31 - TERCEIRO DIA

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Ser ou não ser... Fazer ou não fazer... Estar ou não estar...? São muitas as dúvidas, muitos os pensamentos e um turbilhão de emoções. Resultado: foi uma outra noite insone e subfebril... Era o terceiro dia!

Por estar envolta em trevas, eu não conseguia me atentar ao fato de que os sinais estavam diferentes desta vez. Eu até percebia algo no ar, mas não parava para pensar nele... Assim como o sentia, deixava se esvair e evaporar, se perdendo junto com a fumaça do cigarro; o único capaz de me manter mais tranquila e inerte.

Todavia, vez ou outra, eu sentia que o clima mudava. Que o negro se tornava mais negro. Acabava me lembrando dos meus agasalhos dados e "quase" nunca usados, com exceção daquela vez em que vi, ou pensei ter visto, um ser ambulante com um deles. Eu não conseguia me focar, mas não conseguia ser indiferente ao breu de todo. Eu ainda sentia calor! Também continuava doando meus agasalhos ao estranho garoto de boné, que agia sempre da mesma forma e estava presente no mesmo lugar em quase todos os dias. Ainda assim, eu não conseguia ver de onde vinha, muito menos para onde ia. Ilusão minha? Porém, pensamentos confusos e tensos a respeito só me abarcavam quando eu o via. Logo eu abstraía e voltava para a minha vida vazia, cujos objetivos eram fracos e obsessões estavam perto do zero. Perto! Algo mais mantinha minha mente funcionando, ao menos, por certo período maior.

Na academia, dirigi-me a sala vazia e escura do "Pilates", naquele mesmo lugar em que eu vira o meu "andarilho agasalho se perder" há poucos dias. Abri a pesada porta e a fechei, não me importando se haviam me visto entrar. Apertei meus olhos para apressar minha visão a funcionar em meio ao ambiente escuro. Eu poderia ir em busca do interruptor, do qual eu nem fazia ideia de onde estava, mas eu não queria acender as luzes. Preferia manter minha mente com poucos estímulos para assimilar e, assim, me concentrar no que tinha para fazer. Mesmo assim, eu precisava do mínimo da visão e, aos poucos me acostumando, fui tateando até conseguir perceber o aparelho em formato de tablado, com grades, faixas elásticas e de tecido, correntes e molas. Senti o barulho dos equipamentos de metal ao passar por eles, cujos sons me soaram tranquilizantes, e assentei no tablado. Deslizando minha mão esquerda por entre as correntes, busquei pelo celular, mantendo uma postura segura, sem hesitar, confiante para pronta dar o próximo passo daquele plano de aposta. Acionando o botão de atalho, logo pude ouvir a voz que eu almejara ouvir e que faria muito para que o oposto se fizesse mais do que uma vontade, mas que se tornasse uma necessidade imperiosa.

– Daniel? Sei que não haverá aula hoje a noite, assim como não houve ontem – ri de forma fraca, mantendo um tom tranquilo e provocante para cada sílaba, e continuei: – Gostaria de me encontrar com você no Czar, tudo bem?

Ele pareceu hesitar, é claro. Eu podia ouvir a sua respiração de modo mais audível do que a minha própria. Na verdade, essa não seria uma comparação justa. Faz algum tempo que eu acredito não respirar. Ainda assim, eu tinha certeza de que o envolveria. Eu sabia que não poderia atrai-lo apenas com a minha beleza, mas com a curiosidade em saber mais a meu respeito e minhas intenções. No entanto, ele não fazia ideia de que elas eram as piores possíveis... ou nem tanto! Iria depender do ponto de vista. O ouvi ainda questionar se "estava acontecendo algo", "como eu havia descoberto o número do seu celular", ao que, automaticamente e de modo afável, respondi:

– Segredos de mulher. Apenas sinto vontade de te ver.

Não sei definir se sou capaz de ser sincera, mas minha espontaneidade estava fazendo com que tudo me soasse mais fácil e menos digno. Ainda assim eu ansiava por vê-lo. Minha temperatura corporal aumentava e já me fazia transpirar só ao pensar nele.

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioWhere stories live. Discover now