30 - SEGUNDO DIA

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Daniel não era de falar muito e seguiu assim até eu o deixar no campus da universidade. Também não me alonguei nas brincadeiras naquele primeiro dia... Eu sabia que não poderia ir com tanta sede ao pote, mas foi difícil. Estava complicado controlar todos e tantos hormônios que cismavam em tomar minha mente e me fazer perder o pouco de razão que ainda me sobrava. Eu não podia deixar que a ocitocina me dominasse! Sendo assim, ativei o modo automático e deixei o dia acabar... Afinal de contas haveria outro dia e, no novo, eu estaria mais recomposta e segura no que tinha para fazer.

Todo o resto não me importava, mas eu ainda pensava, enquanto na academia, na noite subfebril que passei e o despertar encharcado após pouco conseguir dormir. Era o segundo dia...

Eu estava sozinha na área reservada, em um período de pouco movimento, fumando e tentando não mais pensar. Estava tão centrada no "nada" que nem reparei que haviam me deixado um copo de água na mesa. "Água?" Bem, eu havia decidido beber menos o álcool, ao menos naquela semana de jogos. Já era difícil controlar meus impulsos sóbria, embriagada seria impossível e isso me seria um "game over", na certa.

Eu já havia me informado e sabia que Daniel não apareceria na academia naquele dia. Mas, eu não estava preocupada com isso... Ainda que me focando nesse desafio, a fim de não me deixar consumir por uma loucura do vazio e do nada, eu poderia encontra-lo em outros lugares. Eu já sabia onde, só estava esperando a hora certa.

– Olá Vic!

Me sentindo meio robótica e totalmente entediada, virei-me para a voz que, claro, já sabia a quem pertencia. Era a loira!

– Oi – falei seca.

– Está conseguindo algo?

Notei seu tom burlesco. Eu tinha certeza que ela não jogaria limpo.

Suspirei e deixei o cigarro de lado, no cinzeiro, dizendo com um ar de "poucos amigos":

– É o segundo dia... Estamos apenas no início.

– Lembre-se, "Victória", faltam apenas "seis" dias! – Falou grotesca e enfática, mostrando seis dedos, sendo que o sexto dedo foi o dedo média da mão esquerda, e se retirou.

Ela iria aprontar na certa e isso só me incitava mais! Iríamos ver quem cairia primeiro...

Como eu não utilizava relógio de pulso e não estava a fim de me certificar pelo celular, desviei um pouco os olhos e me atentei ao relógio de parede do "café". Percebi, assim, que a hora já se adiantava. Mesmo não querendo pensar, eu havia ficado naquele mesmo local, na mesma mesa e mesma posição já faziam quatro horas.

Deixando de vez o cigarro, expirando a fumaça, me levantei e, agora sim, olhei para o celular. Não foi nada difícil conseguir o "segundo encontro".

A ocasião pedia um "look" mais formal, mas sem exageros. Não se tratava de uma festa de gala, mas um ambiente estudantil mais sério e maduro, ao menos na teoria. Optei por um vestido preto de renda, bem justo, com gola redonda, forro, quase na altura dos joelhos. Meus cabelos negros, já livres das mechas roxas horrorosas, com o comprimento até os ombros e as pontas em forma de "u", já estavam devidamente lisos. O lápis enegrecido ao redor dos olhos, assim como as "falsas sobrancelhas" evidenciavam o meu olhar que eram a minha principal arma. Eu sabia como deixa-los mais vivos e mais mortos, dependia apenas de mim e do quão farsante eu estivesse. O batom era róseo e o blush apenas me corava um pouco as "maçãs do rosto". O aroma do perfume deveria ser mais leve, mas exalando o suficiente para penetrar profundamente assim que aspirado e apenas dois dedos dele em cada lateral do pescoço... naquele dia. Por fim, o salto 12 centímetros da sandália de couro bronze me completava. Coloquei o casaco de pele Mink, que logo seria descartado, e saí. Era hora de ir ao encontro daquele dia.

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioOù les histoires vivent. Découvrez maintenant