Capítulo 1

31.9K 2.1K 382
                                    

Matheus Narrando

Acordei bem cedo hoje. Patrão me chamou cedinho, com certeza algum serviço. Só me chama quando tem algo grande pra eu fazer.
Agora eu moro em um barraco no Morro do Alemão. Casinha pequena, só um quarto com banheiro e uma cozinha e sala. Cheguei aqui a 7 anos, com uma mão na frente e outra atrás. Sem nenhum centavo no bolso, precisando de um lugar pra ficar.
Quando saí do orfanato, no momento que passei da porta, pensei: E agora? Pra onde vou?
Não tinha pra onde ir, ninguém pra me ajudar. Mas tinha planos pra mim. Na minha cabeça, tava tudo planejado: iria arrumar um emprego qualquer e depois estudar alguma coisa, pra ter uma profissão.
Hoje rio desse pensamento, pois nada daquilo aconteceu, nada do que planejei pra mim.
Saí de lá, fui caminhando até uma parada de ônibus. Tinha exatos R$300,00 no bolso, porque eu tinha consertado a cerca da casa da senhora Vizinha do orfanato. Não quis nem saber pra onde ia o ônibus, só queria sumir daquele lugar, onde eu nunca voltaria. Fui até o centro, desci e procurei uma pensão baratinha. Foi a melhor noite de sono que tive, sonhei que estava livre e quando acordei, estava mesmo.
Levantei, dei um mijão e fui atrás de alguma coisa pra comer e de um serviço também. Essa foi minha rotina por um mês. Ninguém queria me dar emprego. Era sempre a mesma coisa:

-Tem experiência?

Matheus: Não tenho, mas aprendo rápido.

-Deixe seu contato que ligamos.

E como desgraça pouca é bobagem, meu dinheiro era pouco. Acabou e eu fiquei na merda de novo.
Lembro do meu primeiro roubo. Tava desesperado. Tinha que pagar a tia do quartinho e tava com fome, passando aperto.
Estava voltando de mais uma busca de emprego, e uma moça vinha com a bolsa aberta. De longe vi uma nota de R$100,00. Ela vinha falando no celular distraída, que se eu pegasse ela nem veria. Ela parecia ter condições, talvez nem desse falta. Fui caminhando do lado dela, pus a mão dentro da bolsa, peguei o dinheiro e ela nem percebeu.
O porém era que eu já tava muito atrasado com o aluguel. Tirei 30 conto pra um lanche, e o resto paguei a tia. Ficou restando uma parte ainda, mas pelo menos ia jantar aquele dia.
No outro dia, levantei e fui procurar emprego de novo. E pra variar eu não consegui nada. Eu vi outra pessoa distraída, e novamente me aproveitei.

Chegou uma época que deixei de procurar emprego, e vivi só desses furtos. Já tinha até feito amizade no meio dos moleque do mesmo "ramo".
Um dia eu tinha roubado um celular, já estava voltando pra casa. No outro dia ia dar pro parceiro meu, o Pequeno, vender lá onde ele mora.
Quando já estava chegando na pensão, o dono do celular me viu, veio gritando que eu era ladrão.
Eu nunca apanhei tanto, hoje já acho graça, mas no dia, parecia que tinha gente brotando do chão pra me bater, ninguém gosta de ladrão não cara.
Nesse dia, a senhora da pensão me expulsou de lá. Disse que não ia acoitar ladrão em casa e eu vim atrás do Pequeno aqui no Alemão.

Ele me ajudou pra caralho. Me apresentou pro chefe, que quando contei minha história, já me chamou de Rato. Disse que é bicho ladrão.

Sete anos depois tô aqui. Deixei de ser Matheus, pra ser o Rato. Hoje não roubo mais nas ruas. Não me interesso por dinheiro pouco ou por objetos simples. Gosto de roubar quem rouba de nós. Minha especialidade é Banco.

É! Desse naipe mesmo, naipe Robin Hood do crime. Quando patrão tem serviço grande, ele me chama. Tô aqui pra salvar o caixa. O dinheiro tá curto? Boca tá rendendo pouco? Chama o Rato, ele resolve!

Levantei e fui direto pra boca desenrolar o serviço, nem passei na padaria pra tomar um café. Patrão quando chama, tem pressa.

Rato: Fala tu patrão.

Patrão: E aí Ratazana, qual que é? - Falou rindo- Soube que tava na putaria ontem.

Eu gargalhei, já sabia quem tinha sido a fofoqueira, vulgo Pequeno, que já tinha passado o caso.

Réu- FINALIZADA Where stories live. Discover now