Conflict.

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-Você escutou isso?
-O quê? -falei assustada-
-Lauren, eu escutei, tem alguma coisa aqui.
-Para! Você sabe que eu tenho medo!
-O cara lá de baixo deixa alguém entrar sem a sua permissão?

Escutei a janela da cozinha bater com toda a força. Um arrepio gelado cortou todo o meu corpo.

-Pega o seu celular, rápido!
-Espera, fica aqui! -Beatriz me ergueu sua mão-
-Nós temos que... Ver o que foi... -minha voz saía trêmula-

Três passos e...

-Tem alguém aqui, socorro!!!!

Bia começou a gritar, indo em direção à porta.

-Para, para, por favor!!!

Posicionei minha mão em sua boca, em desespero.

-Vamos sair logo.
-Onde estão os celulares? Droga!

Bia e eu corríamos do jeito que estávamos até a porta. Minhas mãos tremiam e sentia que poderia vomitar.

-Lauren! Acorda, precisamos correr!
-O que houve? O que aconteceu?

Acordei como num pulo, tomando consciência de que acabara de ter um pesadelo.

-Vinte minutos atrasadas, vamos!

Beatriz corria pelo quarto e eu pude fechar meus olhos, agradecendo.

-Você está bem? -
-Tive um sonho tão ruim... Que bom que me acordou.

Olhei meu celular e levantei calmamente, minhas pernas ainda estavam bambas. Beatriz tomou um banho rápido e logo em seguida eu.

Pov Harry

Sala grande, espaçosa, confortável, com todos os instrumentos e uma acústica impecável.

Ajudei o pessoal a montar a bateria, o teclado, os microfones, as guitarras e o violão. Eu poderia sentir a ansiedade formigando por entre minhas veias.

Um espelho de parede à parede envolvia a sala, era desafiador se olhar o tempo todo. Eu me sentia ansioso para tocar, para vê-los, para ver Lauren de novo.

Foi quando a vi cruzar a porta. Belíssima. Lauren ria engraçado e mantinha um colar de rosa em seu pescoço. Ela parecia gostar das flores.

Eu não esperava nada, e então ela aparecia.

Simples como o fim de tarde. Me aproximei o suficiente para ouvir o que dizia para outro alguém.

-Estive lendo as partituras e tive dúvidas em algumas músicas, mas nada muito sério.
-Oh! -interferi- Eu te ajudo, estamos aqui para isso.

A conduzi para o centro da sala, chamando a atenção dos demais.

-Pessoal, eu gostaria de agradecer a presença de vocês hoje. Obrigado por terem vindo e obrigado por terem aceitado fazer parte disso. -sorri- Esse papel que vocês têm em mãos agora é a nossa setlist, seguiremos todas as noites.

Eles se entreolhavam, cochichavam e sorriam.

-Não posso deixar de reforçar que tudo o que faremos aqui, permanecerá aqui. Inclusive essa simples ordem. -apontei- Todos pudemos ler os contratos, nada pode ser compartilhado.

Fizeram que sim com a cabeça. A setlist, minhas roupas e mesmo disposição do palco serão mantidas em sigilo até o primeiro show. Noite por noite.

Pov Lauren

Sentei no teclado e minhas mãos tremiam de nervoso, por medo de errar, como se eu nunca tivesse tocado antes.

Harry se posicionava no centro, ereto, sério. A bateria estava logo atrás, na ponta esquerda duas guitarras e na ponta direita violões.

De acordo com suas instruções e as partituras a nossa frente, começávamos a tocar a primeira música. Eu inspirava e expirava consecutivamente, tentando me acalmar.

-Um, dois, três e...

Começamos, e no mesmo instante paramos. Alguém havia errado no tempo, e precisávamos acertar. Harry gentilmente pediu para que respirássemos um pouco, pois estávamos num ensaio e erros ocorreriam ali. Assim eu fiz.

Sua voz era rouca e profunda. Harry não estava forçando suas cordas vocais por completo ali, mas seu som saía com facilidade.

Mantinha as duas mãos apoiadas no suporte de seu microfone, olhos fechados, sentia-se em casa.

Durante as músicas, ele olhava através do espelho ou se virava apenas para fazer um sinal positivo com as mãos. Nos encorajando. Por várias vezes caíamos na risada com a forma que ele começava a se soltar e se mexia pela sala.

Harry emanava uma energia suave, dourada e leve. Sem igual. Seu apoio tornaria a coisa toda muito mais fácil. E possível.

-Ok, pausa de quinze minutos. Estão todos bem?

Harry colocou o microfone de volta ao suporte, virando-se. Em uníssono respondemos que estávamos bem, que concordávamos que uma água ou alguma comida poderia ser uma boa ideia.

Silenciosamente atravessei minha bolsa pelo ombro, eu sabia que teria alguma lanchonete lá em baixo.

-Está indo comer alguma coisa?
-Oh!

Respondi por impulso, me assustando com a sua presença agora tão perto da minha.

-Vamos lá, tem uma padaria logo ali. Podemos ir andando.

Harry disse segurando a porta do elevador, para que eu entrasse. Me encostei na parede do mesmo, encarando apenas meus pés. As vezes era muito perigoso olhá-lo nos olhos.

-Quando eu era mais novo, trabalhei em uma padaria. Não vou mentir, eu só queria levar as garotas ao cinema ou comprar as blusas do meu time da época.

Gargalhei, adentrando o local.
Ele era cativante.

Harry pediu um café e duas rosquinhas, o segui pedindo chocolate quente. Um chocolate quente nunca seria demais.

Eu poderia chamar de encontro ou éramos apenas colegas de banda tendo um bom momento?

-Eles estão olhando para nós...

Afirmei baixinho, mordendo meu lanche. Harry se virou sem nenhum filtro, encarando-os.

-Nossa, estão mesmo! -riu- Estão impressionados, um chocolate quente jamais encheria uma barriga.

Arregalei os olhos, fingindo ofensa.
Harry balançou a cabeça e suas bochechas rosadas me diziam que ele também estava com vergonha...

-Posso te fazer uma pergunta?

Vergonha essa que morrera bem ali, com seu olhar intenso.

Concordei com a cabeça, jamais o contrariaria.

-Você já esteve em conflito com o que sente e com o que o trabalho te obriga a fazer?

Ele estava sendo honesto, meu coração parava e ressuscitava.

Pela milésima vez naquele dia, meu coração parava.

End Of The Day - 1Where stories live. Discover now