Capítulo 13

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A paisagem naquele ponto já havia mudado muito em relação aquela onde eu havia sido abandonado

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A paisagem naquele ponto já havia mudado muito em relação aquela onde eu havia sido abandonado. As pedras eram cada vez mais frequentes, cinzentas, outras marrons, outras ainda cobertas de limo ou grama, mas se avolumavam por todo o lugar, enquanto desviávamos delas automaticamente e andávamos em direção às construções logo adiante.

— Quando ouvi o tiro achei que tivesse morrido.

Enne carregava a M416 com só uma das mãos, como seu novo objeto favorito, quase saltitante. Um sorriso estampava seu rosto entrecortado por manchas de sangue que escureciam a medida que seguiam, o ferro do sangue oxidando em sua pele. As facas parcialmente limpas estavam encaixadas em bolsos dispostos em sua roupa. Desejava encontrar uma daquelas em breve.

Uma vida para além das escolhas, uma vida de desejos, ora essa. Talvez Alguém fosse generoso, no fim das contas. Talvez tenha lhe permitido passar por essas experiências diferentes para que pudesse sentir, ter opções... a surrealidade das opções e dos desejos.

— Ela errou. — Respondi.

— Visivelmente — um sorriso de deboche no seu rosto e seus gestos apontando meu corpo intacto. — Você parece bem vivo para mim.

— Como você levou tão pouco tempo para chegar?

— Leopardo, como você é desconfiado!— Poderia ter acreditado no tom de ofendida assim que nos encontramos, mas agora já podia identificar algo que categorizei como sarcasmo. — Quantas você acha que elas eram?

Olhei com o canto dos olhos para ela, enquanto desviava de uma pedra particularmente grande. Enne e seus joguinhos.

— Duas.

— E você errou! — Ela disse com ênfase no 'o', prolongando a vogal em sua voz sussurrada, o que achei particularmente despropositado. — Eram três, caro Leopardo. Elas armaram tudo com bastante mérito, não posso negar. Devem ter esperado eu deitar e você subir em uma das árvores como você faz todos os dias. É sempre possível confiar em seus padrões, mas não podem confiar no meu, entende? Quando uma delas se aproximou para me matar eu a prendi debaixo do meu corpo e disse "diga-me se vocês o mataram e eu a deixarei viver". — Enne falava mudando a flexão de seu tom de voz, como se estivesse narrando uma história, era tão diferente dele mesmo. Como podia ser assim? Tendo vivido em um cubo com uma tela não deviam ser todos iguais? A aliada continuou como se seus pensamentos realmente estivessem só dentro de sua cabeça — Ela acreditou, disse que armaram uma armadilha. Mas você é meu aliado e eu já tinha feito a minha escolha. Tive que matá-la e corri com muito propósito, como você diz. Quase perdi a outra de vista e ela acabou me ouvindo. Lutamos um pouco. Por um momento achei que tinha quebrado minha costela e, nossa, como ela fedia. Foi então que ouvimos o tiro. Aproveitei a distração e consegui cortar seu pescoço. O sangue esguichou para todo lado, foi... nojento.

Estremeci, não sei se pela lembrança ou pelo receio do que Enne pensaria. Se Enne achava o esguichar do sangue nojento, o que ela acharia de um homo sapiens o bebendo. Notei que ela estava me olhando, parecia entristecida. Similar à expressão que fizera quando disse que eu gostava da solidão.

Desconhecidos #EFCWWhere stories live. Discover now