Cap. 3 - "conheço esse drama"

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⁃ Quem é? – Sinto um frio na barriga.

Eu suspirei, criando coragem para conversar com a pessoa que mais me criticou. Eu sempre imaginei que ela fosse estar em meu lado, mas no momento mais difícil da minha vida, me deixou.

⁃ Oi, sua filha está? Eu sou uma colega de escola e quero falar com ela.

Minha mãe do outro lado da linha ficou em silêncio por alguns segundos, consegui ouvir sua respiração de surpresa, então, ela recomeçou a falar:

⁃ Quem é? Acho que você se enganou, não tenho nenhuma filha, nunca tive! Como conseguiu esse número?

Meus olhos se encheram de lágrimas ao ouvir a voz de minha mãe falando aquelas palavras. Realmente era o que eu pensava, ela nunca me considerou e nem sequer eu faço falta. Uma lágrima escorre e rapidamente limpo com a manga da minha blusa.

⁃ Ah! Devo ter discado o número errado, mil desculpas!

Falei já colocando o dedo no botão de desligar, mas ela recomeçou a falar:

⁃ Não foi nada querida. Só um momento, eu conheço sua voz, já nos falamos antes? - Dei um sorriso amarelo, ela não reconhecia a voz da sua própria filha.

⁃ Acho que não, você deve estar me confundindo com alguém. Bom, tenho que...

Então um braço surgiu de trás de mim e apertou meu dedo que ainda estava no botão de desligar fazendo com que a ligação ficasse muda. Uma raiva muito intensa surgiu em meu peito, eu sei que aquela mulher nunca fez questão de ser presente em minha vida, mas sua voz ainda me confortava, eu poderia ouvi-la falar à tarde toda.

Tirei meu dedo de baixo da mão da pessoa de atrás de mim e me virei rápido, meu rosto queimava de tanta raiva.

Mais uma vez aqueles olhos de tempestade, me observavam com sua mão ainda segurando o botão, enquanto a outra estava em seu bolso. Nossos rostos estavam a centímetros de distância.

⁃ Você de novo, o que quer agora? Eu estava em uma ligação muito importante!
- Falei em um tom alto. Ele ainda me olhava sério, tirou sua mão lentamente do botão a colocando em seu bolso.

⁃ Eu quero fazer uma ligação, você estava demorando muito, fedelha, - fiz uma careta ao ouvir meu novo apelido - já estava até formando uma fila! - Ele falou em um tom de sarcasmo.

⁃ Não importa! Essa ligação era muito importante... - Agora meus olhos se enchiam de lágrimas, olhei para o chão colocando minhas mãos em meu rosto, escondendo as lágrimas - Você sabe quanto tempo eu não ouvia a voz da minha mãe?! Você não entende!

Ele observou as cicatrizes em meus braços, suspirou, então falou calmamente:

⁃ Você é daquelas que se acha a vítima né - ele falou apontando para meus pulsos – Conheço esse drama...

⁃ Você não me conhece!

Falei o interrompendo, ele fingiu que não ouviu e continuou:

⁃ Se fazendo de vítima da sociedade, dizendo que os pais não te entendem então ficam se cortando para chamar atenção, que clichê, mas fugir de casa é novo, parabéns pela criatividade! - Ele bateu algumas palmas em um tom de sarcasmo - Mas agora a menininha está com saudade do papai e da mamãe não é mesmo?

Ele deu risada, fiquei com tanta raiva que podia acabar com aquele rosto tão bonito do rapaz, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele recomeçou a falar:

⁃ Agora me dá licença para eu fazer uma ligação, fedelha - Ele me empurrou levemente, eu não consegui controlar a raiva que eu tive por aquele rapaz àquela hora.

Um dia após meu suicídio. Όπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα