ROSAS BRANCAS - Parte 2

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Victória

— Não pensa em ficar mais alguns dias, minha linda?

Já pronta para sair daquele palácio-prisão, fingi ponderar e falei:

— Não tenho mais nada para fazer por aqui, nona.

— Como não? Você estava tão animada com o jovem Bassanesi de manhã. Me conte a verdade. Vocês voltaram?

Não contive o riso.

— Fala, Cindy. Fiquei tão triste por vocês terem rompido. É o casal mais bonito que existe. Não vi outro nem parecido em novela alguma. E ele é tão romântico... Lembra quando ele enfeitou o seu quarto com rosas brancas?

Segurei o humor e quase engasguei outra vez. Um símbolo romântico para a morte. Nem mesmo a Cícera era capaz de perceber os desatinos. Henrique era domesticado. Ele jamais atacaria de forma ativa e evidente. Era muito educado para isso... E um jogador nato. O pior dos calculistas. Nisso eu destoei um pouco, confesso, com uma coragem suicida que jamais pensei que teria por tanto provocar meus pais. Talvez, por observar essas minhas características de forma tão precoce, meu avô estava pronto para me deserdar, caso as afrontas ultrapassassem a decência daquela alta sociedade podre. Acredito piamente que, se ele tivesse visto o que eu fiz para provocar o meu pai, ele teria me deserdado sem nem pestanejar. Mas, ainda não... Havia uma condição para que as empresas continuassem na família, mesmo eu jamais tendo administrado nada dela, nem pretendido. Eu ri. Ri muito. Ri do absurdo.

— Que humor maravilhoso — apontou Cícera. — Não pensei que a reunião havia sido tão boa. Mais um motivo para você ficar...

Gesticulei de forma negativa até me recompor e falar:

— Eu não pertenço a esse lugar, nona. Você sabe...

Eu já estava com as malas no carro, pronta para pegar o primeiro avião e ir... Mas, para onde? Nunca pensei que, após a morte dos meus pais, quando eu me senti totalmente perdida no que fazer, eu havia ganhado um novo fôlego para aquela nova tarefa: eu iria provocar o meu tenebroso avô no pós morte. As empresas "Nielsen" iriam ser despedaçadas. Era isso! Hora de voltar para a periferia...

— Pretende ir sem se despedir... Outra vez?

Como se estivesse posando para a "revista GQ", Henrique aguardava na saída da mansão. Aproximei-me apressada para bem perto dele. Qualquer um acharia que eu o estava seduzindo ou o contrário, mas nem aquele "Bassanesi", nem esta "Nielsen" cairiam naquele jogo de poder e miséria. Nós éramos os frutos da desgraça e sabíamos disso.

— Está com medo de quê, Bassanesi? — me pus altiva, sempre no nível dele. — Que eu faça cumprir os desvarios do meu insano avô?

— Cumprindo ou não cumprindo... — murmurou, fingindo analisar as mangas do Armani. — Só há uma decisão a tomar.

— E qual seria? — fingi curiosidade, mesmo sabendo a resposta.

— Voltar ao plano original, é claro.

— Ah — bufei com um riso. — Não pensei que você, logo você, se submeteria ao casamento forçado... Ainda mais com a humilhação da tentativa do primeiro. Muito pouca dignidade para alguém na sua posição.

O olhar dele mudou e foi num repente, qualquer um diria que havia enlouquecido ao se voltar para mim, apertar meus braços, me sacudir e gritar:

— Você não entende tudo o que está em jogo aqui? Não estou brincando, Victória. Sua insolência passou dos limites.

Estaquei por um instante, até o Henrique se conter e se afastar. Sua explosão não era surpresa para mim... Nunca seria! Nós éramos assim. Ele era eu, eu era ele... Então me expressei. Foi a segunda vez que eu gargalhei naquele dia.

FRAGILIZADO - Livro 3 [COMPLETO] - Trilogia Irmãos AmâncioWhere stories live. Discover now