15 - Victória

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Eu estava em pé e era uma sensação muito estranha! Parecia que eu não era mais compatível para essa posição. Podia sentir Jadir próximo, com hálito de hortelã, me amparando e Daniel ao meu lado, mas minha visão começou a se turvar. Eu precisava ser forte! Eu precisava me concentrar e distribuir a força necessária para que cada músculo do meu corpo pudesse agir como deveria. Mas, estava tão difícil. As forças estavam saindo de mim, como se algo as estivesse sugando. Não daria mais...

– Jadir, eu acho que...

Antes que eu pudesse terminar a frase, deixei de sentir as pernas e senti que Daniel me envolveu pela cintura, amparando-me por trás e não permitindo que eu despencasse. Eu ainda não estava forte o bastante. Que droga!

– Ainda é cedo, eu te avisei – ouvi Daniel com nitidez.

Eu me mantinha consciente! Ainda bem!

– Se acalme Daniel! Ela ficou em pé por quase um minuto. As mudanças de posturas fazem parte da reabilitação e é esperado que ela não se adapte bem a todas elas. Mas, fala sério, né? Você está pior do que um marido ciumento! Você não costumava ser tão superprotetor nem com seus irmãos.

Jadir parecia conservar o ânimo, enquanto eu nada mais ouvi do Daniel, que não sua respiração pesada. Ele parecia mesmo incomodado! Senti que permanecia me amparando, a fim de me manter sentada, me envolvendo em seus braços. Meu fluxo sanguíneo não estava normalizado ainda, mas eu podia sentir o calor me voltando. Ao se aproximar mais me interrogou, parecendo preocupado:

– Você está bem, Victória? Consegue me ouvir?

Eu ainda não abria os olhos e não tinha forças para falar, mas me forcei para mexer um pouco a cabeça e assentir.

– Ótimo – concordou sério, e me ajustou na cama. – Chega de fisioterapia por hoje.

– Nem ligo – ouvi Jadir rir. Ele estava se divertindo com a atitude de Daniel? Por quê?

Senti que Daniel me deitara de barriga para cima, com alguns travesseiros elevando minha cabeça. Eu preferiria permanecer em seu envoltório. Ainda assim comecei a me sentir um pouco melhor e já estava pronta para abrir os olhos, quando um cheiro que não estava ali antes me chamou atenção. Cheiro... de fruta? Incrível como meus sentidos estavam melhor agora, quando minha visão não correspondia, nem meu corpo em si.

– Ô de casa! Posso atrapalhar o papo das mocinhas?

Aquela voz, forçando uma diversão que parecia não sentir realmente, era de quem?

– Tinha que ser o intrometido.

– O que você faz aqui, Emerson?

Emerson? Esse nome também não me era estranho. Aquele cheiro de fruta muito menos!

– Vim visitar a bela adormecida, não o seu séquito! – Ele estava mais próximo e pude sentir melhor o seu hálito. Cheirava a morango!

Abri os olhos no mesmo instante, assustada, mas não foi a luz que eu vi.

***

Eu me sentia bem contrariando o meu pai, ainda que me custasse castigos inimagináveis. Na verdade, me sentia impulsionada a cada vez em que ele me levantava a mão e mesmo quando desafiava o meu orgulho com o Azorrague. Continuar na banda me fazia bem, mas já não era o suficiente. Por isso, lembrando de nomes, ouvindo nos cantos dos clubes que eu frequentava, descobri qual seria o meu próximo passo.

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioDonde viven las historias. Descúbrelo ahora