Capítulo 4

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"Continuam me dizendo que tudo vai melhorar. Será que vai mesmo?".  — In my blood // Shawn Mendes

    Gabriel recebeu alta logo cedo pela manhã no outro dia. Segundo a médica, como ele não havia tido fraturas graves, estava apto para voltar para casa.

— Onde você mora? — perguntei para ele, enquanto ele se vestia.

— Num bairro não muito longe daqui — ele disse.

    Assenti enquanto olhava por uma janela do quarto. Estava chovendo desde a noite passada e não havia pessoas caminhando dentro dos limites dos muros do hospital.

— Vamos ter que pegar um táxi, Gabriel. — eu disse. — Com essa chuva vai ser difícil esperar o ônibus passar...

— Tudo bem. — respondeu o rapaz, pondo o capuz de seu casaco preto.

    Ele parecia distraído. Seus olhos negros estavam brilhando e demorei um pouco para me dar conta de que ele estava chorando.

— O que aconteceu? — perguntei, aproximando-me dele.

— Eu... não sei. Eu só... tá tudo tão sem sentido.

— Ei, Gabriel — disse eu. — Vai ficar tudo bem.

— Não vai, Evelyn — ele disse, alto.

— Eu vou está aqui se nada ficar bem. Confia em mim.

    Ouvi um soluço vindo de Gabriel e cortei a distância que havia entre nós o abraçando. Ele pareceu surpreso de imediato, mas depois retribuiu o meu abraço.

— Eu já confiei tanto nas pessoas e olha onde eu estou agora — ele balbuciou.

    Apertei meus braços contra o corpo dele e encostei minha cabeça em seu peito. Ele era um pouco mais alto que eu. Na verdade, ele era muito mais alto que eu. Eu odeio admitir isso, mas eu me sentia muito pequena nos braços dele.

— Eu vou levar você pra casa, tá bom? — falei.

— Eu que deveria levar você pra casa, Evelyn.

    Eu não disse nada, apenas permaneci abraçada a ele. Estava tão distraída que não prestei atenção a porta se abrindo.

— Bom dia. — Ouvi uma mulher dizer. Me afastei de Gabriel e tentei sorrir para ela.

— Bom dia.

— Antes de vocês irem eu gostaria de falar com o rapaz, pode ser?

   Olhei para Gabriel e ele concordou com a cabeça.

— Eu falo com ela, Evelyn. Pode deixar.

— Tudo bem. Eu vou te esperar lá fora, okay? Qualquer coisa é só me chamar.

     A mulher sorriu para mim e eu saí para fora do quarto. Sentei-me numa cadeira e suspirei. Eu estava cansada. Havia passado toda a noite acordada velando o sono de Gabriel. Eu estava cansada, era verdade, mas se fosse preciso eu faria tudo de novo. Eu não conhecia Gabriel, mas de alguma forma eu me sentia responsável por ele. Como se Deus, o destino ou sei lá o quê, me amarrasse a ele.

    Peguei meu celular no bolso e depois de pensar um pouco resolvi ligar para Pedro. Liguei duas vezes, mas ele não me atendeu. Liguei uma terceira vez e ele finalmente atendeu.

— Bom dia — ele disse, mal humorado.

— Desculpa por ontem — eu disse, enquanto ouvia um trovão quebrar o silêncio em que o hospital se encontrava naquela manhã.

Um Toque do DestinoWhere stories live. Discover now