EPÍLOGO 2/3 - Maya

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Você deve estar achando estranha essa minha comunicação repentina. Acontece que eu devo confessar e aceitar que você me encontrou antes d'eu encontra-lo. É curioso falar isso, visto que usei, nos últimos meses, um boné que foi seu e que, antes, pertenceu a uma pessoa muito querida também, a que é a atual esposa do meu irmão mais velho vivo. Sei que esse "boné" foi o maior responsável pela minha captura, mas também me permitiu esconder por mais tempo. Trajando-me como um moleque de rua, ocultei as madeixas e vivi por me aventurar a cada dia em que assim estive. Victória mesmo, assim que descobriu que eu era uma garota, disparou um rápido humor me recomendando plásticas e silicones, enaltecendo o seu engano e surpresa quanto ao meu gênero.

Falando da musicista, premiando a sua sagacidade, revelarei por aqui o que aconteceu naquele fim de tarde na academia.

Não era para que a explosão ocorresse em horário de funcionamento do estabelecimento em questão. Porém, assustados pela descoberta, acabaram por mudar os planos, ou foi isso que eu pensava. Quando eu falo "acabaram" me refiro ao Giba, um dos meus companheiros de rua, e da Lorena, uma das amigas da Victória. Aliás, "amiga" talvez não seja a melhor das palavras, mas vamos nos concentrar nos fatos...

Lorena sempre detestou a Victória, enquanto a personagem alvo de sua fúria era indiferente a sua existência. Por ser "indiferente", Victória não percebia que, muitas vezes, suas atitudes desagradavam e, até mesmo, desafiavam os mais próximos. Quando se fala em "mulheres rivais", logo podemos pensar que há "homens" envolvidos. Confesso que havia "muito" disso, mas não se limitava há apenas isso. Victória, por certo, havia tido caso com o irmão da Lorena, um tio da Lorena, um primo da Lorena e, até mesmo, com um namorado da Lorena. Como se não bastasse isso, Victória conseguira acesso a universidade estadual de música, coisa que Lorena almejava também e não conseguira. A desistência da Victória quanto ao estudo, fez com que Lorena se sentisse mais humilhada por ela e a indiferença de uma para com a outra, aumentava cada vez mais a fúria do lado atingido. Vá por mim, Victória não fez nada disso com intenção de afetar a "amiga" loira diretamente, mas qualquer um poderia afirmar o contrário, iniciando-se assim a guerra.

Não era para ser algo grande, confie em mim... As ações do Adriel no passado, inspiração para esse grande plano, não saíram de minha memória, mas minha intenção era apenas em deixar uma marca... Algo pelo qual pudessem refletir e analisar todo o sistema político que vivemos. Uma ação subversiva, concordo... Terrorista, na certa... Por isso estou aqui. Por isso estou presa!

Como não planejei tudo sozinha, não pude controlar o acontecido. Era para a explosão acontecer no período de inatividade da academia, mas Lorena tinha outros planos e eu percebi tarde demais.

Ah, é claro... Quase me esqueço de expor que "Lorena" é minha prima de segundo grau por parte de mãe e, para meu infortúnio e leve arrependimento, foi ela quem me ajudou a me situar nesse bairro no início. Também sei que ela mantinha meus pais informados a meu respeito, mas isso não importa mais...

O fato é que ela tinha planos próprios, então atraiu Victória para a explosão a fim de incriminá-la. Confesso outra vez que eu não gostava muito da acusada. Aliás, quem, além do Daniel, gostava dela de verdade? Pode atirar pedra em mim por isso? Seu ar soberbo, exibido, sempre com suas roupas caras se achando superior e menosprezando todos os que ela encontrava era de desagradar a qualquer um. Eu achava curiosa a atitude dela em me estender seus casacos, com aquela feição provocativa e desafiadora características dela. E foi essa uma das principais atitudes dela que a incriminou por muito tempo.

Seguindo essa onda de "confesso", afirmo que usava dos casacos dela para perturbá-la. Fui eu também que filmei a "aposta" que a Lorena e o grupo propuseram para Victória, a pedidos de minha prima. Tudo me soava absurdo demais, ainda mais quando o "prêmio" era um irmão meu. Eu não tinha muito contato, mas ainda assim, nós partilhamos uma parte do sangue! Mesmo assim, acabei caindo no jogo de uma mulher despeitada, achando que seria útil para o nosso plano futuro, e realmente foi; porém o preço pago foi muito alto.

Aproveitando desses momentos de "diversão" e "rixa" entre garotas, eu estudava o território e, claro, o lugar mais importante – o coração do centro esportivo. Numa dessas, Victória me viu e acredito que tenha me seguido até a sala "desativada", reservada para a prática instituída por "Joseph Pilates". Se ela tivesse acesso aos interruptores, na certa perceberia a porta de mesma cor da parede, em escanteio. Uma portinhola, na verdade, que dava acesso ao porão e ao sistema de fiação da academia. Victória parecia não ter notado, até o dia em que a explosão de fato aconteceu.

Seria cômico, caso o assunto fosse outro, o fato de que Victória foi atraída por um dos brincos reluzentes e chamativos que minha prima Lorena usava naquele dia. Não sei afirmar se foi proposital, acredito que não, pois Lorena não é do tipo de raciocinar. Ela é impulsiva! Deve mesmo ter perdido o brinco próximo a portinhola, dentro da sala de "Pilates". Os olhos da Victória não a traíram naquele momento, mas fizeram-na atrair para o que quase resultou em sua morte.

Victória abriu a porta e logo pôde ouvir nossas vozes. Os três: Lorena, Giba e eu! Eu ainda discutia e me lamentava, pois Giba decidira por envolver a Verônica nisso. Como eu era contra incriminar outras pessoas, não deixando mensagem alguma de indignação e libertação, apenas gerando estragos e, ainda mais, com a academia cheia, Giba se comunicou com a Lorena para que desviassem a minha atenção para que eu não os atrapalhasse.

Ah, caro amigo, foi o que aconteceu e Victória ouviu tudo!

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Terceira e última parte virá as 19 horas!

Aguardo vocês! ;)

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FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioOù les histoires vivent. Découvrez maintenant