Capítulo 1

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"Você cuidaria de uma alma quebrada?" — Take me home // Jess Glynne

     Chovia do lado de fora. Uma chuva forte com relâmpagos e fortes trovões. Era madrugada de sábado e eu estava em meu quarto, deitada em minha cama e olhando pro teto. Minha avó, com quem eu morava, estava dormindo, mas a ansiedade, como sempre, não me deixava fazer o mesmo. Eu era uma garota problemática desde os 15 anos e a insônia era resultado disso.

     Me virei na cama em uma tentativa frustrada de achar uma posição boa o bastante para dormir e, por fim, me levantei, dando-me por vencida. Não sei porque eu ainda tentava. A minha ansiedade sempre vencia essa batalha. Peguei o celular na mesa do computador e olhei a hora. Ainda eram 3h00 da manhã. Suspirei e entrei no whatsapp para ver os status de alguns contatos. Não vi nada de interessante, então fui ver a última vez em que meu único e melhor amigo esteve on-line. 23h46m. Mandei um bom dia antecipado para ele e aguardei por uns instantes, mas, como ele não respondeu, deixei o celular de lado e voltei para a cama sentindo um nó se formar em minha garganta.

     Sentia saudades dos meus pais, entretanto eu só podia vê-los em alguns finais de semana. Eu morava com minha avó desde que tinha acabado o ensino médio. Ela precisava de companhia e eu prontamente me ofereci para cuidar dela. O fato é que eu queria mudar os hábitos para ver se eu me sentia melhor, mas a verdade é que eu continuava me sentindo um lixo. Desde que terminei meus estudos na escola nenhum dos meus "amigos" de lá se importava em falar comigo e agora eu não tinha muito o que fazer. Exceto ficar com minha avó e raramente receber a visita de Pedro. As visitas eram raras porque minha avó era um pouco antipática e não gosta dele. Não sei o motivo. Talvez seja por causa de suas tatuagens nos braços ou por sua moto. Talvez eu nunca saiba.

     Tentei dormir de novo, após derramar algumas lágrimas lembrando de tudo que dava errado na minha vida, finalmente consegui dormir.

     Quando acordei a chuva já tinha dado uma trégua e passarinhos cantavam no jardim. Um cenário lindo, porém eu não conseguia me sentir feliz mesmo com tamanha beleza. Aquele belíssimo sol depois da chuva não iluminava nada dentro de mim que continuava escuro, vazio e triste.

     Saí do meu quarto e desci as escadas para preparar o café da manhã. Fiz um suco de manga sem açúcar e coloquei geleia de maçã em um pão e requeijão em outro e pus tudo em uma bandeja para logo em seguida subir para o quarto da minha avó. Ela já estava acordada e olhava com uma expressão perdida para a janela.

— Bom dia, vovó — falei, tentando soar o mais animada possível, porém eu não estava. Só não queria contaminá-la com minha tristeza.

— Bom dia, Eveline — ela disse. Me esforcei para não revirar os olhos. Eu já morava com ela há dois anos, porém ela sempre errava meu nome.

— É Evelyn, vovó.

— É tudo a mesma coisa, querida.

     Eu queria dizer a ela que não era a mesma coisa, mas não disse nada.

— Dormiu bem? — perguntei.

— Eu pelo menos dormi ao contrário de você que ficou passeando pela casa até tarde.

— Desculpe — respondi. — Eu só não conseguia dormir.

— Tudo bem, Eveline. Depois que eu consegui dormir não ouvi mais nada.

     Dessa vez revirei os olhos.

— Por que não sai um pouco? Tá um dia tão bonito lá fora.

— Prefiro ficar aqui, vovó.

— Ora, minha neta, você fica o tempo todo aqui com essa velha chata vá se divertir um pouco.

Um Toque do DestinoWhere stories live. Discover now