Introdução

1K 72 90
                                    

Aquela era definitivamente a ultima vez que eu deixava Tony programar o nosso fim de semana e me arrastar para os seus roles esquisitos. Jamais acreditaria de novo quando dissesse que tinha algo legal para fazermos, um evento imperdível.

De agora em diante eu estaria 100% encarregado de nossas saídas.

Bom, não dava para esperar muito de uma saída com Tony para um lugar para o qual não queria levar sua namorada Pepper.

Estamos em um prédio em reforma da universidade, no que costumava ser o auditório. Estava abafados e cheio de poeira, todas as cadeiras estavam empilhadas num canto junto com materiais de construção, estava abarrotado de universitários gritando e se esbarrando.

E fazendo apostas.

Não podia nem começar a imaginar sobre o que eram as apostas, e temia que, se descobrisse, ia preferir ter continuado na ignorância.

Tudo que eu queria naquele momento era o conforto da minha cama e o silêncio do quarto que dividia com o Stark.

Ou apenas estar num role de gente normal e sem ter meus pés pisoteados e num lugar que desse para se mexer e respirar.

- Não acredito que você me trouxe aqui para isso, Tony! – gritei perto do seu ouvido para que ele me ouvisse.

- Vai ficar divertido, Steve!

- Eu e você temos claramente visões diferentes sobre diversão. – falei emburrado.

- Bom, agora que já está aqui, poderia aproveitar o momento e tentar se divertir. Fazer umas apostas, quem sabe.

- Eu nem ao menos sei do que se tratam essas apostas.

- Vai saber logo logo – Tony piscou para mim e foi falar com outra pessoa, fazer uma aposta possivelmente.

Encostei numa parede e me encolhi o máximo possível para que ninguém esbarrasse em mim ou pisasse no meu pé. Aquele lugar estava com certeza além da capacidade. Pelo menos dali eu tinha uma boa visão de toda a sala. Não que eu estivesse muito interessado em qualquer coisa que podia acontecer ali além de uma debandada.

Todo aquele bafo e gritaria estavam me dando dor de cabeça e me deixando claustrofóbico. Só queria que acabasse logo o que quer que fosse começar.

De repente, no que restava do palco do auditório, subiu um universitário magrelo e animado; ele cumprimentava todas as mãos esticadas na sua direção. O garoto levou um megafone à boca, não entendi todas as palavras, mas parecia estar se apresentando, chamava Peter.

Mais duas pessoas subiram no palco, dois garotos fortes. Um deles me chamou a atenção. Tinha o cabelo castanho penteado para trás, olhos incrivelmente azuis e profundos e um maxilar bem marcado. Meus olhos grudaram nele, nem ao menos prestei atenção nos outros dois no palco. O tal moreno de olhos azuis tirou a camiseta e o seu nome foi anunciado por Peter.

- Senhoras e senhores: Bucky "o Soldado Invernal" Barnes! – Peter segurou sua mão no alto e sorriu. A gritaria ficou ainda mais alta.

"O soldado invernal".

Podia ter arrumado um apelido melhor.

O tal Bucky Barnes sorria presunçoso. Um de seus braços fortes era inteirinho tatuado; o desenho era de um braço mecânico e tinha uma estrela vermelha abaixo do ombro.

Um tanto brega, mas era bem feita pelo menos.

O que se destacou mesmo foi o abdômen trincadíssimo. Além de braços fortes, ele tinha um conjunto de tanquinhos bem salientes e um peitoral de matar.

Que corpão.

O cara de megafone, Peter, apresentou o outro garoto, mas nem dei atenção. Ainda estava hipnotizado por aquele corpo e aquele sorriso prepotente.

Tony me cutucou e tomei um susto.

- Sabia que ia gostar, Steve – sorriu sugestivo.

Escolhi ignorar seu comentário e voltei a atenção ao palco. Bucky e o outro se encaravam e caminhavam em círculos. Com um baque feito por uma arminha de brinquedo na mão de Peter, o que não era o "soldado invernal", um loiro tão ou mais malhado que ele, partiu para cima dele desferindo um soco que não o acertou.

O loiro não era tão bonito, mas era bem forte também e tinha uma expressão de raiva.

Uma luta.

Tony tinha me trazido para assistir dois universitários bombados e suados se batendo.

E eu que era o viado.

Os corpos eram malhados e as vezes um barraco era interessante de se assistir, mas aquilo não era bem o que eu tinha em mente para o meu final de semana.

Barnes escapava de cada soco que o loiro mandava em sua direção e mantinha um sorriso de quem sabia que ia vencer.

Se eu fosse apostar, como Tony sugeriu, certamente seria nele.

Finalmente, depois de desviar e acertar alguns golpes, o moreno levou um bom gancho no queixo e caiu para trás. Seu oponente se sentou sobre ele e desferiu diversos socos. Bucky simplesmente deu um impulso e agarrou seu pescoço com as pernas e o puxou para trás. Rapidamente ele inverteu a situação e estava em cima do loiro socando-o.

Foi tão rápido e inesperado que eu mal consegui acompanhar.

Seus olhos azuis pareciam os de um animal selvagem; ele não sorria mais, seus dentes estavam cerrados e sujos de sangue e por entre eles escapavam grunhidos animalescos.

Seus punhos estavam encharcados de sangue alheio, assim como o rosto do loiro abaixo de si. Era uma cena um tanto quanto chocante, mas aquele moreno descontrolado era magnético. De alguma forma perturbadora toda aquela selvageria e violência era uma obra de arte.

Bom, o corpo dele com certeza era.

Assim como eu, a plateia prendeu a respiração diante àquela cena.

Peter correu até os dois e segurou o braço de Bucky Barnes e gritou que ele era o vencedor. O grito enlouquecido da multidão pareceu acordá-lo de um sonho, como se fosse a primeira vez que ele reparava que havia mais gente ali além dos outros dois no palco.

Ele se levantou, o tronco coberto de respingos de sangue alheio e suor. Os cabelos penteados para trás agora caíam nos seus olhos e emolduravam seu rosto. O que o deixou ainda mais bonito, mas de um jeito selvagem e perigoso.

Ele tinha uma aparência do tipo "sou lindo mas vou te matar se se aproximar".

O loiro foi carregado para fora da sala por algumas pessoas, esperava que ele tivesse um bom plano de saúde. Barnes se posicionou no centro do palco para ser ovacionado, o sorriso presunçoso nos lábios de novo.

Ele olhava todos de cima, como se fosse superior a todos que estavam ali. Mas ao mesmo tempo, no fundo daqueles olhos azuis e sorriso metido, era como se ele estivesse ausente, como se não estivesse verdadeiramente ali. Como se aquele corpo fosse uma casca e por dentro fosse oco.

Seus olhos vazios esquadrinharam o auditório e, quando encontraram os meus, ele parou de sorrir.

Cocaine Cowboy | stuckyOnde histórias criam vida. Descubra agora