21 - O QUE OBSCURECE A SUA ALMA - Daniel

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Era inútil tentar me afastar dela! Já parecia tarefa impossível antes disso tudo... Agora, essa impossibilidade era certa. Também era certo que eu desconhecia a Victória verdadeira. Estar ali, cuidando dela, já me mostrava muito. Mas, não dava para confiar... Ela já havia me enganado uma vez! Qual era a sua verdadeira face, afinal?

"Você sabe bem onde pisa, irmão... Mas, nem sempre, consegue agir com razão". – Maya.

Pois é Maya... Começo a perceber agora que não sou do tipo racional. Eu tento, mas não ajo assim na maioria das vezes. Se eu tivesse sido mais atento, menos iludido, confiasse menos...

"Sua empatia e caridade te destacam dos demais. Você é muito mais do que aparenta. É extremamente belo, tanto por dentro, quanto por fora..." ­– Maya.

Costumam sempre me superestimar. Mas, não sou tão bem adjetivado assim. Sou tolo, ingênuo, responsável para algumas coisas e não para outras. Além do mais, eu ainda carrego culpa, mágoa, temor e rancor. Não era fácil refazer o orgulho que fora ferido.

"As coisas nem sempre são como aparentam. Quando você vai entender isso?" – Maya.

Não foram meras aparências... Foram frases ditas em forma de sussurros, confidências, gemidos e suspiros. O calor de sua pele... Isso tudo me faz me sentir pior. Eu não podia me esquecer que graças a ela eu perdera a minha mãe para sempre.

"Você está tão focado que qualquer assunto mais que possa lhe interessar, acaba ficando em segundo plano. Infelizmente, eu não posso te ajudar..." – Maya.

Ainda contemplando o celular, franzi o cenho e logo o larguei de forma abrupta. Eu não havia percebido, imerso em meus pensamentos, que estava discutindo mentalmente com a desconhecida Maya. Mas, mais uma vez, ela parecia apontar algo em suas frases desconexas... Eu me esquecera de procurar por ela, mal tenho dado atenção aos que estão ao meu redor e pouco tenho me concentrado na faculdade. Nunca pensei que isso pudesse me acontecer. Eu precisava resolver aquela situação logo, ou eu acabaria perdendo tudo e todos que eu prezava. E eu sabia como fazer isso... Eu precisava saber mais! Eu precisava tornar o desconhecido, enfim, conhecido. Eu precisava conhecer a verdadeira Victória!

***

Eu costumava falar apenas o essencial com aquela mulher. Não era seguro ficar perto dela, ainda mais, sem testemunhas... Mas, não havia jeito. Naquele momento, ela era a única que poderia me ajudar.

– Helena? Eu...

– Ah, oi Daniel!

Estávamos na cozinha e ela parecia distraída com alguns papeis, até me ver.

– Victória está dormindo, então pensei que você talvez...

– Que eu o quê? – Falou sorrindo de forma estranha, me encarando, enquanto apoiou os cotovelos sobre a mesa.

Pigarreei incomodado, mas prossegui. Eu precisava enfrentar aquilo! Sentei-me de frente a ela e pedi:

– Você pode me falar mais sobre a sua sobrinha? A Victória, sabe...

– Ah sim – suspirou, desviando um pouco o olhar. Prefiro não pensar em sua visível frustração. Ela não poderia estar pensando que... ah, deixa para lá! – Victória não é minha sobrinha! Quero dizer, não de verdade...

Amenizou a fronte. Ela pareceu um pouco triste. Dei-lhe espaço para que continuasse, e assim falou:

– Ela sempre fui tudo o que eu quis numa filha, mas tão pouco é o que ela é – riu de forma triste, falando como se eu já não estivesse ali. – Nunca pensei que acabaria cuidando da filha deles. A princípio era por pouco tempo. Ela logo teria sua independência, sua maioridade, e caminharia por si mesma. Mas, como poderíamos imaginar que ela se machucaria tanto como agora?

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioWhere stories live. Discover now