Capítulo 8

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"Você me abraçaria agora?" — Take me home -  Jess Glynne

    Passei por Pedro, mas antes que eu pudesse abrir a porta para entrar ele segurou meu braço e me virou de frente para si.

— Me solta — falei.

— Evelyn, por que você tá molhada? Onde você estava com aquele cara?

— Me solta, Pedro. Não é da sua conta.

— Claro que é da minha conta, Lyn. Você é minha amiga.

— Pode até ser, mas eu não lhe devo satisfações da minha vida.

     Pedro me soltou e esmurrou a parede da casa.

— Que droga, Lyn. Onde você estava?

— Me deixa em paz e vai atrás daquela sua loira oxigenada — eu disse com toda a raiva que acumulei.

     Pedro me olhou por um instante e depois sorriu. Senti vontade de esmurrar aquele sorriso da mesma maneira que ele esmurrou a minha parede.

— Você tá com ciúmes? — perguntou.

— O que você acha? — gritei, em frustração.

    O sorriso de Pedro se alargou.

— Ora, Lyn. Não precisa ficar com ciúmes. Você vai continuar sendo a minha melhor amiga mesmo depois que eu namorar a Jennifer.

— Ah, que droga Pedro! Vai à merda.

    Ele segurou no meu braço de novo e me lançou o mesmo olhar mortal de quando me viu com Gabriel.

— Só depois de me dizer o que estava fazendo com aquele cara.

— Eu não estava fazendo nada com Gabriel e mesmo se eu estivesse não seria da sua conta! Agora me deixa em paz. — Puxei meu braço com toda a força que adquiri com a raiva e Pedro me soltou, parecendo magoado.

— Lyn...

    Entrei sem esperar pelo que ele ia dizer e fechei a porta atrás de mim. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu me neguei a chorar por causa de Pedro outra vez.

     Subi as escadas em direção ao meu quarto e fui direto para o banheiro onde tirei a roupa molhada e tomei um banho quente. Depois do banho, vesti uma roupa confortável e me deitei na cama. Dormi em questão de minutos.

     Era por volta das 18:30 quando acordei com um pressentimento estranho. Eu estava sentindo algo, mas eu não sabia definir o que era. Era como uma angústia. Mas por que eu estava angustiada? Levantei da cama sentindo o vento de fim de tarde que entrava pela janela do meu quarto e desci as escadas ainda meio sonolenta. O andar de baixo estava calmo e silencioso.

— Vó? — chamei.

     Minha avó não estava em lugar nenhum, o que me fazia pensar que ela estivesse no quarto dela. Fiz o jantar enquanto cantarolava uma música baixinho para afastar aquela angústia que eu estava sentindo. Depois de tudo pronto eu subi as escadas para chamar minha avó.

     Bati na porta levemente e, como não obtive resposta, entrei devagar no quarto escuro iluminado apenas pelas luzes de fora que entravam pela janela do quarto. Minha avó estava deitada sobre à cama de barriga para baixo.

— Vó — chamei. Ela não respondeu. — Vó! — chamei de novo, dessa vez mais alto. Ela continuou em silêncio.

     Fui em direção ao interruptor e acendi a luz do quarto. Me aproximei da cama de minha avó e toquei em seu braço descoberto. Ela estava fria. Senti as lágrimas inundarem meus olhos enquanto balançava o corpo de minha avó pedindo para que ela acordasse. Mas ela não ia acordar. Nunca mais.

    ***

     Meus pais chegaram na cidade no outro dia de manhã cedo. O corpo de minha avó foi levado pro hospital na noite anterior, mas já era tarde demais, segundo os médicos. Ela já estava morta. Vítima de um ataque cardíaco. Eu não parei de chorar um só segundo e passei a noite em claro. Pedro não me mandou mensagem, nem me ligou. Eu mandei uma mensagem pra ele dizendo o que tinha acontecido, mas ele nem sequer vizualizou. Ele sumiu no momento em que eu mais precisei dele.

— Evelyn, filha vem aqui.

     Olhei para meu pai com os olhos cansados e me aproximei dele que me abraçou. Minha mãe estava abraçada ao caixão de minha avó enquanto chorava. Ela havia perdido a mãe. Eu não conseguia e nem queria imaginar a dor que ela estava sentindo naquele momento.

— Vai ficar tudo bem, okay? — Meu pai beijou o topo da minha cabeça e eu fechei meus olhos desejando que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo e que minha avó ainda estivesse viva.

— Eu tinha brigado com ela... Eu não pude me despedir. Eu...

— Ela te amava, meu amor.

— Eu sei, pai... — falei. — Eu vou ficar bem. Vai abraçar a mamãe. Ela precisa de você.

    Meu pai concordou e se afastou de mim devagar. Eu peguei meu celular e decidi ligar para Pedro. Me afastei das poucas pessoas que se encontravam ali na sala e disquei o número dele. Depois de chamar várias vezes ele finalmente atendeu.

— Evelyn, eu tô com a Jennifer agora, mais tarde eu ligo pra você, pode ser? — Senti mais lágrimas inundarem meus olhos e desliguei o celular sem respondê-lo.

    A angústia dilacerava o meu coração naquele momento e eu me vi soluçar umas três vezes antes de finalmente me recompor e ir para junto dos meus pais. O velório durou cerca de duas horas apenas e depois as pessoas que estavam ali, incluindo minha mãe e meu pai, seguiram para o cemitério com o corpo. Eu prefiri ficar em casa sozinha com meus próprios pensamentos.

    Subi para o meu quarto totalmente abatida e liguei para Gabriel quando o choro deu uma trégua naquela manhã. Ele atendeu no terceiro toque.

— Evelyn? Bom dia...

     Havia muito barulho de pessoas. Ele devia está trabalhando.

— Bom dia, Gabriel — falei.

— O que aconteceu, Evelyn? — ele perguntou, parecendo preocupado.

    Respirei fundo para segurar as lágrimas, mas fui incapaz de reprimir um soluço e novamente eu já estava chorando descontrolada.

— O que aconteceu, Evelyn? — ele perguntou de novo.

— Minha avó... — falei. — Ela faleceu ontem.

— Oh, Evelyn eu... eu sinto muito! Você tá em casa?

— Sim. — Chorei.

— Eu tô indo aí agora.

— Não Gabriel, eu não quero que você pare de trabalhar por minha causa.

— Chego aí em quinze minutos.

— Gabriel...

     Ele não esperou pela minha resposta. Desligou antes disso e como prometido chegou em minha casa em quinze minutos. Eu abri a porta da casa com lágrimas nos olhos e ele me abraçou sem dizer nada.

— Tá doendo tanto — falei.

     Gabriel afagou meu cabelo com as mãos e beijou o topo da minha cabeça. Ele talvez não soubesse o que dizer, mas para mim contava muito apenas o fato dele está ali comigo naquele momento.

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