18 - Victória

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Eu havia passado o dia com dores no estômago. A última crise tóxica, devido ao consumo de drogas, ainda deixara seus efeitos. Mas, àquela dor, em específico, me fazia rir. Achava ainda mais divertido não conseguir caminhar direito e ter que usar do amparo do corrimão e das paredes para me locomover. Foi assim, em um êxtase alcóolico, que ouvi uma conversa entre meus pais, na sala de reunião.

– Não dá mais para ela continuar aqui – era a voz do meu pai. – Muitos comentam sobre as coisas que ela tem feito e não dá para calar tantos milhões de pessoas.

– Também acho que aqui não é o melhor lugar para ela ficar mais – concordou minha mãe, como sempre. – Podemos manda-la para fora do país ou...

– Para o interior – concluiu meu pai. – Ela já está encerrando o colégio e perder as últimas semanas não fará diferença. Eu conseguirei com que ela se forme antes e, longe daqui ela terá que aprender a se virar por conta.

– Você pensa em manda-la para onde exatamente?

– Para a sua cidade. Quero ver se conseguirá se manter rebelde por lá, principalmente sem nossa ajuda, falando do lado financeiro.

Ir embora? Era isso mesmo o que eu havia ouvido? Antes mesmo dos dezoito? E sem o apoio deles? Finalmente livre!

Eu já não sentia as incômodas dores no estômago.

***

– E aí, Victória? Preparada para a sessão de fisioterapia de hoje?

Abri os olhos a tempo de perceber que me retiravam a máscara de ventilação. Eu ainda precisava de um suporte respiratório enquanto dormia?

Eu não estava na cidade em que fui criada e não tinha a companhia dos meus pais, agora eu tinha certeza. Mas, o que havia acontecido comigo para que eu estivesse nesta situação? Eu ainda não conseguia me lembrar o que me fizeram, ou o que eu mesma fiz, a ponto de quase me perder na escuridão para sempre. E mais importante...

– Cadê o Daniel? – Eu podia sentir que ele não estava. Isso me deixava mais cabisbaixa e vazia. Mas, eu precisava me concentrar! Precisava ser forte para me lembrar e, assim, poder alcança-lo.

– Em aula – respondeu aleatório. Parecia estar atento a outra coisa, talvez na verificação dos meus sinais vitais ou do aparelho de ventilação.

– Seu nome é Jadir, não é?

– É isso mesmo – falou com mais animação. – Nós tivemos aula por vários pares de meses e eu sempre pensei que você não sabia o meu nome. Mas, é claro que você sabe agora porque tenho vindo aqui te tratar.

– Nós tivemos aula juntos?

O nome dele não me era estranho mesmo. Porém, eu ainda não me lembrava...

– Pois é.... Já faz tempo! Mas, esqueça isso. Agora preciso que você se concentre na atividade que vou propor.

Eu ainda estava absorta, tentando forçar a minha mente para me lembrar, e mais importante...

– Por que Daniel não está aqui? Em todas as minhas sessões de fisioterapia ele esteve, não é?

– Sim, esteve. Eu acabei vindo mais cedo hoje.

– Ah entendo – ainda pensativa, percebi. – Da última vez acho que ele atrapalhou um pouco...

– Quase nada – o ouvi rir. – Acontece que hoje eu não poderia vir a tarde, então falei com a Helena que viria mais cedo. Acho que Daniel nem sabe que estou aqui.

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum