Rendezvous

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Bucky's POV

Já faziam horas que eu estava ali na cama deitado imóvel, porém inquieto. Tentava ficar o mais inerte possível, concentrado em não existir; talvez se eu ficasse parado o bastante, eu poderia ser esquecido e então apagado da existência. Mas eu não tinha tanta sorte, o universo não tinha terminado comigo ainda.

Tinha medo do que eu faria se me movesse, se levantasse. Depois que o efeito passa, seu cérebro precisa se recuperar da liberação excessiva de receptores de endorfina, então ele não libera nenhum até voltar ao equilíbrio. E era esse o momento mais perigoso, a tão famosa "depressão pós cocaína". Era uma sensação horrível e enervante. Como eu me sentia depois que o efeito passava era um dos motivos de continuar cheirando sem intervalos.

Era uma melancolia aterradora; me sentia a pior pessoa do mundo, um lixo. Era como se toda a tristeza e desesperança do mundo se alojasse nos meus ossos. Não tinha vontade de fazer nada, o menor movimento era um esforço enorme; isso sem falar na irritabilidade e na raiva despropositada. Me sentia incrivelmente culpado por cada coisinha ruim que já tinha feito na vida; sentia o peso da decepção de todos a minha volta curvar as minhas costas. Não tinha forças para nada além de cometer atos contra meu bem-estar ou buscar mais pó para não me sentir mais assim.

É assim que ficamos viciados. Primeiro procuramos algo recreativo, algo para nos manter de pé por todo o role; porque não é tão divertido com só alguns drinques. Então você vai usando cada vez mais, vira um escape. E quando você vê, se apoia na droga para lidar com tudo, ela vira seu mediador com o mundo externo, uma camada protetora. Nada mais parece ter a mesma diversão sóbrio, tudo parece desbotado ou demais.

Se você para o efeito passa, e você sente tudo aquilo de que estava fugindo, mas com muito mais intensidade. Você sente todos os sentimentos ruins de uma só vez, se sente mais sozinho que nunca. Você finalmente vê a verdade sobre o que se tornou e é demais para suportar. Então você precisa de mais.

Agora, se somarmos isso a toda culpa por ter enfiado os esforços de Nat e Clint no cu, a culpa esmagadora pelas demais coisas que fiz e a ansiedade, temos meu estado atual.

Meu coração batia como um tambor ensandecido, meu sangue corria como um rio de gelo pelas minhas veias. Meu corpo todo tremia, o suor frio encharcava meu lençol e eu fazia um grande esforço para conseguir respirar.

Isso tudo faz você pensar que uns momentos bons e eufóricos não valem tudo isso. Mas você sabe que vai fazer de novo.

Dessa vez não se tratava apenas de uma simples falta de hormônio (e caráter). Era muito mais e não tinha só a ver com drogas.

Eu tinha fudido tudo como nunca antes. Cruzado uma linha proibida da qual não teria mais volta. Fui mais longe do que poderia sequer imaginar e não havia nada que eu queria mais do que poder voltar atrás.

Me sentia culpado, sujo, errado. Um traidor e uma fraude.

Mas por baixo de tudo isso, havia algo que estava finalmente livre e correntes partidas.

Esse era o pior.

Eu me sentia culpado, e muito, mas será que realmente me sentia arrependido?

As cenas se passavam de novo e de novo na minha cabeça num looping torturante e sem fim. Só queria um pouco de paz, mas minha mente tinha planos diferentes para mim. Revivi o momento desde que ele terminou até agora. Quanto mais eu tentava não pensar nisso, mais nitidamente eu via o desenrolar de acontecimentos, como um filme diante de meus olhos. E cada vez me sentia pior, cada vez mais eu sentia um maior embrulho no estômago, um peso no peito e um nó na garganta.

Cocaine Cowboy | stuckyWhere stories live. Discover now