... Eu podia sentir e ver também!

– Mas o que é isso? Fui assaltado?

A sala estava bagunçada como nunca havia visto antes. Ela não havia ficado assim nem quando dei uma festa para vinte pessoas, chegaram cinquenta e o espaço só comportava doze. Se não fosse o Daniel, com quem divido o ap, já teríamos sido expulsos há tempos.

Fui conhecer mesmo esse meu amigo nos estudos pré-vestibulares, há quase um ano. Eu já o havia visto antes pela academia do centro e auxiliando o irmão mais velho, mas nem nos falávamos.

Claro que faziam comentários e eu ria de todos eles. Realmente não me incomodava que pensassem que havia mais do que amizade entre Daniel e eu, como se fossemos os únicos homens a dividir apartamento neste município. Nem mesmo me importava a popularidade desse meu amigo, afinal ele era o que tirava as melhores notas, bonito o bastante para despertar o interesse até da reitora da universidade e quase sempre disposto a ajudar as pessoas, fossem quem fossem. Quantas vezes vieram até mim no intuito de que eu servisse de cupido? Não consigo nem as contar mais. Mas, Daniel é muito sério... Compenetrado... Quando coloca algo na cabeça, não há quem tire e isso sim incomoda. Eu não estranharia termos sido vítimas de assalto porque ele esqueceu de trancar a porta... Se bem que, quando cheguei, ela estava trancada. Eu quase nem consegui achar o buraco da fechadura, mas definitivamente tive que a destrancar. Minha testa dolorida era prova disso, visto que a bati na porta várias vezes na esperança de que se abrisse magicamente.

Eu estava com dor de cabeça e muito cansado. Aquilo estava mesmo acontecendo?

– O que houve por aqui? – Perguntei para as paredes, enquanto afastei algumas almofadas, tentando achar o sofá e conseguir me esticar nele. Ao encontrar, deitei-me e coloquei uma mão na testa, tentando despertar minha aferência de pressão para que ela ultrapassasse a da dor aguda... Mas, e da depressão? Qual nervo eu despertaria para me livrar da dor crônica? Como sarar a dor de longa data e que promete me fazer companhia para muitos anos mais?     

– O que é isso, Emerson?

Eu devia ter me assustado com a presença do Daniel ali. Fazia dias que ele nem aparecia. Será que foi ele quem bagunçou tudo assim? Ah, que se dane! Era melhor nem pensar mais... Pensar fazia a dor aumentar. Comprimindo as pálpebras respondi ao que ele segurava, debochado:

– Preservativo. Nunca viu?

Ele abriu o pacote e despejou o conteúdo vermelho ao chão, tirando-me do conforto e me assustando para valer. Disse:

– Isso não é preservativo.

Abrupto, fui até ele, fechando minha expressão e lhe tirei o pacote das mãos, já vazio.

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz