Breathe

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Acordei com um calor aconchegante ao meu redor e relutei em abrir os olhos. Minha cabeça repousava numa muralha firme porém macia que subia e descia ritmada. Um aperto firme me mantinha preso ali.

Nos braços de James.

Nem nos meus mais loucos devaneios eu poderia imaginar que algo assim poderia acontecer.

Na verdade, desde que me viu com Sam, James vinha agindo estranho e fazendo coisas que eu jamais imaginaria. Como o que fez quando a polícia apareceu no auditório. Foi um dos piores momentos da minha vida adulta! Primeiro que eu nem queria ter ido assisti-lo lutar de novo; aí ainda me apar4ece a policia e me perco do Sam no meio do vuco vuco de gente correndo para todos os lados.

Eu estava a ponto de ter um ataque do coração e cair duro ali, não estava acostumado com tanta adrenalina e desespero. Quando achei que morreria pisoteado e depois teria minha carcaça levada pro xadrez, James apareceu no meio daquele mar de gente e me resgatou.

Poucas outras vezes na minha vida eu fiquei tão assustado quanto naquele dia. Mas também tinha algo um tanto selvagem guardado fundo dentro de mim que despertou naquele momento. Fugir da polícia era aterrorizante, mas também tinha algo de excitante.

Bucky provavelmente já estava um tanto quanto acostumado, tendo em vista que ele reagiu rápido e sabia aonde ir e o que fazer. Não sei de onde saiu aquele quartinho, mas ele salvou nossas vidas.

Sou uma bicha dentro da lei; cresci com militares. Atividades ilegais não faziam parte do meu cotidiano. Quando entramos naquele quartinho, eu me tremi todinho; mal conseguia respirar (especialmente sem fazer barulho). Quando ouvi policiais chegando perto de onde estávamos, eu estava prestes a perder a cabeça. Já tinha ate começado a pensar no que diria no meu depoimento na delegacia. Mas James tomou as rédeas da situação uma vez mais.

Num momento ele estava o mais longe que o espaço reduzido possibilitava, no outro ele estava quase colado a mim e sua mão tapava a minha boca.

Era evidente que suas pupilas dilatadas e o nervosismo eram efeitos da droga. Mas havia algo a mais ali. Algo além da sua personalidade difícil, além das drogas; algo profundo e há muito escondido que finalmente saía à luz.

Quando as vozes dos policiais se afastaram, Bucky se afastou de mim como se eu fosse contagioso. Qualquer coisa que eu tenha visto ali, já tinha sido escondida de novo.

As sirenes mal tinham se afastado e nós já corríamos de volta para casa. Toda a possível "animação" com o perigo tinha se dissipado e só restava o arrependimento de ter saído de casa naquela noite profana. Inclusive deixei isso bem claro enquanto corríamos para casa, mas reclamar me fazia gastar o fôlego que me faria correr mais rápido, então me resignei e ficamos em silêncio.

Mal entramos no apartamento e já desabamos no sofá. Sam me ligou e eu nem ao menos tive forças para atender o celular em outro lugar. Mesmo tendo o tranquilizado na ligação, Sam continuou mandando várias mensagens; o que pareceu irritar James porque ele deu mais um de seus pitis.

Eu já estava mais do que pronto para dar o dia por encerrado quando a chuva começou. Eu não gostava de quando chovia, mas podia sobreviver a isso. Foi quando a tempestade começou que tudo foi por água abaixo. Já estava com os nervos à flor da pele, ainda começou a trovoar para terminar de destruir minha noite.

Mesmo depois de anos, noites de tempestade ainda acabavam comigo. Eu tentava ser forte e maturo, mas a dor era grande demais e nunca diminuía. Eu já lidava bem com o falecimento da minha mãe no dia a dia, mas noites de tempestade acabavam comigo. Era como se eu estivesse de novo ali, naquele quarto precário, segurando a mão tão magra e fraca da minha mãe. Ainda podia me lembrar nitidamente das suas feições retorcidas de dor mesmo que ela tentasse sorrir. Cada trovoada era como ela tossindo, era aquele pesadelo todo de novo.

Cocaine Cowboy | stuckyWhere stories live. Discover now