Capítulo 59 - Uma briga que eu nunca deveria ter ouvido

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... de desligá-la.★

Mesmo com o banheiro encharcado, eu coloquei a toalha em um lugar qualquer e entrei devagar tomando cuidado para não deixar que caísse mais água no chão. Meu pai vai me matar.

Eu só queria ficar ali, viajando em meus pensamentos. O que mais passou pela minha cabeça, é querer saber o motivo ao qual o Dani queria continuar com uma foto minha. Ele sempre tem algo a esconder de mim e eu sempre sou uma pessoa aberta demais. Estou começando a achar que eu deveria me fechar mais. Ter meus próprios segredos.

★Dica 291= Não seja uma pessoa aberta o tempo todo. Tenha seus próprios segredos.★

Tomei um banho rápido e mesmo sabendo que meu pai me mataria, deixei o banheiro molhado. Qualquer coisa eu dou um jeito de inventar uma desculpa esfarrapada. Mas com a minha madrinha por perto, é muito difícil que ele diga algo sobre isso.

Coloquei meu pijama simples branco com azul. Me sentia mais leve depois do banho e colocando meu largo pijama.

Eu carregava minha toalha molhada e quando entrei em meu quarto, minha madrinha estava sentada em minha cama, segurando e olhando fixamente meu diário. Quando ouviu-se o barulho da porta se fechando ela virou-se para mim com um sorriso meigo nos lábios.

— Oi, minha garotinha. Espero não estar te incomodando.

— Claro que não, madrinha.

Sentei-me ao seu lado e ela logo recolheu minha toalha para si deixando meu diário ao seu lado.

— O que faz com meu diário?

— Nada. Eu não o li. Apenas tentei imaginar o que você poderia ter escrito.

— Ah, são só coisas bobas. Sentimentos, pensamentos, aventuras, idiotices... Coisas do tipo.

— Eu já deveria imaginar. — Ela riu. — Deite-se, querida, já é tarde.

— Que nada. Dez horas da noite não é tarde.

— Sim, eu sei, mas acredito que esteja cansada.

— Um pouco.

— É melhor deitar-se.

— Claro. Se a senhora está pedindo, então farei.

— Não me chame de senhora. Assim vou parecer velha —  brincou ela, acabando por rir em seguida e eu a acompanhei.

Me deitei no travesseiro macio daquela cama e virei de lado de maneira que eu podia a ver.

— Alessandra, me desculpe pelo seu pai.

— Tudo bem, madrinha, é assim mesmo.

— Mas eu me sinto culpada por nunca ter a capacidade de fazer nada.

— Eu já disse que está tudo bem. Desde a morte da minha meia-irmã, é assim que as coisas são. Eu também não posso mudá-lo. Ninguém pode. A única que tem culpa nessa história sou eu.

★Dica 292= Tenha consciência de quando as coisas forem sua culpa.★

— Não diga isso.

— Não negue a verdade, madrinha.

Um suspiro foi tudo que ela conseguiu soltar.

— Minha querida, foi um acidente. Todos sabemos. Mas você sabe como seu pai é teimoso.

— Eu não sei. Não moro com ele tem muitos anos.

— Que seja. Faça pelo menos um mínimo esforço para esquecer tudo por um momento — sua voz era calma, mas podia notar-se a tristeza.

Ela me cobriu até os ombros com um cobertor não muito grosso de cor beje.

— Descanse, querida. Quero que amanhã acorde disposta a se divertir comigo.

Mostrei um sorriso falso. Lembrar do meu pai sempre me deixara triste e agora não era diferente.

— Boa noite, minha coisinha de mechas azuis. — Ela beijou minha testa.

Eu não consegui ver sua expressão, embora eu soubesse que ela estava triste, queria ter certeza.

Ela ligou o ar condicionado, apagou a luz e fechou a porta, me deixando no escuro apenas com meus pensamentos.

Por trás da porta, ouvi um suspiro e pela luz do corredor, pude ver a sombra que estava debaixo da porta.

— O que esse suspiro quer dizer? — a voz do meu pai era diferente da de hoje de manhã. Era calma.

— Preciso mesmo dizer?

— É por isso que eu odeio quando essa menina vem para cá.

— Você não mudou nada! — pela primeira vez, pude ouvir minha madrinha gritar.

— Não precisa gritar. Não sou surdo — me surpreendeu a capacidade do meu pai de permanecer calmo enquanto minha madrinha parecia estar explodindo.

— Ela sofre, sabia? — sua voz havia voltado a ser aquela calma e paciente.

— O problema é dela e não meu.

— Evandro, ela é sua filha! — ouvi algo estalar nas mãos da minha madrinha. Novamente percebia-se a fúria em sua voz.

— Eu nunca quis que ela nascesse.

— Como pode dizer isto? Até quando você será tão infantil em achar que não pode mais amá-la por um acidente?

— A culpa foi dela. Se ela tivesse o mínimo de consciência e noção das coisas, aquilo não teria acontecido.

— Ela era uma criança.

— Tinha doze anos.

— Mesmo assim, uma criança.

— De qualquer forma, se vai querer discutir comigo por causa dela, vai perder seu tempo. — Pôde-se ouvir a cadeira se mover. — A Sabrina quis cuidar dela por seus motivos, Rafa. Não me dê motivos para te odiar.

— Eu só quero que sua filha seja feliz.

— Você pensa demais nela.

— E você pensa demais em si mesmo. Por que uma vez na vida você não pode pensar na coitada e no quanto ela sofre? Me parte o coração a ver chorar.

Um suspiro forte saiu do meu pai.

— Meu amor, ela te ama muito e a cada minuto que passa ela pensa no que aconteceu e no quanto se sente culpada.

— E realmente a culpa foi dela.

Minha madrinha começou a chorar. Eu mesma chorei. Meu pai me odeia muito mais do que eu imaginava. Por que eu fui tão estúpida de querer ajudar minha irmã naquele desafio?

★Dica 293= Pense bem nas consequências de seus desafios.★

— Um dia você a amou. — Os soluços da minha madrinha eram quase incontroláveis. — E amou a Sabrina também. Você usa a desculpa que a Alessandra não foi planejada e que ela tinha noção, pra não admitir de uma vez por todas que está errado. A Alessandra é uma boa menina. Se importa com os outros. E você deveria ser assim.

— Esta discussão está encerrada — meu pai disse de forma firme e passos se distanciando, foram ouvidos. Tudo que restou foi o choro aflito da minha madrinha.

Ela entrou no meu quarto. Rapidamente, deitei e fingi estar dormindo.

— Levante, Alessandra. Sei que não está dormindo.

★Dica 294= Treine fingir que está dormindo.★

— Desculpa, madrinha.

— Tudo bem. Eu tentei, mas ele não me ouve.

— Sim, eu sei. Eu te disse, madrinha. A culpa foi minha.

— Não, foi querida e não me faça chorar ainda mais.

— Está bem.

— Fiz o que pude. Talvez eu possa tentar amanhã e...

— Esqueça, madrinha. Não vai dar certo.

★Dica 295= admita quando se sentir derrotada.★

O Que Uma Garota Deve FazerOnde histórias criam vida. Descubra agora