VINTE E SETE

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Estar ao seu lado foi o maior desafio que já enfrentei em toda a minha vida. Mas não me arrependo. Só de ver seu sorriso já valeu muito a pena ter me entregado.

"Bom dia linda..." Abri os olhos e pude contemplar aquelas orbes castanhas me encarando docemente.

"Bom dia lindo..." Respondi da mesma maneira, sorrindo de volta como a boba que eu sabia que era, recebendo um enorme sorriso daquela beleza ruiva.

"Queria poder ficar o dia inteiro aqui com você..." Abraçou-me apertado, e pude sentir seu perfume invadir minhas narinas. Melhor maneira de acordar.

"Seria um sonho ruivo..." sorri com a ideia de poder mesmo fazer isso com Johann. Mas por enquanto ficaria só no pensamento mesmo.

"Agora que estamos calmos, você finalmente pode me contar o que houve com seu amigo..." Johann parecia mesmo preocupado comigo. Seu tom de voz demonstrava cuidado e afeto, o que confortou ainda mais meu coração que já estava totalmente derretido por ele.

"Vem cá..." Puxei-o para mais perto, colocando sua cabeça em meu peito. Estavamos ainda nús, entrelaçados em minha cama. Não poderia estar me sentindo melhor.

"O que Hugo fez para que ficasse naquele estado?" Demorei muito para te acalmar..." Acariciava seus cabelos, passando minhas pequenas mãos por seus fios vermelhos, alisando-os com ternura.

"Na verdade o problema todo fui eu..." Minha voz saiu um pouco baixa, mas suficientemente alta para que Johann pudesse ouvir.

"Você? Não estou entendendo mais nada agora..." Levantou o rosto, encarando-me com uma expressão de dúvida. Levei minha mão à sua bochecha, fazendo um carinho em sua pele quente.

"Me prometa que não vai surtar ruivo." O adverti, pressentindo o furacão que estava por vir.

"Agora você está começando a me assustar..." Sentou-se na cama, cruzando os braços, o olhar apreensivo.

"Hugo...bom...Hugo disse que está apaixonado por mim." As palavras saíram falhas, mas não tirei os olhos de Johann em momento algum. Queria que soubesse que não há motivos para se preocupar.

"O quê???" O tom de voz subiu. Muito alto, para falar a bem a verdade. Essa não era a reação que eu esperava.

"Ontem, antes de você chegar, ele se declarou para mim..." Era um pouco embaraçoso contar isso, mas não queria esconder nada dele, nem queria mal entendidos entre nós.

"E???" Johann versão cuimento era a coisa mais fofa do mundo, mesmo estando irritado continuava lindo.

"Fiquei sem reação! Foi um choque! Não soube o que dizer! Apenas disse que não podia correspondê-lo da mesma maneira. Mas acho que ele não aceitou muito bem..." Segurava o lençol contra meu peito com força, encarando Johann a espera de sua resposta.

Então o ruivo levantou-se e começou a se vestir rapidamente. Não estava entendendo mais nada.

"O que ele te fez? Fala Gabriela!" Virou-se em minha direção, e pude notar toda a raiva que se instavala em seus olhos.

"Calma ruivo! Ele não me fez nada...Além de dizer que não daríamos certo..." As palavras saíram fracas, mas me recusava a acreditar nelas. "O problema todo foi que Simone apareceu bem naquela hora..."

"Simone??? Como? De que hora exatamente está falando?" Não foi minha intenção confundi-lo, mas acabei fazendo exatamente isso.

"Simone apareceu no exato momento em que Hugo tentava me convencer a ficar com ele...e entendeu tudo errado..."

"Isso só piora a cada minuto..." Johann passava as mãos pelo cabelos, visivelmente frustrado e nervoso.

"Posso dizer que nossa conversa não foi das mais civilizadas... Mas o importante é que acabou! Ou melhor, eu acho que acabou..." Ter a certeza absoluta de que a história tinha mesmo se resolvido era mentira.

"Arrume-se. Vamos tirar toda essa confusão à limpo." alcançou-me uma blusa e minha calcinha, as quais coloquei prontamente, levantando e indo procurar uma calça jeans, que localizei em cima da minha cadeira.

"Johann! Acho que não há necessidade disso! Já falamos tudo o que tínhamos para falar uma para a outra. Simone é muito imatura! Não vai aceitar nada do que dissermos!"

"Mas precisamos tentar! Não aguento mais esta situação meu amor! Quando poderemos viver em paz? E ainda tem o seu amiguinho que também não aceita..." Aquela cena partiu o meu coração em dois. Ver meu ruivinho com o semblante triste somente fez-me correr para seus braços. Precisava tranquilizar esse coração teimoso.

"Sei que as coisas não estão indo exatamente como queríamos, mas vamos dar um jeito... A propósito, adorei quando me chamou de amor..." Sorri para Johann, esperando que fizesse o mesmo.

"Mas é o que você é...o meu amor... Por que te chamaria de outra maneira?" Agora o sorriso dele apareceu, e muito mais amplo e iluminado.

"O que faria sem você ruivo?" Estávamos abraçados, nos olhando com todas aquelas sensações que se misturavam naquele momento.

"Provavelmente estaria me procurando, assim como eu estava...até te encontrar naquele dia, quando abri a porta de Simone..." Seu nariz roçava no meu, e nossas respirações já estavam ofegantes. "Você é a coisa mais linda que eu já vi em toda a minha vida..." Suas palavras eram sussurros, um chamado urgente pela sua boca.

"Idem..." Dessa vez iniciei o beijo, querendo explorar todos os cantos daquela boca macia. Foi um beijo lento, mas com entrega total. De ambas as partes. Sua língua invadiu minha boca, mas não protestei, muito pelo contrário, fiz o mesmo, sentindo seus lábios, sua língua na minha, sua mão em minha bunda, minha mão em seus cabelos ruivos.

"Acho melhor irmos, antes que nossos planos mudem..." Johann interrompeu o beijo com um sorriso sacana no rosto.

"Concordo..." Terminamos de nos arrumar e fomos em direção ao apartamento ao lado.

Johann bateu na porta com mais força do que deveria. Sabia que estava irritado. Sentia seu corpo tenso, e seus olhos denunciavam a irritação a cada minuto que se passava sem que Simone abrisse a porta.

"Simone!!! Simone!!! Sei que está aí! Abra a porta!!! Precisamos conversar!" O ruivo gritava, continuando a bater insistentemente, até que escutamos o barulho da fechadura.

"Finalmente! Pelo menos ainda sabe usar os ouvidos..." Agradeci por enfim a porta estar se abrindo, e Johann parar de fazer todo aquele barulho desnecessário. Acho que o ruivo tinha tomado as minhas dores.

A porta se abriu, mas para nossa surpresa, a pessoa que atendeu não era Simone. Eu conheço muito bem esse cabelo bagunçado. Mas não estou entendendo o que ele está fazendo no apartamento da Simone a essa hora, vestindo apenas uma calça de moletom. Quer dizer, eu me recuso a pensar que o que estou vendo está realmente acontecendo.

"HUGO???"

A garota dos fones de ouvidoOnde histórias criam vida. Descubra agora