DOMINIC

6.8K 614 57
                                    


Eu gargalhei.

Pela primeira vez em dois anos, eu gargalhei sem esforço nenhum.

Eu ainda estava sentado dentro do meu carro e já fazia dez minutos desde que Júpiter saiu apressada do estacionamento. Eu não tinha a menor ideia de que porra era aquela pairando entre nós, mas era perigoso. Júpiter estava além do meu alcance. Eu nunca tinha visto alguém tão honestamente transparente. Ela era uma brisa fresca. Uma brisa fresca que recitava A Divina Comédia e andava descalça pela minha empresa. Era apenas demais. Bufando, liguei o carro e fui para casa.

Quando cheguei, agradeci aos céus por ter uma empregada tão excepcional que me deixava o prato do jantar todos os dias em que sabia que eu chegaria tarde. Olinda era minha segunda mãe. Liguei o som e comecei a comer com Rolling Stones de música de fundo. Não demorou muito para que Gael entrasse sem bater na porta.

- E aí, cara? – Ele perguntou, indo até a geladeira em busca de algo novo.

- E aí? – Respondi, e o olhei com estranheza quando ele se sentou ao meu lado com um copo de suco ao invés de uma cerveja. Respirei fundo. Vinha merda por aí. – Fala de uma vez.

- Credo, porra, eu não posso só querer beber um delicioso suco de... – Ele falou inalando o conteúdo do copo e fazendo uma careta logo em seguida. Ri com gosto. – Que porra é essa?

- Couve, tomate e limão. – Respondi, afastando o prato vazio da minha frente.

- Isso se chama salada, Dominic. – Gael falou colocando o copo longe de si. – Normalmente a gente come salada, não bebe, seu animal. – Ele falou, horrorizado.

- Para de enrolar e fala logo, Gael. – Eu mando e ele me olha com receio.

- O que aconteceria se eu supostamente tivesse aceitado um projeto que nos daria muito lucro e crescimento no mercado? – Ele perguntou, me olhando. Dei de ombros, não entendendo seu ponto.

- Eu te desejaria parabéns e boa sorte. – Declarei.

- Obrigado. – Ele agradeceu.

- Não era uma suposição? – Perguntei, querendo saber onde aquilo levaria.

- Sim, sim, é claro. – Ele emendou. – Mas, vamos supor que eu tivesse garantido que apenas os nossos melhores arquitetos estariam cuidando desse projeto, mais especificamente que você tomaria a frente. – Ele continua e cruzo os meus braços. – E, assim, vamos supor, muito remotamente – ele garante – que esses clientes fossem os Golveias.

- Que porra você fez, Gael? – Eu pergunto, com raiva borbulhando em cada palavra. Os Golveias eram quase meus inimigos declarados. A família de engenheiros eram clientes proibidos porque eles jogavam sujo no mercado e não tinham comprometimento algum. Conseguiram ascender por conta da carteira gorda do pai, que bancava todos os gastos astronômicos dos projetos dos filhos.

- Não me mata, mano. – Ele pede, se afastando da mesa. – Parece que o Golveia pai ficou de saco cheio de bancar os marmanjos e disse que a única forma de investir no projeto era se nós participássemos e guiássemos tudo. Ele nos ofereceu uma grana astronômica e o projeto é muito interessante. Eles vão bater a marca da construção do maior edifício do Brasil. – Gael falou, sem me dar a chance de falar.

- Não. Eu não quero a Riviera metida na sujeira deles. Seja lá o que você tenha feito, desfaça. – Eu mando, apontando um dedo em sua direção, enquanto tiro minha gravata.

- Dominic, o Golveia garantiu que até mesmo as autoridades estarão envolvidas. Os filhos não vão sair da linha. E é uma oportunidade única. – Gael explica e eu bufo. – O contrato nos protege por todos os lados e o Golveia foi além de generoso caso algo dê errado e os filhos imbecis façam merda. Amanhã levo o contrato para você. – Ele fala, caminhando até a porta, tentando sair de fininho.

- Eu ainda te mato. – Eu falo, para a sala vazia, o maldito já foi para seu apartamento. Sigo para meu quarto, tomo um banho quente, para a ajudar com a dor de cabeça infernal que meu primo me causa, escovo os dentes e vou para o escritório trabalhar. Antes que eu consiga abrir o primeiro documento para análise, da filial do Canadá, meu telefone vibra. Olho para o identificador e reviro os olhos.

- Fala, Gael.

- Vai valer a pena, cara. – Ele diz, sério e sei que é verdade. Ele não nos arriscaria assim. Confiava nele mais do que confiava em mim mesmo.

- Eu sei. – Digo, sucinto, e desligo a chamada. Checo rapidamente minhas mensagens e fico surpreso ao ver uma mensagem de Eva em meu WhatsApp. Como foi que essa mulher conseguiu meu número?

"Oi Dom, sou eu, Eva. Estou mandando essa mensagem para que você possa salvar meu número para o caso de precisar falar comigo diretamente. Saudades. Muitas ;) tenha uma ótima noite. Beijinhos."

Beijinhos? Ela estava falando sério? Bufei.

Espantando todos os pensamentos, voltei a trabalhar. 

O UNIVERSO ENTRE NÓS  - COMPLETOWhere stories live. Discover now