Cap. 13 - "Agora é diferente"

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Observei o moreno sentar confortavelmente na cama, levando os curativos até a perna, tentando enfaixar o local da bala, já meio cicatrizado.

Seus cabelos escuros estavam molhados, suas tempestades estavam claras, tranquilas, Nick fazia o curativo desajeitado, até que um rolinho caiu no chão.

Nicholas bravo, tentou pegar o que cairá sem se levantar da cama, eu fui até o rapaz calmamente, me agachando para pegar o tolinho, o devolvendo, ele me olhou meio bravo.

    - Eu não precisava de sua ajuda - Falou pegando o rolinho da minha mão - Consigo fazer isso sozinho!

Balancei a cabeça positivamente em silêncio, com meus olhos em seu ferimento na perna, levei uma das mãos ao local do tiro, fiz um gemido de dor e angústia, eu realmente me sentia culpada por aquilo, mesmo que o rapaz merecesse aquele tiro.

    - Me desculpe... - falei baixo, virando meus olhos já cheios de lágrimas para o rapaz sentado na cama - Por favor, me desculpe, eu...

   - Pare de se desculpar! O que foi feito, foi feito! Não vai mudar nada se você se desculpar! - Agora ele recomeçou a fazer o curativo, falando baixo - Eu ainda iria ficar com um tiro na perna...

Então tirei o rolo de sua mão rapidamente, ouvi Nick falar algo como "ei!" mas não dei ouvidos, fazendo seu curativo com cuidado.

   - Você fez meu curativo, - falei apontando com meu dedo, indicando meu abdômen - agora vou fazer o seu.

Nicholas revirou os olhos murmurando algo como "Faça o que você quiser!" então ficamos em silêncio, fiz o curativo rápido, mas com cuidado.

Quando acabei, Nicholas se levantou, foi até o banheiro, saindo logo em seguida só com uma bermuda.

Então, foi até a cama pegou alguns lençóis e travesseiros, os jogando no chão.

    - O que você está fazendo? - Perguntei sentando no canto da cama.

   - Não vou dormir nessa cama com você! - Ele falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Dei risada, me levantando, indo até o moreno.

    - Não vou deixar você dormir no chão! E além do mas, você não já dormiu em muitos motéis com muitas garotas?!

Estamos frente a frente, suas tempestades me fitavam, sentia que o rapaz conseguiria ver todos os meus segredos e... isso me assustava.

    - Agora é diferente...

Sua voz rouca ecoou pelos meus ouvidos, "o que era diferente?" pensei, não entendi muito bem a "diferença", mas dei de ombros, Nick iria teimar que iria dormir no chão até eu ceder.

Então, me virei, andando até o banheiro, fechando a porta atrás de mim.

  O banheiro era grande, no centro do cômodo havia uma banheira de hidromassagem, em um canto duas pias enormes com um espelho do mesmo tamanho na parede e, no outro canto, um chuveiro

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O banheiro era grande, no centro do cômodo havia uma banheira de hidromassagem, em um canto duas pias enormes com um espelho do mesmo tamanho na parede e, no outro canto, um chuveiro.

Lá no chuveiro, eu pensava em minha vida, em tudo o que eu já passei, minhas falhas, minhas vitórias, cada uma me fez amadurecer de algum modo, me fazendo ser quem sou agora.

A água quente do chuveiro batia em minhas costas, molhando meus curativos, sentia a água percorrer por todo o meu corpo, até chegar ao meu pé e escorrer até o ralo.

Então, de repente, surgiu a imagem da minha família em minha mente, mesmo não sendo uma família amável como as outras, a minha me dava uma certa segurança, eu era uma princesa em seu castelo, até que aquele castelo que eu construira com um pouco de felicidade que tinha, desmoronou, não sobrando nada para o reconstruir.

Quando percebi, já estava sentada no chão do banheiro, chorando. Mesmo querendo deixar minha família e minha antiga vida para trás e seguir em frente, eu realmente sentia falta de tudo, ir para a escola, ter amigas, ter uma casa fixa...

Então deu um aperto em meu coração, aquela mesma tristeza de sempre invadindo meu peito, aquela mesma dor que faz eu me machucar, machucar meus pulsos. Uso a automutilação para tentar tirar essa tristeza de meu peito, ela fica melhor em meus pulsos.

Me levantei, minhas lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto, que antigamente estava sempre alegre, fui até a pia procurar algo para vencer essa tristeza horrível, aquilo era um vício, quanto mais fazia, mais sentia prazer em continuar fazendo. Achei umas lâminas de barbear fechadas, junto com algumas camisinhas dentro da gaveta da pia.

Tirei a lâmina da caixinha, olhando para meu pulso já cheio de cicatrizes, mais lágrimas surgiam em meus olhos, eu sabia que aquilo não estava certo, mas eu precisava fazer, era o único modo de tirar aquela tristeza do meu peito.

Levei a lâmina até minha pele molhada, senti a frieza da lâmina cortar meu pulso, arrancando sangue e dor. Quatro cortes já bastaram para aquela tristeza.

Depois de fazer os cortes, observei meu sangue escorrer pelo meu braço, até pingar no chão, aquela ardência dos cortes... como adorava sentir aquilo.

Voltei ao chuveiro, a água ainda quente se misturou com meu sangue, deixando o chão com um tom de rosa bem claro. A água entrou em meu corte o fazendo arder mais ainda.

Quando parou de arder e sair sangue, desliguei o chuveiro, pegando a toalha e me secando. Sai do box do banheiro, colocando a mesma roupa que estava antes. Calça e o moletom grande.

Olhei no espelho em cima da pia, meus olhos estavam um pouco inchados por causa do choro, minhas bochechas um pouco rosadas por causa da água quente, meu cabelo estava preso em um coque desmanchado no alto da minha cabeça.

Abri a porta do banheiro, entrando no quarto, os lençóis estavam do mesmo jeito, jogados no chão, Nicholas não estava no cômodo.

Fui até a cama, vendo um pequeno bilhete em cima do criado-mudo, peguei aquele pequeno pedaço de papel, "Sai. Volto logo." e mais em baixo estava "Não sinta minha falta!".

Então o coloquei no lugar que achei, me deitando na cama e logo pegando no sono.

Um dia após meu suicídio. Where stories live. Discover now