17 - SUAS DORES NÃO SARAM AS MINHAS - Daniel

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Se focar tanto em alguém pode te fazer não perceber coisas óbvias, que estão próximas e são de extrema importância. – Maya

"Não é possível! Como "Maya" pode saber tanto? Definitivamente, ela ou a pessoa que anda me enviando mensagens está muito próxima. Eu nem sempre entendo o que ela diz em suas mensagens, mas algumas têm batido com o que acontece em um exato momento. Onde você está? Quem é você, afinal? O que você tem a ver com a Victória?"

– Por que você está tão calado hoje?

Por alguns instantes eu havia me esquecido de que estava cuidando dela novamente. O que estava acontecendo comigo? O que eu poderia estar perdendo enquanto focado nesse meu objetivo? Eu havia deixado meus irmãos de lado, amigos, colegas da faculdade... Isso não parecia certo. E era por ela! Era tudo por ela!

– Não há nada. Já acabou de comer?

– Já. Agora, preciso de ajuda para ir ao banheiro.

Me perdi por alguns instantes, outra vez, olhando para a Victória. Até pouco tempo, ela não tinha forças, nem coordenação suficiente para segurar um talher. Agora, ela já conseguia se alimentar sozinha... E, também, já fazia tempo que estava controlando melhor os esfíncteres. Ela, realmente, estava melhorando.

– É claro – apressei-me em seu auxílio, tentando abafar as distrações.

Eu nunca fui de ter tantos devaneios... Talvez, eu não esteja dando conta de tantas responsabilidades.

– Você não precisa me carregar, Daniel – alertou-me, com ar divertido, enquanto eu a segurava em meus braços, distraído. – Eu já consigo ficar sentada. Só me ajude a chegar até a cadeira de rodas.

– Tem certeza? Você ainda está... fraca.

Victória fechou um pouco a expressão, aborrecida. O que eu estava fazendo? Ela precisava se recuperar, então, eu não podia a cercar sempre! Sem nada dizer, a levei até a cadeira e a coloquei devagar. Foi então que a provoquei:

– Satisfeita?

Victória desfez a brabeza e falou:

– Ainda não. Mas, espero ficar.

Engoli seco. Ela também estava me provocando?

Dispensando a minha ajuda para guiar, Victória seguiu em frente, utilizando da força dos próprios braços. Ainda que ela estivesse com a visão deficitária, era certo que ela já havia decorado o caminho. Mas, só isso não bastaria para que ela conseguisse fazer tudo o que queria fazer no lavabo.

– Você não vai conseguir se virar sozinha aí dentro – continuei na provocação, tentando parecer divertido.

– Eu não preciso de você. – Ela parecia irritada outra vez e percebi que arfava.

Alterei-me logo também. Aquela maluca não iria tentar se transferir de assento sozinha, iria? ... Algo em mim me fez perceber de que a resposta era certa. Ah, ela iria! Me dirigi logo atrás dela e lhe chamei a atenção, com aflição:

– Hey garota, o que você pensa que está tentando fazer?

Segurei-lhe um dos braços, antes que pudesse executar a tarefa. Se ela a fizesse, por certo iria cair e isso lhe seria fatal.

Victória puxou o próprio braço, cruzando-o com o outro, e virou o rosto se distanciando de mim. Fiquei um pouco desconcertado com o gesto e a interroguei:

– O que foi? Fiz algo de errado?

Ela voltou o rosto, diminuindo as feições. Cabisbaixa falou:

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioWhere stories live. Discover now