Cap. 1 - Um recomeço...

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"Vou te contar agora a história de como eu me matei... morri para salvar o amor da minha vida.

Eu tinha 16 anos de idade, tinha uma família unida, morava na zona sul da capital, tinha um quarto muito estiloso, estudava no melhor colégio, minhas notas eram sempre altas, namorava o menino mais bonito e popular do colégio, tinha as melhores amigas – ou achava que tinha.

Até que um dia fiquei sabendo que o garoto que eu mais amava, meu namorado, estava me traindo com uma das minhas melhores amigas. Essa notícia me destruiu. Meus pais, no entanto, em vez de me ajudarem, me culparam pela traição, falavam que era minha culpa, que eu não fui tão boa assim para ele, que se eu fosse realmente boa, não haveria traição.

Já na escola, era menina culpada por tudo, meu ex-namorado espalhou mentiras sobre mim e sobre nosso relacionamento só para tirar a culpa das costas dele e então, fez com que todos do colégio pensassem que eu era a vilã da história.

Logo minha vida havia virado um inferno, era maltratada na escola, sofria bullying, ninguém gostava da minha presença e foi aí que aconteceu o pior.

Era no intervalo, como de costume peguei o lanche na cantina da escola e fui para um canto afastado de todos, sentei em um banco de madeira empoeirado, apoiei minha bolsa em meu colo, abri-a e retirei meu livro favorito que estava lendo pela terceira vez e assim fiquei quase o intervalo todo, comendo e terminando de ler. Logo olho para o relógio em meu celular faltava alguns minutos para todos voltarem às aulas, me levanto e caminho até o banheiro passando por um grupo de meninas que me encaravam e riram de mim, aumentei a velocidade dos meus passos, não olhei pra trás e me atirei pra dentro do banheiro fechando a porta atrás de mim.
Encolho-me toda em cima da privada, minha bolsa estava no chão, alguns segundos depois aquele grupinho de meninas entraram no banheiro chamando pelo meu nome.

Uma delas, a líder de todas, socou a porta do banheiro que eu estava e em seguida diz:

- Aí sua fraca, realmente ele é muito gostoso pra você. Talvez, você não soube satisfazê-lo porque olha ele deve dar trabalho – todas deram risada.

Logo uma delas, deu um chute na porta, assim derrubando ela. Me encolhi, assustada com o barulho. Duas vem me segurar pelos braços me puxando pra frente, fazendo com que eu saísse da onde estava. A outra estava com celular, filmando o que estava pra acontecer.

E, claro, a líder, a qual me disse aquelas palavras de ódio antes de derrubarem a porta, veio pra cima de mim, acertando em cheio um cruzado bem na linha do meu queixo, desmaiei na hora, só consigo me lembrar de alguns reflexos do o que aconteceu ali. Acordo com o sinal pra todos irem embora do colégio, estava jogada no chão do banheiro com muita dor no meu corpo todo, esperei algum tempo e então me levantei cautelosamente e fui caminhando pra casa.

No caminho, eu me lembrei que meus pais estão viajando, então eles não vão ver o que aconteceu comigo e assim não vão ter motivos pra colocar a culpa mais uma vez em mim.

Cheguei em casa, corri pro meu quarto joguei as coisas na cama, com muita dificuldade tirei a roupa, ficando só com as roupas intimas. Estava indo pro banheiro, meu celular vibra várias vezes e então pego pra ver o que era, e me deparo com os vídeos e fotos que tiraram de mim – aquelas garotas mandaram pra escola inteira. Jogo meu celular na cama, e corro pro banheiro e embaixo do chuveiro não aguento minhas lágrimas e assim elas começam a deslizar pelo meu rosto.

Toda molhada e com o chuveiro ligado, vou até o armário do banheiro e pego minha navalha toda suja de sangue seco, não consigo nem sequer olhar pro espelho, odeio meu corpo e ainda mais com essas marcas roxas espalhadas, me sinto horrível.

No meu rosto, meu olho pequeno agora está roxo e inchado, minha boca está toda cortada. Meu corpo magro, está todo dolorido por dentro, mas não aparentavelmente roxo. Meu braço, junto às cicatrizes de automutilação está roxo e não consigo nem mexê-los direito. Não consigo me manter em pé por muito tempo, pois minhas pernas não aguentam de dor.

Enquanto corto por cima das cicatrizes mais uma vez, surge um ódio dentro de mim, uma voz na minha cabeça diz pra eu cortar mais fundo dessa vez e acabar logo com tudo isso, mas, era covarde o suficiente para acabar com esse sofrimento, as lágrimas começam queimar meu rosto, como se fossem fogo, começo a soluçar de desespero. Logo a tristeza começou a crescer em meu peito - eu lutava todo dia para levantar da cama e sair do meu quarto, não sentia mais fome, não sentia mais vontade de viver, e ninguém ligava. Naquele dia cheguei ao meu limite, eu não aguentava mais, chega de humilhação.

Limpo a bagunça que deixei no chão, jogo a navalha na gaveta e deixo que o sangue seque mais uma vez. Volto pro chuveiro, termino o banho, limpo o sangue em meu antebraço e por fim, desligo e saio, puxando a toalha junto ao meu corpo e secando toda a água, tendo que secar mais de duas vezes as lágrimas que continuavam a escorrer pelo meu rosto. Volto pro meu quarto, pego as primeiras roupas que eu vejo, me visto e jogo tudo que há dentro da minha bolsa de escola no chão e assim, vou pra cozinha encho a bolsa de suplementos, remédios e água. Lembro que na gaveta do meu criado mudo tem a minha mesada do último mês, não é muito, mas ajuda, então pego o dinheiro, roubei a chave de um dos carros de meu pai, jogo tudo dentro do porta mala e começo a dirigir.

Queria dirigir para bem longe, dirigir sem saber o destino, queria deixar tudo para trás, e recomeçar uma vida livre, sem planos, sem traições, sem críticas, só eu e agora, meu novo carro.

Eu dirigia de cidade em cidade, procurando um motivo para querer viver novamente. Levo comigo uma faca pequena de bolso que achei perdida no meio da estrada, uso-a para roubar qualquer pessoa que eu visse só para conseguir um pouco de dinheiro para poder comer, e ter pelo menos um quarto em um motel qualquer para passar a noite e no dia seguinte voltar para a estrada, havia dias que nem um quarto em motel eu conseguia pagar, tinha que dormir no banco traseiro do carro.

Minhas cicatrizes já não doíam mais como doíam antes, elas só me lembravam um tempo da minha vida que eu tive que passar para estar onde estava. Mas, mesmo assim eu continuava a me cortar, aquilo era como um vício, uma droga a qual eu não conseguia viver sem.

Até que cheguei em Poison, uma cidadezinha do interior, com poucos habitantes – cidades assim são as que eu mais gosto, bem mais fácil de roubar...

Até que cheguei em Poison, uma cidadezinha do interior, com poucos habitantes – cidades assim são as que eu mais gosto, bem mais fácil de roubar

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Espero que tenha gostado!!
Logo postarei novos capítulos.

Um dia após meu suicídio. Where stories live. Discover now