Capítulo 19

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Antes de mais nada, clica na estrelinha lá na moral?

E tome-lhe Maratona!

E tome-lhe Maratona!

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Rato

Já tava fazendo 15 dias que eu tava aqui, depois da visita da Lice. Agora tá começando ficar complicado, porque caiu uns cara de lá da Cidade de Deus, e foram trazidos pra cá.

CDD e Alemão são inimigos a maior cota, isso significa que eu sou inimigo deles, e vice versa. O caso, é que colocaram eles bem no meu pátio. Isso quer dizer que tô tendo que multiplicar meus olhos, porque a qualquer momento de distração, eles vão me matar. Isso é certeza! Eu só não posso é facilitar.

Mas tô sentindo o cerco fechando. Onde eu vou eles já estão ou chegando. Ontem mesmo, na hora do banho vi eles se aproximando de forma suspeita. Eles são em três, então dois se aproximaram e o outro ficou olhando pra porta. O que me salvou foi meus companheiros de cela que chegaram bem na hora, com o agente carcerário.

Minha ameixinha não voltou até hoje e, não recebo visitas. Não que isso me faça ficar mal, não! Já tô acostumado com a solidão. O que tá esquentando meu juízo é que não quero perde-la de vista de novo.

Quero saber dela. Saber como foi sua vida. Como era sua família. Quero saber tudo.

Às vezes eu queria que ela se lembrasse de mim, fico pensando seriamente em contar pra ela quem eu sou. Mas logo depois eu desisto. Por vários fatores, mas o que mais tá pegando no momento é a vergonha. Eu nunca tive vergonha de ser favelado, ou de ser ladrão. Foi o meio que eu tive pra sobreviver, então não considerava nada vergonhoso. Mas agora, tem ela!

Pela primeira vez, eu desejei ter uma vida diferente. Ela é advogada, tem família. E eu? Tenho nada, só a mim mesmo. Claro que tenho meus parceiro, mas no sentido de família, tô sentindo falta. No sentido completo da palavra: mãe, pai e irmãos. Esposa e filhos não. Nem nos meus piores delírios e crises existenciais eu desejo isso. Não nasci pra esse tipo de responsabilidade. Mulher naturalmente já é bicho complicado, as que a gente só come sem compromisso já enche o saco, imagina uma esposa que vc promete fidelidade. Deus me defenda!

Filhos então? Jamais! Minha vida não permite esse tipo de pretenção não. Hoje eu tô vivo, amanhã já não sei. E eu nunca quero por uma criança no mundo pra sequer correr o risco de passar por tudo que passei.

Meu colega de cela, o Marreta tem família. Quer dizer tem várias famílias, e agora mesmo tava me contando o trabalho que dá. Agora vc imagine, se uma família só eu tô renegando, imagine um monte.

Marreta: Vc tá errado Rato. A melhor coisa do mundo é ter filhos. Saber que aquele catarrentinho foi vc que fez não tem preço.

Rato: vc tá ficando velho e doido, isso sim!

Marreta: se liga Rato, fica ligeiro aí - quando olhei pra frente, vinha chegando o trio CDD, que logo se puseram ao meu redor.

- Grande Rato, vou te enrolar não. Tenho um recado da CDD.

Rato: Então não enrole - os outros dois já se colocaram ao meu lado, e ao lado do Muralha.

- o recado não é pra vc ladrão. É pro seu Patrão - encostou bem próximo a mim - diga a ele pra arrumar outro ladrão, porque esse aqui vai pro saco.

Olhei pro lado, e um dos noia já tava segurando Muralha, que falava pra eu me afastar. Mas não deu tempo. Olhei pra onde os agentes estavam, e eles estavam nos vendo, porém, viraram as costas. Filhas de uma puta.

Esses dois segundos que eu usei pra olhar ao redor, foram o tempo que levou pra eu sentir uma ardência na região da costela esquerda. O filho de uma égua me furou, com o que eu acho que é o cabo da escova de dente. Empurrei ele forte, mas no cambalear para trás, ele me furou novamente, um pouco mais abaixo.

Aí eu já cai ajoelhado. Coloquei a mão no ferimento, e saiu muito sangue. Até então não estava sentindo dor, mas agora já tava doendo. Tava sentindo falta de ar, e escutando muita gritaria.

Muita gente correndo, os agentes carcerário tavam vindo apressados : agora seus viado?? Algemaram ele levando pra não sei onde, vai ver é pra tal solitária que todo mundo aqui tem medo.

Outro carcereiro diferente me deitou no chão e nessa hora a dor tava piorando muito. Ele não estava entre os que tavam no plantão, eu nem conhecia. Só sei que ele gritava pra trazerem a maca rápido, mas essa bendita maca tava demorando pra cacete.

Quando a maca chegou, eles me imobilizaram e foram me levando lá pra dentro, passando por corredores que eu nunca passei. Com a maior paciência do mundo, parecia que tavam passeando e não que eu tava morrendo de dor ali ao lado.

Eu tava começando a ficar com sono quando nós chegamos ao que eu acho ser uma enfermaria. Tinha um cara todo de branco, que quando me veio correndo colocando as luvas. Gosto assim, agilidade quando se trata da minha vida.

Enfermeiro: O que aconteceu? - perguntou cortando meu uniforme

Carcereiro: briga no pátio. Esse levou a pior. Munhoz já foi avisar o diretor, ele tá vindo

Enquanto isso, eu não tinha mais simpatia por aquele enfermeiro. Ele tava mexendo no ferimento, e tava doendo pra porra. Eu gemia de dor e ele nem ousadia me dava.

A porta se abriu num baque, e um senhor baixinho de terno entrou. Era o diretor, que não tava com a cara nada boa pro lado do carcereiro.

Diretor: que porra foi essa?

Carcereiro: briga dos detentos no pátio senhor. Um deles tinha uma escova de dente, na qual o cabo foi afiado, que acabou atingindo esse detento Senhor.

Diretor: não podia ter acontecido isso com esse detento. Que porra!

Ele andava de um lado pra outro, prometendo punições pra os agentes que tava no plantão hoje. Apoiado! Tá certinho.

Enfermeiro: senhor, felizmente o arma usada era curta, então não atingiu nenhum órgão vital. Porém, ele perdeu uma quantidade considerável de sangue. Por isso, deve ficar em observação aqui.

Diretor: Mal! Mal! Isso é muito ruim pra mim. - olhou pro enfermeiro - tá certo Wilson, faça o que puder pra esse vagabundo sair daqui sem nenhuma cicatriz sequer. Enquanto isso, preciso avisar alguém sobre o ocorrido. Tem família vagabundo?

Só balancei a cabeça em negativa. Não tava aguentando nem falar, tamanho sono que sentia.

Diretor: Nesse caso, vou avisar sua advogada!






Gente, o número de visualizações é muito maior do que o número de votos. Como se sentir motivada a escrever assim?

Réu- FINALIZADA Where stories live. Discover now