QUATORZE

153 28 20
                                    


Meu coração quase parou de bater naquele segundo em que fomos surpreendidos. Tentei me recompor rapidamente, mas foi em vão. O que fizemos já foi feito. E fomos pegos em flagrante, sem chances de negação, por ninguém mais, ninguém menos do que minha irmã mais velha.

Era de se esperar que Tábata entrasse sem bater. Minha irmã era muito inconveniente às vezes, por mais que me doa admitir. A amo muito, mas esse seu jeitinho espaçoso me incomodava.

“Mas que gritaria é essa?” E como se não bastasse, surgiu da porta Martin, parando exatamente ao lado de minha irmã.

Suas expressões demonstravam todo o choque que estavam sentindo ao ver aquela cena. Eu, sentada no sofá, totalmente descabelada, com a blusa meio aberta, e o batom totalmente borrado. Johann sentado no chão, onde ficou depois que o empurrei, da mesma forma. Não sei qual de nós dois estava pior.

“Johann???? Mas o que...”” Martin estava totalmente confuso ao ver o irmão em meu apartamento. Ainda mais encontrá-lo naquele estado.

“Sério que você está perguntando isso Martin? Não está mais do que na cara que eles estavam no maior amasso antes de entrarmos?” Tábata sorriu, divertindo-se com a nossa total falta de palavras.

O ruivo apenas levantou-se e sentou-se ao meu lado, parecendo envergonhado. Suas bochechas estavam muito vermelhas, assim como suas orelhas. Dei uma pequena risada da situação em que estávamos. Não poderia ficar pior do que já estava.

“Não vão dizer nada? Você não tem nada a me dizer querida irmãzinha?” Tábata me analisava, sabendo muito bem como me sentia constrangida. Mas no fundo ela sabia que nesse teste eu já passei faz tempo.

“O que quer que eu diga?” Respondi, tentando arrumar meus cabelos, alinhando minha roupa. “Acho que a cena fala por si.” Olhei dentro de seus olhos, demonstrando não ter medo ou culpa pelo que fiz.

“Concordo com a Gabriela. Por acaso devemos alguma coisa para vocês dois?” Finalmente o ruivo se pronunciou, levantando-se do sofá, passando as mãos por seus cabelos.

“Mas é claro que não. Calma maninho, não precisa ficar tão nervoso. Só ficamos surpresos, pois não sabíamos que vocês dois estavam juntos.” Martin explicou-se, o que fez Johann relaxar, e as coisas se acalmarem.

“Não estamos juntos…” Me pronunciei, recebendo a atenção dos três. “Isso foi um erro. Um grande erro…” Continuava insistindo a ideia de manter o ruivo longe, pois era a coisa mais sensata a se fazer em uma hora dessas.

“Vocês dois podem nos dar licença por alguns minutos?” O tom político de Johann me pegou desprevenida, e quando suas mãos entrelaçaram nas minhas, me puxando em direção ao meu quarto, foi tudo rápido demais para que conseguisse impedi-lo.

“Você vai mesmo continuar insistindo nisso?” Sua voz era autoritária, mas o tom era baixo. Foi o suficiente para minhas pernas amolecerem mais uma vez.

“Sim.” Respondi, tentando parecer forte na frente dele. O que obviamente era mentira.

“Por quê Gabriela? Por que me rejeitas agora, se há alguns minutos atrás sei que me queria?” Johann estava mais próximo do que minha sanidade permitia.

“Eu...não posso. Nós não podemos…” Murmurei estas palavras, que eram as únicas que minha boca conseguia falar no momento. As únicas que decorei como se fossem verdades.

“Eu não acredito em você...eu me recuso a acreditar…” O ruivo parecia nervoso, lutando internamente contra sua raiva. “Olhe nos meus olhos e me diga que não sente nada por mim…” Nisso me segurou em seus braços, fazendo com que o encarasse. “Me diz que não me quer...e irei embora. Prometo que não insistirei.” Aquela última sentença foi como o maior dilema que já enfrentei.

A garota dos fones de ouvidoWhere stories live. Discover now