CINCO

217 31 76
                                    


"Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós, gastando o mar
Pôr-do-sol, postal, mais ninguém"

Amado
Vanessa da Mata

********************************

Ponderava com meu ego ferido se teria coragem para ficar com alguém nesta festa. Sei que pensei nesta hipótese, mas há uma grande diferença entre a teoria e a prática.

Na minha cabeça parecia muito fácil chegar naquela festa e chamar a atenção de alguém. Mas só na minha cabeça mesmo. É lógico que seria complicado. Mas não impossível.

Já haviamos dados várias voltas no shopping em busca da roupa perfeita. Entrei em não sei quantas lojas atrás de um vestido preto que imaginei no meu subconsciente que existia. Quando estava desistindo de procurar, Tábata e Hugo me arrastaram para mais uma loja. A minha paciência tinha se esgotado. Mas por obra do destino, ou sabe se lá que força cósmica, encontrei o que tanto procurava.

Era um vestido preto. Com alguns cristais. Antes que pensem algo fora do nexo, não eram cristais verdadeiros. Eram uma imitação de cristais, mas não deixavam de serem bonitos aos olhos. Logicamente comprei o dito vestido. Serviu como uma luva.

Despedi-me de Hugo após tomarmos um sorvete. Afinal, o que seria nosso passeio sem um sorvete? Apressei-me para chegar ao apartamento e começar os preparativos para mais tarde. Estou com um pressentimento de que a noite será inesquecível.

O relógio marcava dez horas da noite. Estava mais do que pronta. Combinei de encontrar Tábata no centro, perto da boate, em um pub. Estava me sentindo muito bem comigo mesma, e com o resultado do meu esforço em ficar apresentável. Posso confessar que até que fiquei bonitinha com este vestido preto...

Já eram dez e meia quando cheguei ao pub. Estava lotado. Recebi uma mensagem de Tábata, avisando que chegaria em cinco minutos. Batia o pé impaciente à espera dela. Detestava esperar.

"Cheguei gata!!!" Gritou animadamente minha irmã, me abraçando por trás, o que me fez dar um pequeno pulo de susto.

"Nossa Tabs! Meu coração quase saiu pela boca!" Falei, sorrindo animadamente para ela, que retribuiu o gesto.

"Pronta para a melhor noite da sua vida?" Perguntou, já me arrastando pelo braço, em direção à saída do pub.

Confesso que estava muito animada com essa festa. Mas mais com a animação de Tábata. Era contagiante. Logo chegamos à entrada da boate, e minha ansiedade simplesmente triplicou.

"Uau!" Foi somente o que consegui sibilar. O lugar era de muito bom gosto. Está mais do que explicado todo o dinheiro desembolsado na entrada.

"Esse é o melhor presente de aniversário que você poderia me dar! Obrigada por ter vindo comigo maninha!" Tábata sorria feliz, e isso encheu meu peito de uma alegria genuína.

Nos dirigimos até o bar, tentando decidir qual drink escolher.

"Sex on the beach!" Disse Tábata, fazendo o pedido ao garçom. "E você Gabs?"

"Ainda estou decidindo..." Estava indecisa olhando a tabela de drinks, apavorada com o valor de cada bebida.

"Escolha a que quiser! Eu pago!" Tábata simplesmente tirou de minhas mãos a tabela, apontando o dedo para uma das bebidas.

"Mas é o seu aniversário hoje! Eu faço questão de pagar!" Peguei de volta o panfleto, finalmente me decidindo pelo pedido. "Pina colada". E seja o que Deus quiser.

"Boa pedida garota! Essa é das minhas!" Minha irmã estava impossível hoje. Mas tudo bem. Hoje ela podia qualquer coisa.

"Por que você não me deixou trazer Hugo?" Perguntei, já que ela gostava dele.

"Fala sério Gabs que você está me perguntando o óbvio?" Me olhava com uma cara de espanto.

"Do que exatamente você está falando Tabs?" Respondi com outra pergunta, em entender realmente o motivo de tudo isso.

"Acorda mana! O Hugo é apaixonado por você! Se ele viesse, não deixaria você nem respirar direito! Você sabe disso!" Me respondeu, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

"Não é nada disso! Somos amigos! Apenas amigos! E de onde tirou que Hugo é apaixonado por mim?" Acredito que se realmente meu melhor amigo nutrisse sentimentos por mim, eu teria percebido os sinais.

"Porque está escrito na cara dele! Não precisa ser nenhuma cupido para perceber que ele arrasta uma frota por você maninha! Coitado do Hugo! Tenho até pena por ele estar na friendzone!" Seu tom ironico se misturava as pequenas risadas, o que me deixou um pouco chateada.

Chateada comigo mesma. Pois se fosse realmente verdade o que Tábata havia me dito, fui incapaz de enxergar o quanto machuquei Hugo esse tempo todo.

"Eu não sabia..." Comecei as minhas desculpas, mas fui brutalmente interrompida por uma forte cutucada no braço.

"Senhor amado..." Tábata tinha uma cara esquisita nesse momento. Não sabia se ela estava bem ou se havia acontecido algo ruim nesse meio tempo em que tentava me explicar sobre Hugo.

"O que foi Tabs? Você está branca feito um guardanapo!" Amparei minha irmã, que continuava a olhar naquela direção específica e contrária de onde estávamos.

"Quem é aquele Deus ali? Eu acho que morri e fui para o céu..." Isso foi muito piegas. Até mesmo para Tábata.

"Mas de quem você está falando?" Virei-me na direção do olhar de minha irmã, procurando onde seu olhar repousava, e entendi o verdadeiro motivo de toda essa comoção.

Ele era alto, seus braços eram cheios de tatuagens, e ficava muito bem com suspensórios. A barba e o coque samurai lhe davam um ar de macho alfa. Devo dizer que ele não era feio. Para isso não serviria. E fazia bem o estilo de homem que Tábata gostava. Agora entendo a cara de besta dela. O bom era que o rapaz não tinha percebido nada.

"Tábata Mentger! Você está dando muita bandeira! Se acalme mulher!" Chacoalhava minha irmã, tentando fazer com que voltasse aos seus sentidos.

"Fui cegada por tamanha...beleza..." Tábata ainda estava em choque.

"Sei bem como é..." Poderíamos ser mais parecidas? Eu acho que não.

"Não entendi..." Sibilou ela, meio aérea, tomando um gole de seu drink.

"Outra hora eu te explico..." Sou mestre na arte de enrolar.

Tábata ainda encarava o estranho, e pelo visto, estava surtindo efeito. O rapaz tatuado notou a existência de minha irmã, e começou a encará-la de volta. Pelo jeito eu ficaria sobrando esta noite, como sempre acontecia.

O provável casal continuava seu flerte à distância, pelos exatos trinta minutos seguintes. Me senti totalmente ignorada por minha irmã, que agora parecia ter encontrado uma distração mais ao seu contento.

Cansada dessa situação, terminei meu drink e decidi ir ao banheiro, dar uma espairecida. A pina colada já fez efeito, já que estou mais tonta do que de costume.

Caminhava em direção ao toalete quando senti um braço me puxar. Seu toque era forte. O perfume, inconfundível. E o dono, mais ainda.

"Gabriela?"

A garota dos fones de ouvidoWhere stories live. Discover now