Capítulo 11

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"Você racionaliza meus pensamentos sombrios. Sim, você os liberta." — Take me home - Jess Glynne 

    Eu já tinha mandado mais de vinte mensagens para Gabriel e havia ligado várias vezes também. Eu já estava ficando preocupada. Queria confirmar o nosso acampamento para aquela noite, mas ele estava me ignorando.

— Talvez ele esteja trabalhando — minha mãe disse. Meu pai já estava em casa e voltaria mais tarde com as coisas da minha mãe.

     Neguei com a cabeça diante da afirmação dela.

— Hoje é o dia de folga dele, mãe.

— Então talvez ele esteja dormindo.

— Eu acho que não. Eu preciso ir na casa dele. Me dá dinheiro pro ônibus.

— Evelyn...

— Por favor!

    Minha mãe suspirou e, depois de pegar sua bolsa no sofá, tirou dinheiro suficiente para um táxi e me entregou.

— Tenha juízo — falou.

    Sorri para ela e beijei-lhe a bochecha.

— Você é a melhor!

     Ela riu do meu gesto e fez sinal para que eu saísse logo. Era bom ver minha mãe sorrindo. Ela estava muito abatida pela morte da minha avó e vê-la esboçar um sorriso era bom.

     Saí de minha casa e depois de andar um pouco até a outra rua, peguei um táxi e fui até a casa de Gabriel. O portão estava aberto, então entrei sem chamá-lo.

— Gabriel? — eu disse, quando entrei na casa. Ele não me respondeu. Fui em direção ao quarto dele e ele não estava lá. — Gabriel! — chamei de novo. Ele continuou sem responder, mas eu ouvi um choro vindo de um cômodo que descobri ser o banheiro quando me aproximei.

     A porta estava aberta e Gabriel estava sentado no chão só de cueca com um estilete vermelho na mão, enquanto chorava. Havia umas três garrafas de bebida alcoólica espalhadas pelo chão. Me aproximei dele devagar e vizualizei seus pulsos cortados. Fechei meus olhos com força e quando os abri novamente Gabriel me olhava com os olhos cheios de lágrimas.

— O que está fazendo aqui, Evelyn? — perguntou com a voz embargada pelo choro e talvez pela bebida também.

     Tirei o estilete das mãos dele devagar e o joguei para longe.

— Você não precisa fazer isso — falei, sentando-me ao lado dele.

— Eu sei — ele disse. — Você vai me julgar?

     Neguei com a cabeça e o puxei para deitar em meu colo. Ele chorou. Eu não sabia se ele estava chorando pelos cortes ou outro motivo, mas ele chorava alto como eu nunca havia visto ele ou qualquer outro alguém chorar antes.

— Eu quero morrer, Evelyn. Me deixa morrer. — Soluçou.

— Não — falei, tentando controlar o meu próprio choro. — Você não vai a lugar nenhum, entendeu? Eu não quero perder você.

— Tá doendo, Evelyn. Tá doendo muito.

— O que tá doendo, Gabriel? Me deixa te ajudar. Me fala o que eu posso fazer, só não fica assim, por favor.

— Tá doendo aqui dentro. — Ele apontou pro próprio peito.

— O que aconteceu? — perguntei.

     Ele levantou a cabeça do meu colo e me encarou. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar.

— Hoje faz quatro anos que meus pais morreram. Faz quatro anos que viver já não tem sentido pra mim. Tá doendo pra caramba!

Um Toque do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora