End Of The Day - 1

The announcement.

Era sete da manhã e escutava aquele som tão familiar e tão desagradável em algum lugar dos meus sonhos. O despertador.

Abri os olhos com dificuldade e movi meu corpo para o outro lado da cama, desligando o celular.

Por mais que a rotina exigisse muito de mim às vezes, eu tinha um emprego incrível. Morava sozinha desde que comecei a faculdade, cursei psicologia e aos finais de semana aulas e cursos de música.

Meus pais sempre foram amantes da música, eu tinha a quem puxar. Trabalhava em uma escola dando aulas de música para os alunos do ensino fundamental, e era tão doce.

Ao longo dos anos eu havia aprendido a tocar violão, piano e me arriscava até na guitarra. Alguns deles insistiam em dizer que eu cantava bem, porém eu faria só por diversão.

Todos os dias era a mesma história: levantar, me arrumar, tomar café da manhã, pegar o carro e sair rumo à escola, onde ficaria no mínimo até a hora do almoço.

As vezes acontecia de eu sair um pouco depois do horário, devido à reuniões, correções de provas ou mesmo conversas com os pais dos alunos.

Existia jeito mais gratificante de se trabalhar ao escutar o quanto minhas aulas inspiravam seus filhos? Filhos esses que sonhavam em ser cantores, guitarristas.

-Lauren?

Bia me chamou distante, também professora do colégio. Artes.

-Oi Bia, como vai? -a abracei-
-Tudo bem, tenho uma noticia boa pra você! -sorriu- Conversei com os coordenadores e vamos finalmente poder juntar nossos trabalhos do bimestre, o que acha?
-Nossa, incrível! -respondi genuinamente- Quer almoçar comigo? Eu estava de saída.

Beatriz concordou com o convite, ha muito tempo pedíamos para juntarmos a arte com a música. Éramos amigas desde que ambas começamos ali, sempre apoiando uma a outra, sempre perto uma da outra.

-Que tal se pedirmos para eles escreverem uma música ou explicar por meio da arte alguma letra que eles gostem? -falava empolgada-
-Eu acho interessante, e então dividimos as notas pra cada disciplina no final.

Acrescentei com um sorriso no rosto, levando a última garfada à boca.

Beatriz concordava, fazendo rápidas anotações ao mesmo tempo. Algumas sugestões surgiram na mesa e, horas depois, decidimos deixar o local.

A abracei com carinho, como um "até amanhã", e caminhei rua abaixo direto para o meu carro. O vento estava gelado e eu me perguntava porquê decidira não levar o casaco naquela manhã.

Olhei para os dois lados antes de enfim atravessar e, de frente ao meu carro, havia uma parede repleta e pichações e até propagandas publicitárias.

-Isso estava aqui antes?

Falei para mim mesma, franzindo o cenho. Como não teria percebido?

Destranquei o carro, ainda com os olhos na parede. Quando dizem que você precisa encontrar algo... Simplesmente acontecia.

Em meio à tantas palavras e cores, um anúncio específico prendeu minha atenção. Bati a porta do carro novamente e me aproximei sem pressa, curiosa, interessada.

Era um anúncio não muito maior do que os outros, porém mais bonito. Mais vivo, mais colorido. A fonte era destacada, para que qualquer um visse.

Cheguei suficientemente perto e passei a ponta dos dedos por entre a folha, realmente pensativa.

"Participe das seletivas para fazer parte da equipe de Harry Styles."

Era seguro dizer que todo o meu corpo sentia-se elevado por um estado de euforia. Sorri sozinha, anotando o endereço de e-mail fornecido para contato.

Entrei no carro novamente e apoiei todo o meu corpo contra o volante, pensativa. Iluminada com as ideias e sonhos abundantes já em minha mente.

Eu merecia aquela chance? Com tantas pessoas talentosas ao redor do mundo, meu talento seria alguma coisa? Eu teria capacidade de tocar na banda dele? Ser a banda dele?

Tirei o celular do bolso de trás e dei o maior zoom que pude, eu me certificaria de que não era um sonho ou alguma brincadeira de mau gosto.

Para entender qualquer coisa, você primeiro precisaria mergulhar de cabeça. Em outras palavras, você precisaria ser cativado. Meu coração estava mais do que decidido sobre o que fazer.