Cap. 39 - "morta, por nossa culpa"

2.7K 251 13
                                    


  Estacionei o carro em frente a uma casa pintada de azul, com um jardim bonito, havia até uma cerca recém pintada.

Achei graça por aquela casa simples, algum dia ter sido da fedelha.

   -  Vamos lá... - murmurei, abrindo a porta do carro, a fechando com cuidado com a carta em mãos - Pela pirralha.

Comecei a adentrar o jardim, andando apreensivo até a porta de madeira, levando meus dedos trêmulos até o batente, batendo algumas vezes. O som da madeira ecoou pelos meus ouvidos.

Fazia quase um mês que Isabele se foi, mas, mesmo tendo passado esse tempão, ainda assim me sinto como no mesmo dia em que a perdi. Meus sonhos não mudaram desde então, ela se matando, de novo e de novo, como no loop daquele vídeo infernal.

- Quem é? - uma voz soou lá dentro, fazendo meus pensamentos irem embora.

- Vim entregar uma carta - suspirei - Megan Johnson?

  A porta se abriu sem aviso, olhos castanhos me fitaram, me deixando extremamente assustado, aqueles olhos castanhos... pensei que nunca mais veria olhos como aqueles.

   -  Sou eu - ela me olhou de cima para baixo - e... quem é você? - sua voz era doce, mas, ainda assim, me dava calafrios - Definitivamente não é um carteiro.

   -  É - minha voz falhou - não sou.

  Suspirei, passando as mãos pelos meus cabelos escuros, tentando formar uma frase, não tinha nem ensaiado como iria falar quando chegasse, que burrice!

   -  Eu conheci a Isabele. - seus olhos se arregalaram, ela me olhou apreensiva, segurando fortemente a maçaneta da porta, se segurando para não fechá-la em minha cara - Sua filha não é? Ela mandou eu te entregar essa carta.

  Estendi minha mão com os papéis com a caligrafia da minha suicida.

   -  Isabele? - sua voz agora não estava mais doce - c-como ela está?

  Me segurei para não responder "morta, por nossa culpa", me endireitei, tentando não soar ridículo:

   -  Por favor, leia a carta.

  Suas mãos pegaram as folhas, abriu os papéis, começando a ler.

  Logo lendo a primeira frase "Vou te contar agora a história de como eu me matei... morri para salvar o amor da minha vida" seus olhos se encheram de lágrimas, a mulher levou uma das mãos a boca, suas pernas perderam o equilíbrio, a peguei pelos braços.

Megan se segurou em mim, me abraçando em prantos, me assustei com o contato tão repentino, porém a abracei de volta.

- Me desculpe, - sussurrei - foi tudo minha culpa.

- Ela fez o que fez porque quis, ela te amava, - ela falou entre os soluços - eu também tenho parte da culpa, a pressionei demais, deixei o orgulho me cegar

Um dia após meu suicídio. Onde as histórias ganham vida. Descobre agora