38 - O REINO DO FELIZES PARA SEMPRE - Victória

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É mesmo a reta final!

Confiram o último capítulo narrado por Victória neste livro! :'(

Acompanhem-no ouvindo a música na multimídia, que simboliza a ação na trama!

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– Pronto Vivi. Você está bem assim?

Sorri ao perceber a preocupação da Helena e respondi:

– Estou ótima, tia. Obrigada.

Na verdade, eu não estava tão "ótima" assim, mas não a preocuparia mais.

– Filha... – Pareceu entristecida de repente. – Me desculpe. Por muito tempo cheguei a acreditar que você era realmente culpada pelo que aconteceu e...

– Não se preocupe, tia. Por um momento, eu também pensei que era. Só lamento não ter conseguido manter essa ilusão.

– Não fale assim, Victória – elevou o tom irritada. – Você não pode mentir para encobrir os outros. Não é justo nem para com você, nem para com os que foram afetados com todo esse terrível ato. Sei que você cresceu rodeada de enganos, mentiras, manipulações e traições. Mas, você não tem que seguir com essas atitudes. Seja verdadeira, filha. Seja você mesma que, eu sei, se trata de uma pessoa maravilhosa. A melhor de todas! A real Victória! 

Helena me abraçou e me beijou a testa. Senti uma ponta de comoção e esbocei um sorriso, mas eu ainda me sentia anestesiada. Era como se eu estivesse vivendo após um grande choque.

– Se precisar de algo, me chame – serenou.

– Obrigada, tia.

Eu estava sentada no sofá da sala de estar, após eu insistir de que não queria ir para o quarto. Queria apenas ficar em outro cômodo e pensar... Talvez, nem tanto assim. Quem sabe ficar inerte como antigamente? Não perceber as horas passando e, assim, ir sobrevivendo, afinal, que motivos eu teria para seguir com a vida?

Minha mãe sempre se preocupou muito com a aparência, é claro. Sua maior afeição a mim se resumiu a isso, aliás. Quando me debandei e me rebelei, ela, mais do que ninguém, se envergonhou de mim e ansiou para que eu me afastasse. Suzana não sabia ser mãe, na verdade, nunca quis ser. A última conversa que tive com ela me revelou isso e mais... Ela só me teve na esperança de que eu pudesse administrar as empresas do meu avô em um futuro próximo, pois o meu pai não era muito apto para isso, algo, é claro, que eles omitiam e vendiam como o oposto. César, o meu "pai", porém, se desagradara por ter tido uma filha mulher, ainda mais vaidosa e rebelde... Dizia que "mulher" só servia para uma coisa e, além de muito me bater, ele havia tentando, por mais de uma vez, essa coisa, me fazendo detestar a ele e a todos os da espécie. Eu cresci assim! Eu vivi assim por muito tempo! Mas, já não me lamentava por eles. Eu estava anestesiada! Não posso dizer que conheci pais piores, mas tão ruins quanto com certeza... Maya existia para me provar isso. E pensar que ela era aquele "garoto de boné"... Maya achou uma maneira de sobreviver, assim como eu. No entanto, infelizmente, ela havia calculado mal e as coisas saíram do seu controle. Ainda assim, confesso que preferiria estar no lugar dela, reclusa do mundo, das acusações, do ódio, do afastamento do Daniel... Ah, Daniel! Se eu pudesse fazer algo para vê-lo mais uma vez e feliz, eu faria sem hesitar. Ele me fez perceber a humanidade em mim, fazendo assim com que eu descobrisse os melhores sentimentos possíveis, dos quais eu não fazia ideia que pudessem existir.

Minha visão ainda não estava totalmente restabelecida... Na verdade, assim como meus pulmões, nunca mais estaria. Mas, eu conseguia enxergar um pouco melhor desde a última vez nesta minha dura realidade. Assim, eu avistei a forma do piano que parecia estar a poucos metros de mim. Eu havia conseguido dar alguns passos no hospital, com ajuda é claro, então decidi ir até aquele instrumento. Apoiei um dos meus braços no amparo do sofá, e com o outro, forcei em minha coxa para me ajudar a levantar. Meu ímpeto era ficar curvada, mas isso me faria cair... Então, eu decidi que não abaixaria a cabeça mais. Eu alcançaria o piano, como se minha vida dependesse daquilo. Era meu novo objetivo!

Apoiei na mesa próxima, derrubando um vaso. Não queria ser interrompida por ninguém que pudesse me ouvir, mas estava sujeita quando me pus a tentar fazer essa árdua tarefa sozinha. No entanto, pelo menos que eu percebera, ninguém apareceu. Não me atentei a minha volta, só ao que estava a minha frente... Era essa uma das técnicas que eu usava para alcançar o que eu queria e assim eu faria. Dei um passo tortuoso, em "X", e senti como se estivessem me empurrando para baixo. Estavam querendo me derrubar, mas eu não deixaria. Essa não seria eu se assim permitisse! Decidi que minha teimosia e perseverança continuariam comigo... Ainda que com objetivos fracos, era o meu impulso para a sobrevivência. Porém, havia um detalhe; não havia ninguém próximo a mim que pudesse me impedir de avançar daquela vez. Desta vez, a briga era com a gravidade e, a maior e mais persistente de todas, comigo mesma. Ajeitei os passos, usando de muita força com os braços para me segurar na mesa e me esgueirei para segurar na quina da estante próxima. O ar estava me faltando, óbvio, e eu já estava suando devido ao esforço, mas eu não desistiria. Só mais um pouco... No entanto, sentia que minha visão estava piorando. Da minha garganta uma explosão se fazia, queimando meu peito, me incitando a tossir. Tudo isso seria mais esforço e me geraria menos concentração no que eu tinha para fazer. Não! Não! Nada me impediria. Meu corpo me fez encolher e ao chão recorrer, mas, mesmo que me arrastando, eu chegaria ao piano. De joelhos e usando dos braços para me ajudar a guiar pelo chão, fui até o banco próximo e me sustentei nele. Com um esforço sobrenatural, me ergui e me sentei, ou desabei, que seja. O importante era que eu havia alcançado! O piano estava ali, com todas as suas teclas, com todo o seu som, com toda a sua magia... Ele me faria dedilhar e, mesmo sem conseguir cantar, o piano me faria sonhar e, quem sabe, me transportar para um reino de fantasia, cheio de "felizes para sempre"? Lugar onde eu poderia viver e contemplar o "meu rei" eternamente.

Eu havia me lamentado e, mesmo anestesiada, eu me lamentei e lamentaria até o fim dos meus dias ter perdido o Daniel; o único homem que me fez descobrir o amor. Ainda assim, eu precisava defende-lo de mim... Eu precisava proteger o "meu rei". Assim, permiti e aceitei o afastamento dele. No entanto, eu daria o que fosse para tê-lo perto outra vez.

Mesmo enxergando pouco e após algumas tossidas na tentativa de recuperar o ar, comecei a tocar uma canção... Era de amor... Era de paz... Era de sonhos! Ergui mais a cabeça, fechando os olhos e me deixando guiar pelos demais sentidos, logo percebi um vento me afagar os cabelos. Já haviam bem mais fios loiros saindo do meu couro cabeludo e se alastrando até a altura da minha nuca. Simbolizava o tempo? O meu novo tempo? Mas, de onde vinha aquele vento? As janelas estavam fechadas...

– É muito bom te rever melhor...

Meus olhos se abriram no mesmo instante e um forte golpe em meu peito se fez perceber. Era ele! Virei-me tão afoita que quase perdi o equilíbrio na banqueta, fazendo com que minhas mãos, que formigavam, me amparassem nela de forma involuntária. Mesmo com tamanha ação interna, não dei atenção a mais nada, e esbocei, enquanto uma lágrima desceu pelo meu olho esquerdo:

– Daniel...

Antes que eu pudesse dizer algo mais, senti sua proximidade e logo me abraçou. Não consegui conter as lágrimas de angústia e desabafo que eu havia segurado por tanto tempo e, mais uma vez, senti que não teria forças para tentar lhe explicar qualquer coisa. Na verdade, eu só sabia de duas coisas naquele momento: uma delas era que eu já não estava sob efeito anestésico. Daniel me despertara por completo. E a outra é que eu o amava mais que tudo... Mas, essa certeza eu já tinha desde aquele primeiro dia em que eu enfim o vi, tendo a ajuda indireta da Maya, é claro – o "garoto" que não era um "garoto", muito menos uma assombração. Era o meu cupido, a minha amiga, a minha irmã... A grande responsável por me unir ao único e grande homem da minha vida.

Contrastando com todo o meu tormento de críticas e proteção, retribuí forte o seu abraço, tendo a certeza de que não o deixaria ir embora mais. Por ele eu havia sobrevivido. 

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Quanta coisa nós passamos até aqui! Mas, e então? Como ficarão as coisas?

Até breve seus lindos! ;)

Música na multimídia: Instrumental de "The Power Of Love" - Gabrielle Aplin

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioWhere stories live. Discover now