Palo Santo

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Pela quarta noite seguida eu encarava o teto do quarto de hóspedes de Nat e Clint; pelo quarto dia não conseguia dormir e meus pontos ainda doíam.

Natasha nem parou para considerar, quando eu pedi para ir para a sua casa ela apenas apertou meu ombro com carinho e me ajudou a arrumar uma mochila. Viemos para sua casa logo em seguida e eu não podia ter ficado mais aliviado por não ter encontrado com Barnes. Enquanto Nat me levava para sua casa, Clint cuidava dele; quando chegou, não tocou no assunto nenhuma vez. Não na minha frente pelo menos.

Aparentemente quando a briga começou, a notícia se espalhou como fogo em palha e metade do campus correu para assistir. Eu estava tão absorto na briga que nem ao menos reparei. A notícia chegou rápida no refeitório; Natasha ficou encarregada de mim, Clint de James e Tony de dispersar a plateia.

Até mesmo Sam ficara sabendo. Me ligou a tarde toda, mas eu não tinha vontade de falar com ninguém. Apenas avisei que estaria na casa de Nat e queria um pouco de espaço. Samuel respeitou minhas vontades e só mandava uma mensagem ou outra para saber se eu estava vivo.

No dia seguinte ao ocorrido, fiz uma visita ao hospital. Tomei uns pontos e acertaram meu nariz. Cada vez que pisava fora de casa um medo irracional se instaurava em meus ossos, a todo momento achava que ia dar de cara com Barnes e isso era aterrorizante; tão aterrorizante que eu não conseguia nem respirar. Acabei faltando na aula, me faltavam forças para sair da cama e quando finalmente conseguia por os pés para fora da casa, o medo me paralisava. No terceiro dia, Natasha praticamente me chutou para fora e Clint me garantiu que não encontraria James pelo caminho e me acompanhou até a sala. E de fato não o tinha encontrado por todos esses dias.

Por todos os lugares que eu passava podia ouvir sussurros sobre a briga. Metade do campus passou a me venerar por ser o cara que "arregaçou o Soldado Invernal" e a outra metade me odiava pelo mesmo motivo.

Não sabia qual era pior.

Eu evitava ao máximo pensar em James Barnes. Não só por ele ter me magoado profundamente, mas também porque cada vez que lembrava, uma onda de vergonha me inundava. Estava envergonhado do que fiz. Já tinha feito muita merda das quais me arrependia na vida, mas nada se comparava. Era um sentimento avassalador.

Só se equiparava à magoa que ainda sentia. Não era de guardar rancor, mas ainda não conseguia desapegar da raiva.

Tentava ocupar a cabeça com qualquer coisa. Só saía de casa para assistir aula e nada mais, isso quando ficava ate o fim do período. Passava o dia estudando, arrumando a casa e fazendo comidas elaboradas para meus anfitriões. E quando não estava fazendo isso, importunava Sharon para ter noticias de Peggy. Ela ainda estava na UTI, mas já estava um pouco melhor, com um quadro mais estabilizado e promissor. Um alívio muito bem-vindo.

Nat e Clint não me questionaram sobre Barnes ou a briga nenhuma vez, não tocaram no assunto. Não fingiam que nada tinha acontecido, apenas esperavam o momento em que eu quisesse falar.

Momento esse que não chegaria.

Mais cedo ou mais tarde teria que lidar com tudo isso, mas eu só queria me esconder disso um pouco. Lidaria quando não pudesse mais fugir.

Não era das atitudes mais nobres, mas era o que eu podia fazer.

Quatro horas da manhã e desisti de dormir. Tomei um banho gelado, arrumei minhas coisas, fiz a sobrancelha (só de um lado porque o outro estava com pontos ainda), e fiz um enorme café da manhã. Quando terminei, Clint estava saindo para correr.

Tomamos café juntos e acabai saindo com ele para correr. Clint era um cara quieto; falava muito e era engraçado em situações sociais ou se alguém puxasse papo. Mas se você só queria uma companhia para ficar de boa e em silêncio, ele era o cara certo. Conversamos amenidades enquanto comíamos, mas durante a corrida ficamos em completo silêncio. Aquele era seu momento de paz interior e tornei-o meu também.

Cocaine Cowboy | stuckyHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin